sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Marina Silva

FOLHA DE SÃO PAULO

Professora crise
Discute-se a atitude do governo brasileiro em relação ao Fórum Econômico de Davos. Alguns acham errado afastar-se do "clube dos ricos", onde se reúnem países e instituições com grande poder, num momento em que a crise na Europa afeta o mundo inteiro. Outros dizem que seria perda de tempo marcar presença num fórum já tão esvaziado.
Do outro lado da cena mundial, o Fórum Social Temático em Porto Alegre também sofreu baixas, ignorado pelo MST, sem a presença da CUT e da Abong, pressionado por disputas partidárias que envolvem instituições de todos os níveis, governamentais ou não. A oposição social ao mundo capitalista também vive a sua crise.
Dizer que a crise é global, de toda a civilização, já é comum. Mas ainda persiste, em muita gente, a ilusão de estar blindado, de que só os outros são afetados. O passo seguinte é aproveitar a crise "alheia" para fortalecer sua posição e
obter vantagem na disputa do poder. Quem não age assim é considerado bobo, que perde as oportunidades e deixa "passar o cavalo selado".
Essa atitude atrasa o Brasil em seu desenvolvimento e na liderança que pode exercer no mundo, na transição civilizatória que já se iniciou. Propaganda e antipropaganda é o que mais fazem governos e oposições. Simulação de resultados e maquiagem de números é um constante espetáculo de antiplanejamento, do qual ninguém tem exclusividade, pois cada um comete os mesmos erros em sua esfera de poder.
Como sair disso?
As soluções não se restringem ao âmbito institucional. Toda a sociedade precisa mudar: comportamento, produção, consumo, valores. Mas os governos devem fazer ao menos um esforço.
Nesta semana, anunciou-se em São Paulo um acordo entre o prefeito Haddad e o governador Alckmin para ações conjuntas. Não tardaram análises mostrando interesses políticos por trás do acordo.
Quero expressar meu desejo sincero de um entendimento real que traga benefícios aos moradores da maior cidade brasileira. Às vezes, é preciso um "cessar-fogo" na política para destravar a ação econômica e social. Quanto mais tréguas houver, mesmo restritas e regionais, maior chance teremos de superar a polarização que o embate rebaixado na política impõe ao país.
Muitos de nós sonhamos, em 2012, que ao menos um pequeno avanço acontecesse no plano internacional, por ocasião da Rio+20. Não foi possível, o retrocesso da política interna aprofundou o da política externa.
Crises são sempre difíceis e dolorosas, mas também trazem ensinamentos que, às vezes, podem mudar os rumos e a qualidade da história. E, nesse momento, ela parece apelar a todos nós: aproveitem, aprendam. E não demorem.

    Um comentário:

    1. O pior de tudo nessa crise é a ausência de pessoas capazes de pensar no bem coletivo.

      ResponderExcluir