quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Tereza Cruvinel - Dilma e Lula‏

Se cada um dos três candidatos a líder do PMDB tiver os votos que alardeia, a bancada terá muito mais de 100, em vez de 79 deputados. O Planalto quer se manter fora disso, bem como da eleição para as presidências da Câmara e do Senado 

Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 24/01/2013 
Tem tudo para não acontecer amanhã, em São Paulo, o encontro entre a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva. O noticiário dos últimos dias foi pródigo em referências a uma suposta tutela de Lula sobre os governos petistas derivados de sua varinha de condão eleitoral, como o dela e o de Fernando Haddad na prefeitura paulistana. Por isso mesmo o encontro deve ser adiado, ouve-se nas cercanias da presidente. Nessa hora em que começa a vestir a indumentária de candidata à reeleição, e até retoca o visual com umas luzes no cabelo, Dilma precisa afastar a imagem de pupila, embora tenha tido sempre as rédeas do governo.

Quando ela tomou posse, eles combinaram ter um encontro mensal. Nunca deixaram de fazer isso, mesmo quando ele esteve doente. Mas para adiar o de amanhã, que nunca entrou na agenda oficial, Dilma tem uma boa desculpa. Estará em São Paulo para participar de evento pelo aniversário da cidade, que coincide com o do novo prefeito. Eles firmarão parcerias para entregar aos paulistanos um pacote de benefícios nas áreas de educação, habitação e saúde. No mesmo dia, ela embarca para o Chile, onde participa da cúpula de governantes da América Latina e Caribe. Agenda apertada, poderá dizer. Ademais, Lula também estaria achando o encontro inconveniente, depois das críticas à reunião que teve com secretários de Haddad, da presença de dois ministros de Dilma no evento com acadêmico latino-americanos que ele promoveu e do acampamento de sem-terras na frente do Instituto Lula cobrando uma ação fundiária do governo Dilma. O importante já foi dito na segunda-feira: ele não será candidato, mas atuará na costura das alianças e no gerenciamento político da campanha, emprestando a Dilma sua intuição política e seu carisma. O resto é secundário agora.

Dilma e os prefeitos

Com o Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas (observada a flexão de gênero no nome oficial do evento) que o Palácio do Planalto realiza na semana que vem, em Brasília, o governo caça vários passarinhos. No plano imediato, reduzir as tensões federativas, que se avolumaram na gestão Dilma. Candidata inegável à reeleição, ela falará a potenciais cabos eleitorais sobre as vantagens da boa relação com o governo federal. E há também um desafeto na caçada, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, que não foi convidado. O evento vem sendo organizado, sem mediadores, pela Secretaria de Relações Institucionais do Gabinete Civil. Foi num encontro organizado por Ziulkoski que Dilma foi vaiada pela maioria dos prefeitos quando anunciou que não faria um mero rateio dos royalties do petróleo. Depois, ele muito contribuiu para a derrota do governo em pontos da lei sobre o assunto, que Dilma acabou vetando, o que gerou outros problemas no Congresso. Ziulkoski critica o encontro, que chama de “engodo de bondades”. Buscando a linha direta com as prefeituras, o Planalto espera liquidar com a influência do desafeto. Na segunda-feira, Dilma despachou com alguns dos 20 ministros escalados para apresentar aos prefeitos as possibilidades de parceria, ensinando também o caminho das pedras no campo técnico.

Brasília e o futuro: o outro lado

No domingo, esta coluna abordou o plano de desenvolvimento estratégico do Distrito Federal, o Brasília-60, para o qual o governo buscou a consultoria da empresa Jurong Consultant, estatal de Cingapura. Ouviu o governador Agnelo Queiroz (PT) e assessores, registrando a névoa desinformativa sobre assunto tão importante para o futuro da capital e a carência de um debate amplo e qualificado. Ontem, o presidente da seção DF do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Paulo Henrique Paranhos, e o conselheiro nacional do instituto, Amílcar Chaves, apresentaram as restrições que têm ao projeto, subscritas também por entidades como o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasilleira de Imprensa (ABI), entre outras. A primeira, de ordem legal, questiona a contratação da Jurong, com dispensa de licitação, por notória especialização em projetos de desenvolvimento regional. Segundo o governo do Distrito Federal, trata-se de acordo de cooperação entre duas empresas estatais, o que, de fato, a lei permite. Mais forte é o argumento jurídico-político de Paranhos: “É óbvio que o Distrito Federal precisa descentralizar o crescimento e fortalecer a região metropolitana, preservando o Plano Piloto. Mas como pode um governo democrático implantar cinco projetos de grande impacto, que não estão previstos em estatutos legais como o Pdot (Plano Diretor do Ordenamento Territorial), a Lei Orgânica do Distrito Federal e o Plano Diretor de Transporte Urbano?”. Embora neguem viés corporativista nas críticas, eles reclamam também da entrega de tais projetos a arquitetos e engenheiros que desconhecem a realidade da capital. Chaves aponta ainda uma verdade indiscutível: não há um sistema de planejamento consolidado na cidade que foi planejada. Repetindo domingo: falta um debate, que não deve centrar-se na empresa estrangeira, mas no impacto sobre o futuro.

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