Mariana Peixoto
Estado de Minas: 25/01/2013
“É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro, de posse de boa fortuna, deve estar atrás de uma esposa.” Fora de contexto, tal frase poderia afastar a leitura do que viesse a seguir. Pois seria essa uma verdade universal no ano de 2013? Mas a questão aqui é que tal frase pertence a uma outra época. Foi escrita no final do século 18 e é o trecho de abertura de Orgulho e preconceito, livro mais conhecido de Jane Austen e um dos maiores clássicos da literatura inglesa. Foram 16 anos para que a obra, finalizada, fosse publicada: a primeira edição chegou às livrarias britânicas em 28 de janeiro de 1813.
Duzentos anos depois, a história de amor, envolvida em uma aura de intolerância e esnobismo, de Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy ainda arrebanha fãs em todo o mundo. Hoje e amanhã, por exemplo, um grupo de pessoas vai se reunir no Memorial Minas Gerais Vale para debater o livro. “Noventa e cinco por cento dos participantes são mulheres”, afirma Adriana Zardini, fundadora e presidente da Jane Austen Brasil, organizadora do encontro, que está em sua quarta edição. Só de inscritos antecipadamente, foram computadas 85 pessoas, número que deve crescer com os interessados que devem aparecer na hora das palestras no espaço da Praça da Liberdade. Parte dos participantes é de fora do estado: vem gente do Rio de Janeiro, Pernambuco, Distrito Federal, Amazonas, Paraíba e Rio Grande do Sul.
“Serão apresentações de trabalhos (que vão de Orgulho e preconceito em formato de mangá ao tipo de homem que mr. Darcy representa) de estudantes de letras, alunos do ensino médio e professores. Possivelmente eles serão editados na nossa primeira publicação”, continua Adriana, professora de língua inglesa que já traduziu, para diferentes editoras, Razão e sensibilidade, Mansfield Park e Emma. Em 2008 ela criou o blog Jane Austen Brasil, o primeiro em língua portuguesa, que, no ano seguinte, virou uma sociedade (que atende pela sigla Jasbra). Desde então, vem sendo promovidos encontros anuais: já ocorreram edições em Ouro Preto, Rio e Recife.
O interesse sempre crescente pela obra de Austen se deve muito às constantes adaptações cinematográficas (ver detalhe). Na Inglaterra, que promove, sempre em setembro, festival dedicado à escritora – em Bath, onde existe um centro cultural dedicado a ela –, o Correio Real Britânico vai lançar selos comemorativos do bicentenário. Como fonte de inspiração, Orgulho e preconceito vem servindo para uma série de produtos, uns bem acabados, outros de gosto bastante discutível.
Na semana passada, no Festival de Sundance, foi exibido Austenland. Comédia romântica inspirada no livro homônimo que trata de uma nova-iorquina de 30 e poucos anos que, obcecada por Orgulho e preconceito e desiludida com sua morna vida amorosa, pega suas economias e vai para um parque temático na Inglaterra dedicado, é claro, a Jane Austen. Seu objetivo é encontrar seu próprio mr. Darcy. O longa-metragem da diretora estreante Jerusha Hess vem ganhando repercussão também porque a produtora do filme é Stephenie Meyer, autora da saga Crepúsculo.
Sexo e zumbis Duzentos anos depois, Elizabeth e Darcy não cansam de surpreender e renderam uma comédia de humor negro: Orgulho e preconceito e zumbis, de Seth Grahame-Smith, que tem promessa de virar filme. Bem menos engraçado (na verdade, quase infame) é Cinquenta tons do sr. Darcy, que, aproveitando a febre Cinquenta tons de cinza, tenta fazer uma paródia cheia de situações picantes e grosseiras.
4º ENCONTRO NACIONAL DA JASBRA
Hoje, das 8h às 12h30, e amanhã, das 13h30 às 18h, no Memorial Minas Gerais Vale, Praça da Liberdade, s/nº, esquina com Rua Gonçalves Dias, (31) 3343-7317. Entrada franca. Informações:www.janeaustenbrasil.com.br.
Orgulho e preconceito em…
• Filmes
Como livro mais importante de Jane Austen, Orgulho e preconceito tem várias versões para cinema e televisão. Em longa-metragem, a primeira versão é de 1940, com Greer Garson e Laurence Olivier (que veio como segunda opção, já que a preferência da MGM era por Clark Gable) como o casal Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy (foto). Vencedor do Oscar de direção de arte, o filme, em preto e branco, dirigido por Robert Z. Leonard, teve como roteirista Aldous Huxley, autor de As portas da percepção (1954), livro que se tornou um clássico para a geração dos anos 1960, por falar das experiências do autor, grande entusiasta do uso do LSD.
No decorrer dos anos, houve várias minisséries, uma italiana (de 1957) estrelada por Virna Lisi. As mais conhecidas são duas versões da BBC, uma de 1980 e outra de 1995. Essa última traz Colin Firth como mr. Darcy, papel que ele revisitaria, de certa forma, nos dois filmes inspirados no best-seller Bridget Jones. Voltando ao cinema, não há como negar que o longa de Joe Wright (2005), com Keira Knightley e Matthew Macfadyen como o casal central, hoje campeão de reprises na TV, apresentou a obra maior de Austen a uma nova geração de fãs. Todas essas versões buscam remontar à época em que o romance é ambientado, na Inglaterra do final do século 18 e início do 19. Há outras, no entanto, que levam a narrativa para outro tempo e espaço. É o caso de Bride & prejudice, a versão de Bollywood para a narrativa de Austen.
• Livros
No Brasil, a primeira edição de Orgulho e preconceito foi publicada em 1940 pela Editora José Olympio. A tradução, do escritor Lúcio Cardoso, é a mais conhecida no país (houve edições da Ediouro, Civilização Brasileira, Abril, Círculo do Livro). Outro grande escritor que se debruçou no clássico de Jane Austen foi Paulo Mendes Campos, que traduziu a obra em 1970.
Com edições de bolso (da L&PM e Best Bolso), o livro teve ainda uma edição bilíngue no Brasil (Landmark, de 2008). Outras versões do livro são encontradas em novas traduções das editoras Paulus e Martin Claret. A mais nova edição, com tradução de Alexandre Barbosa de Souza, foi publicada há dois anos pela Companhia das Letras/Penguin em que o romance é antecedida por um estudo do crítico britânico Tony Tanner.
Duzentos anos depois, a história de amor, envolvida em uma aura de intolerância e esnobismo, de Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy ainda arrebanha fãs em todo o mundo. Hoje e amanhã, por exemplo, um grupo de pessoas vai se reunir no Memorial Minas Gerais Vale para debater o livro. “Noventa e cinco por cento dos participantes são mulheres”, afirma Adriana Zardini, fundadora e presidente da Jane Austen Brasil, organizadora do encontro, que está em sua quarta edição. Só de inscritos antecipadamente, foram computadas 85 pessoas, número que deve crescer com os interessados que devem aparecer na hora das palestras no espaço da Praça da Liberdade. Parte dos participantes é de fora do estado: vem gente do Rio de Janeiro, Pernambuco, Distrito Federal, Amazonas, Paraíba e Rio Grande do Sul.
“Serão apresentações de trabalhos (que vão de Orgulho e preconceito em formato de mangá ao tipo de homem que mr. Darcy representa) de estudantes de letras, alunos do ensino médio e professores. Possivelmente eles serão editados na nossa primeira publicação”, continua Adriana, professora de língua inglesa que já traduziu, para diferentes editoras, Razão e sensibilidade, Mansfield Park e Emma. Em 2008 ela criou o blog Jane Austen Brasil, o primeiro em língua portuguesa, que, no ano seguinte, virou uma sociedade (que atende pela sigla Jasbra). Desde então, vem sendo promovidos encontros anuais: já ocorreram edições em Ouro Preto, Rio e Recife.
O interesse sempre crescente pela obra de Austen se deve muito às constantes adaptações cinematográficas (ver detalhe). Na Inglaterra, que promove, sempre em setembro, festival dedicado à escritora – em Bath, onde existe um centro cultural dedicado a ela –, o Correio Real Britânico vai lançar selos comemorativos do bicentenário. Como fonte de inspiração, Orgulho e preconceito vem servindo para uma série de produtos, uns bem acabados, outros de gosto bastante discutível.
Na semana passada, no Festival de Sundance, foi exibido Austenland. Comédia romântica inspirada no livro homônimo que trata de uma nova-iorquina de 30 e poucos anos que, obcecada por Orgulho e preconceito e desiludida com sua morna vida amorosa, pega suas economias e vai para um parque temático na Inglaterra dedicado, é claro, a Jane Austen. Seu objetivo é encontrar seu próprio mr. Darcy. O longa-metragem da diretora estreante Jerusha Hess vem ganhando repercussão também porque a produtora do filme é Stephenie Meyer, autora da saga Crepúsculo.
Sexo e zumbis Duzentos anos depois, Elizabeth e Darcy não cansam de surpreender e renderam uma comédia de humor negro: Orgulho e preconceito e zumbis, de Seth Grahame-Smith, que tem promessa de virar filme. Bem menos engraçado (na verdade, quase infame) é Cinquenta tons do sr. Darcy, que, aproveitando a febre Cinquenta tons de cinza, tenta fazer uma paródia cheia de situações picantes e grosseiras.
4º ENCONTRO NACIONAL DA JASBRA
Hoje, das 8h às 12h30, e amanhã, das 13h30 às 18h, no Memorial Minas Gerais Vale, Praça da Liberdade, s/nº, esquina com Rua Gonçalves Dias, (31) 3343-7317. Entrada franca. Informações:www.janeaustenbrasil.com.br.
Orgulho e preconceito em…
• Filmes
Como livro mais importante de Jane Austen, Orgulho e preconceito tem várias versões para cinema e televisão. Em longa-metragem, a primeira versão é de 1940, com Greer Garson e Laurence Olivier (que veio como segunda opção, já que a preferência da MGM era por Clark Gable) como o casal Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy (foto). Vencedor do Oscar de direção de arte, o filme, em preto e branco, dirigido por Robert Z. Leonard, teve como roteirista Aldous Huxley, autor de As portas da percepção (1954), livro que se tornou um clássico para a geração dos anos 1960, por falar das experiências do autor, grande entusiasta do uso do LSD.
No decorrer dos anos, houve várias minisséries, uma italiana (de 1957) estrelada por Virna Lisi. As mais conhecidas são duas versões da BBC, uma de 1980 e outra de 1995. Essa última traz Colin Firth como mr. Darcy, papel que ele revisitaria, de certa forma, nos dois filmes inspirados no best-seller Bridget Jones. Voltando ao cinema, não há como negar que o longa de Joe Wright (2005), com Keira Knightley e Matthew Macfadyen como o casal central, hoje campeão de reprises na TV, apresentou a obra maior de Austen a uma nova geração de fãs. Todas essas versões buscam remontar à época em que o romance é ambientado, na Inglaterra do final do século 18 e início do 19. Há outras, no entanto, que levam a narrativa para outro tempo e espaço. É o caso de Bride & prejudice, a versão de Bollywood para a narrativa de Austen.
• Livros
No Brasil, a primeira edição de Orgulho e preconceito foi publicada em 1940 pela Editora José Olympio. A tradução, do escritor Lúcio Cardoso, é a mais conhecida no país (houve edições da Ediouro, Civilização Brasileira, Abril, Círculo do Livro). Outro grande escritor que se debruçou no clássico de Jane Austen foi Paulo Mendes Campos, que traduziu a obra em 1970.
Com edições de bolso (da L&PM e Best Bolso), o livro teve ainda uma edição bilíngue no Brasil (Landmark, de 2008). Outras versões do livro são encontradas em novas traduções das editoras Paulus e Martin Claret. A mais nova edição, com tradução de Alexandre Barbosa de Souza, foi publicada há dois anos pela Companhia das Letras/Penguin em que o romance é antecedida por um estudo do crítico britânico Tony Tanner.
Jane Austen
A romancista Jane Austen viveu 41 anos (1775-1817). Nascida em Steventon, Hampshire, de uma família da burguesia agrária, levou para seus seis romances publicados a própria situação e ambiente. Começou a escrever no final do século 18, mas seu primeiro livro a ser editado foi Razão e sensibilidade, em 1811. Além de Orgulho e preconceito, publicou, em vida, Mansfield Park (1814) e Emma (1815). Postumamente, em 1818, foram lançadas as primeiras edições de A abadia de Northanger (seu único romance gótico) e Persuasão. Ainda que a busca por um bom casamento norteie todos os seus livros, Austen nunca se casou.
A romancista Jane Austen viveu 41 anos (1775-1817). Nascida em Steventon, Hampshire, de uma família da burguesia agrária, levou para seus seis romances publicados a própria situação e ambiente. Começou a escrever no final do século 18, mas seu primeiro livro a ser editado foi Razão e sensibilidade, em 1811. Além de Orgulho e preconceito, publicou, em vida, Mansfield Park (1814) e Emma (1815). Postumamente, em 1818, foram lançadas as primeiras edições de A abadia de Northanger (seu único romance gótico) e Persuasão. Ainda que a busca por um bom casamento norteie todos os seus livros, Austen nunca se casou.
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