Estado de Minas: 10/01/2013
Há um elemento na conjuntura política que não constitui segredo, mas não é claramente explicitado: a relação dos empresários com a presidente Dilma Rousseff crispou-se nos últimos tempos e eles procuram, ora em Aécio Neves, do PSDB, ora em Eduardo Campos, do PSB, o candidato que seja ao mesmo tempo confiável e competitivo para concorrer com ela em 2014. Embora o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, tenha afastado enfaticamente ontem o risco de desabastecimento ou racionamento, os problemas que o país enfrenta no setor jogam água no moinho político, elevando a indisposição dos empresários com a presidente.O grande capital nunca morreu de amores pelos governos petistas mas, no tempo de Lula, havia contradições entre eles. Os bancos ganharam muito dinheiro, a indústria surfou nas altas taxas de crescimento e o agronegócio viveu seu grande momento, com saltos espetaculares nas exportações, ganhando com o cenário internacional e a diplomacia presidencial do ex-presidente Lula, que lhes abriu novos mercados.
Dilma, pelas medidas e pelo estilo, acabou angariando a insatisfação de todos eles. Travou uma queda de braço com os bancos e conseguiu uma redução inédita e necessária nas taxas de juros do país. Os capitães da indústria, beneficiados com a queda nos juros e as linhas de crédito do BNDES, foram ainda socorridos com medidas de estímulo ao consumo sob a forma de desonerações tributárias. Nem por isso, ficaram satisfeitos. Apontam a indústria automobilística como grande beneficiária das desonerações e reclamam do que seria um elevado intervencionismo da presidente na economia. O agronegócio, por sua vez, teve as exportações reduzidas pelo baixo preço do dólar, que só recentemente cruzou a barreira dos R$ 2, embora a crise externa é que tenha sido decisiva para a retração. O “pibinho” de apenas 1% em 2012 deu a senha para a elevação do tom das críticas ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, e à política econômica.
Em busca de alternativas a Dilma, o empresariado teve um “encantamento” por Eduardo Campos, do PSB, logo que ele emergiu como grande vitorioso na eleição municipal. Diante de suas reticências em ser ou não ser candidato em 2014, e do pré-lançamento de Aécio Neves pelo PSDB no fim do ano passado, voltaram os olhos para o tucano. Faz parte desta conexão a aproximação do senador mineiro com os economistas mais importantes da era Fernando Henrique, com a mediação deste. Pedro Malan, Edmar Bacha e Gustavo Franco já atuam como formuladores do discurso econômico de Aécio. Eles expressam o pensamento econômico de parcela importante do PSDB e refletem a insatisfação dos empresários.
Os problemas no setor elétrico tendem, naturalmente, a aumentar a crispação. A indústria precisa de segurança energética para produzir e investir. No ano 2000, o Brasil cresceu acima dos 4% mas, com o racionamento em 2001, o índice caiu para a casa de 1%. A situação de hoje é bem diferente. Se em 2001 houve falha no planejamento, agora existem as termelétricas de segurança, acionadas quando a produção hidrelétrica cai por falta de água nos reservatórios. Isso tem custos mas, se as chuvas caírem para valer, como prometeu o ministro ontem, confiando em São Pedro, as “termo” poderão ser dispensadas gradualmente. Mesmo assim, o sobressalto energético, que setores do governo dizem estar sendo superdimensionado, vai contra o principal objetivo de Dilma (e do Brasil) este ano, que é retomar a trajetória de crescimento da era Lula. Seus efeitos econômicos terão uma tradução política para a presidente e sua reeleição. A dimensão desses efeitos, por surrealista que pareça, depende muito agora do comportamento das nuvens. As do céu do Brasil, não ainda as da política, que mudam rapidamente de forma, na definição famosa de Magalhães Pinto, que alguns insistem em atribuir a Tancredo Neves.
Peixes de Crivella
Quando ele assumiu o Ministério da Pesca, assegurando a participação do PRB na base parlamentar dilmista, confessou que não sabia colocar isca no anzol. Apanhou como minhoca no cardume. Menos de um ano depois, o ministro Marcelo Crivella fala de piscicultura com a desenvoltura de um peixe n’água. Conseguiu instituir um Plano Safra para o setor, com metas, linhas de crédito e garantia de um salário mínimo para mais de um milhão de pescadores durante a piracema e a procriação, quando a pesca é suspensa. A produção brasileira aumentou para 1,35 milhão de toneladas de peixe: 1,3 milhão vem da pesca extrativista, 500 mil da criação em tanques e represas. Em dois anos, projeta uma elevação para 2 milhões de toneladas.
Na pescaria política, ele diz ter duas metas. Ajudar a presidente a se reeleger e o PRB a ampliar sua bancada na Câmara.
Receios infundados
Os afagos da presidente Dilma Rousseff no governador Eduardo Campos (PSB) levantaram receios de algum estimulo governista à candidatura de Julio Delgado, também do PSB, a presidente da Câmara. Fontes próximas a Campos garantem que, embora ele tenha apreço por Delgado, não entrará em combate para derrotar o peemedebista Henrique Eduardo Alves. Deve-lhe apoio decisivo à aprovação do nome de sua mãe, Ana Arraes, para ministra do Tribunal de Contas da União (TCU).
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