Secretário de Alckmin afirma que situação de hoje é melhor do que a do início do ano passado
Promotor e defensor público criticam operação; Estado firma convênio com ONG para tratar dependentes
A menos de 20 metros dali, na alameda Cleveland, seis policiais revistam um casal, sem se preocupar com a intensa movimentação dos usuários de crack e com a venda de drogas logo ao lado.
A situação acima relatada persiste na região que ficou conhecida como cracolândia e há um ano recebe uma operação integrada dos governos estadual e municipal.
No período, conforme dados atualizados ontem pela Secretaria da Justiça, 1.363 usuários de drogas foram internados e 763 pessoas foram presas em flagrante.
Foram pouco mais de duas prisões por dia, a maioria delas, segundo defensores e promotores ouvidos pela Folha, de pequenos traficantes que revendem as drogas para sustentar seus vícios.
"A operação foi mal elaborada, mal pensada e mal conduzida. Os resultados são os piores possíveis", critica o promotor Artur Pinto Filho, da área de saúde pública.
No início dos trabalhos, em janeiro do ano passado, era comum ver policiais impedindo aglomeração de usuários. Em algumas ocasiões, os policiais atiraram bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar a multidão.
"A operação é um fracasso porque ela consistiu basicamente na intervenção policial", diz o coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria, Carlos Weis.
Até para conter essa truculência, o governo decidiu que os PMs não poderiam mais usar esses artefatos para dispersão das pessoas. Agora, a ação dos policiais é de abordar suspeitos de crimes e, no caso de irregularidades, conduzi-los a uma delegacia.
SEM ILUSÃO
"Não temos a ilusão de que a cracolândia acabou, mas a situação de hoje é melhor do que a de um ano atrás", afirma o secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia.
No ano passado, a polícia estimava que havia cerca de 2.000 usuários circulando diariamente pela região. Hoje, os PMs que atuam lá dizem que há em torno de 400.
Para tentar reduzir essa multidão que ainda persiste, o governo do Estado firmou, no mês passado, um convênio com a ONG Missão Belém para acolher usuários de drogas da região central.
Quem coordena os trabalhos é o padre Gianpietro Carraro, que há 12 anos trabalha com a população de rua.
Todos os dias 50 agentes da ONG, que já foram usuários de droga, circulam pelo centro e tentam convencer usuários a serem internados em uma casa da entidade.
"Nosso agentes falam a mesma língua dos dependentes. Esse é um trabalho de persistência", comenta Carraro.
A operação, diz o governo, não tem data para acabar.
HISTÓRICO
Corporação anuncia que restabelecerá ordem na cracolândia, tomada por 2.000 dependentes químicos
4.JAN.2012
Usuários passam a perambular pela região central. PM impede concentração de usuários
"Em 30 dias a polícia vai identificar traficantes e cortar a chegada de crack na região"
ÁLVARO CAMILO
então comandante da PM
8.JAN.2012
Polícia dispersa usuários com bombas de efeito moral e tiros de borracha. Diante da repercussão negativa, desiste
26.JAN.2012
Cracolândia não existe mais, diz governo
"A cracolândia já acabou"
ELOISA ARRUDA
secretária da Justiça
3.DEZ.2012
Governo faz parceria com para internar usuários. Tráfico e circulação de dependentes persistem; governo diz que número de usuários caiu
NÚMEROS DA AÇÃO
1.363pessoas foram internadas
152.995
abordagens sociais, por guardas e agentes de saúde
100,8 kg
foi a quantidade de droga apreendida
Nenhum comentário:
Postar um comentário