sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Ana Estela de Sousa Pinto

FOLHA DE SÃO PAULO

Nossos filhos sem domésticas
SÃO PAULO - Um cabo de guerra de mulheres está em curso no país.
Cada time puxa de um lado do processo civilizatório. As vítimas serão nossos filhos -ou os delas; depende do lado da corda em que se está.
Um grupo é o daquelas que, como diz Delfim Netto, fizeram a "revolução": era uma senhora que prestava serviços domésticos, estudou, foi promovida a manicure, a cabeleireira. Preparou-se mais, foi para o call center, virou caixa de supermercado.
Resultado: enquanto a ocupação cresceu em todo o país, o número de domésticas encolheu. As que ficaram encareceram e são disputadas a tapa pela outra ponta da corda.
As patroas (sem atirar a primeira pedra) já enxergam o dia em que não poderão arcar com as empregadas. Cedem espaço no cabo de guerra, ainda passo a passo porque sobra um "estoque" de domésticas -cujas filhas jamais seguirão seus passos.
Só por um salário competitivo e com condições profissionais -no Brasil, sabemos, relações entre patrões e empregados são ambíguas. (Para dizer o mínimo. Em Higienópolis, uma criada que fritava o filé-mignon da sinhá recebia carne de segunda e era orientada a lavar seu prato com esponja específica, que não tocasse a porcelana dos patrões.)
Os filhos dos "ricos-mas-nem-tanto" sofrerão o efeito da mudança, porque ainda são criados para morar em apartamentos enormes que não conseguimos limpar sozinhos, receber refeições feitas na hora e ver louças e roupa suja desaparecerem por encanto para ressurgir impecáveis.
Pós-choque, talvez eduquem nossos netos (homens finalmente incluídos) para a realidade. E o Brasil deixará de ser visto por estrangeiros como selvagem paraíso do qual o que mais se sente falta são os serviços domésticos (como, nesta semana, no site da "Forbes": http://is.gd/uAJJUZ).
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Com o fim de janeiro, termina também minha colaboração neste espaço. Obrigada pela companhia.

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