Estado de Minas: 08/01/2013
Não se deve enxergar um fato, mas apenas um gesto, no convite da presidente Dilma Rousseff ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para o almoço que tiveram sábado, na Base Naval de Aratu, do qual participou também o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). Mais substância deve ter havido no passeio de barco que ela fez no domingo com o governador baiano e a mulher dele, Fátima, cujo humor Dilma muito aprecia. Ele é o mais provável coordenador da campanha dela à reeleição, o que depende das equações que vier a montar para sua própria sucessão na Bahia.O convite a Campos ela fez em 27 dezembro, quando já circulava uma entrevista dele à revista Época, assegurando que vai apoiá-la em 2014. Mas, como declaração não é compromisso, Dilma novamente o afagou, tratando de mantê-lo como aliado. Segundo relatos, o almoço, com a presença dos parentes de todos, ficou no “social”, não tendo havido conversa reservada a dois ou a três. Jaques, contrariamente aos petistas ressentidos com Campos e seu PSB por causa das disputas eleitorais de 2012, que acarretaram derrotas ao PT, tem agido para mantê-lo no campo lulodilmista, tendo até declarado que ele pode ser o candidato da coalizão em 2018. Tem aparado arestas e buscado inserir o colega pernambucano nos palcos em que pisa. Levou-o consigo, por exemplo, aos funerais da venerada dona Canô. De outro lado, Campos enfrenta as pressões do PSB para que comece a articular a candidatura.
Independentemente disso, Dilma deve saber que sua campanha à reeleição, se for mesmo candidata, será bem diferente da de 2010. Ela era um poste vistoso puxado por um guindaste de alta potência, o então presidente Lula. Agora, ele a apoiará, mas já não é presidente, por mais popular que ainda seja. Ela terá que se virar, costurar alianças e seduzir aliados, e essa não é sua praia. Mas é a de Jaques, com o qual tem uma relação de identidade e confiança. Para coordenar a campanha dela, ele terá que arrumar primeiro o tabuleiro baiano. Já estando no segundo mandato, tentará fazer um sucessor petista. Estão no páreo o senador Walter Pinheiro, o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli e o deputado Rui Costa. Não será uma escolha fácil.
O principal aliado do PT no estado, hoje, é o PSB. E aí começam os problemas. Para garantir o apoio do PSB, a estratégia natural do governador seria oferecer-lhe a vaga de senador, optando ele por concorrer à Câmara. Ele se elegeria praticamente sem fazer campanha, podendo se dedicar à candidatura de Dilma. Mas a senadora e principal liderança dos socialistas na Bahia, Lídice da Mata, também quer ser candidata ao governo. A vaga no Senado não interessa, ela ainda tem quatro anos de mandato pela frente.
Essas são as questões da política baiana que se conectam com o futuro de Dilma e, certamente, foram abordadas no passeio pelo mar da Bahia.
A crisma e o alvo
O ex-presidente Fernando Henrique crismou o senador Aécio Neves como candidato a presidente pelo PSDB em 2014. Tendo se afastado do cotidiano partidário nos últimos anos, ele voltou ao proscênio na certeza de que, se o PSDB não se renovar e não formular um novo discurso, o PT é que ficará 20 anos no poder, tal como projetou um dia seu amigo Sergio Motta para os tucanos. A isso tem se dedicado – a instigar o partido e a colaborar com Aécio – desde o almoço que tiveram logo que foram apuradas as urnas de 2012. Partiu dele a orientação para que o PSDB mire a política econômica de Dilma e comece a fazer dela o alvo direto do confronto, até então centrado na figura do ex-presidente Lula. Esse é o contexto em que devem ser compreendidos os ataques ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, por causa dos remanejamentos de recursos realizados para garantir a meta fiscal de 2012. Carga tributária, risco inflacionário, incerteza regulatória e excesso de intervencionismo são outros temas que, daqui para a frente, os tucanos vão esgrimir contra a política econômica de Dilma.
Para ela, chegou o momento da verdade. Se em 2013 o crescimento não der o ar de sua graça, começará a ser acusada de ter interrompido a trajetória anterior, pois mais que o cenário externo tenha contribuído para isso.
Baixa sentida
Beto Vasconcelos, secretário-executivo da Casa Civil, surpreendeu a ministra Gleisi Hoffman e a própria presidente com seu pedido de afastamento por causa de um projeto acadêmico. Pela sólida formação jurídica e pela relação de confiança, Dilma contava com ele para resolver eventuais substituições no Ministério da Justiça ou na Advocacia-Geral da União (AGU).
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