ZERO HORA - 30/01/2013
As pessoas se preocupam em ser simpáticas, mas pouco se esforçam para
ser empáticas, e algumas talvez nem saibam direito o que o termo
significa. Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de
compreendê-lo emocionalmente. Vai muito além da identificação. Podemos
até não sintonizar com alguém, mas nada impede que entendamos as razões
pelas quais ele se comporta de determinado jeito, o que o faz sofrer, os
direitos que ele tem.
Nada impede?
Foi força de expressão. O narcisismo, por exemplo, impede a empatia.
A pessoa é tão autofocada, que para ela só existem dois tipos de gente:
os seus iguais e o resto, sendo que o resto não merece um segundo
olhar. Narciso acha feio o que não é espelho.
Ele se retroalimenta de aplausos, elogios e concordâncias, e assim
vai erguendo uma parede que o blinda contra qualquer sentimento que não
lhe diga respeito. Se pisam no seu pé, reclama e exige que os holofotes
se voltem para essa agressão gravíssima. Se pisarem no pé do outro, é
porque o outro fez por merecer.
Afora o narcisismo, existe outro impedimento para a empatia: a
ignorância. Pessoas que não circulam, não possuem amigos, não se
informam, não leem, enfim, pessoas que não abrem seus horizontes
tornam-se preconceituosas e mantêm-se na estreiteza da sua existência.
Qualquer estranho que possua hábitos diferentes será criticado em vez de
respeitado. Os ignorantes têm medo do desconhecido.
E afora o narcisismo e a ignorância, há o mau-caratismo daqueles
que, mesmo tendo o dever de pensar no bem público, colocam seus próprios
interesses acima do de todos, e aí os exemplos se empilham: políticos
corruptos, empresários que só visam ao lucro sem respeitar a legislação,
pessoas que “compram” vagas de emprego e de estudo que deveriam ser
conquistadas através dos trâmites usuais, sem falar em atitudes
prosaicas como furar fila, estacionar em vaga para deficientes, terminar
namoros pelo Facebook, faltar compromissos sem avisar antes, enfim,
aquelas “coisinhas” que se faz no automático sem pensar que há alguém do
outro lado do balcão que irá se sentir prejudicado ou magoado.
É um assunto recorrente: precisamos de mais gentileza etc. e tal.
Para muitos, puxar uma cadeira para a moça sentar ou juntar um pacote
que alguém deixou cair, basta. Sim, somos todos gentis, mas colocar-se
no lugar do outro vai muito além da polidez e é o que realmente pode
melhorar o mundo em que vivemos. A cada pequeno gesto diário, a cada
decisão que tomamos, estamos interferindo na vida alheia. Logo, sejamos
mais empáticos do que simpáticos.
Ninguém espera que você e eu passemos a agir como heróis ou santos,
apenas que tenhamos consciência de que só desenvolvendo a empatia é que
se cria uma corrente de acertos e de responsabilidade – colocar-se no
lugar do outro não é uma simples gentileza que se faz, é a solução para
sairmos dessa barbárie disfarçada e sermos uma sociedade civilizada de
fato.
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