sábado, 9 de fevereiro de 2013

BEM BRASIL » Sem perder a emoção(Simone Rasslan)-Kiko Ferreira‏

A cantora, atriz e compositora Simone Rasslan lança Xaxados e perdidos, álbum que faz síntese inspirada de vários estilos da música popular brasileira, das raízes à vanguarda 

Kiko Ferreira
Estado de MInas: 09/02/2013 
Se há um paralelo imediato a fazer quando se ouve o CD Xaxados e perdidos, da cantora, atriz, compositora, regente e pianista Simone Rasslan, seria com o da mineira Consuelo de Paula. Nascida em Dourados, no Mato Grosso do Sul, ela está radicada em Porto Alegre desde 1988, para onde foi para estudar regência. Como Consuelo, Simone apresenta um trabalho de releitura de temas consagrados e músicas próprias em formato predominantemente acústico e econômico, tornando evidentes as intenções dos temas e valorizando detalhes.

A moça, que fez fama no Rio Grande do Sul pelo sucesso do espetáculo Rádio Esmeralda, apresentado por nove anos ao lado de Hique Tangos e Tragédias Gomes e de Adriana Marques (falecida em 2009), gravou as 18 faixas tendo como músicos definidores de sonoridade o marido, o multi-instrumentista Álvaro Rosa Costa, e o violonista, guitarrista e percussionista Beto Chedid. Com participações enriquecedoras de talentos gaúchos, como Fábio Mentz e Marcelo Delacroix, Simone conduz a voz límpida por uma trama instrumental sem excessos.

Proporcionando uma audição fluente e agradável, Xaxados e perdidos abre com uma versão do Baião de quatro toques, de Zé Miguel Wisnik e Luiz Tatit, sem dúvida uma das melhores defesas de que se tem notícia da interação de música clássica e popular. Na sequência, o clássico sertanejo Rio de lágrimas (Piraci, Tião Carreiro e Lourival Santos) ganha defesa sem gritos nem sussurros, antes de a Ciranda, de Moacir Santos e Gilberto Gil, ter sua alma filtrada por uma abordagem que Tavinho Moura certamente gostará de ouvir.

TRILHAS 

Depois de as tradicionais Cuitelinho e Cantos das fiandeiras serem tratadas com respeito que até soa meio excessivo, vem uma emocionada interpretação de Água e vinho (Egberto Gismonti e Geraldo Carneiro) e um Capim de ribanceira (Almir Sater e Paulo Simões) em tom de desafio (com a guitarra “sujando” intencionalmente o som). Uma sequência de temas próprios, com O veículo que leva, Fica e, principalmente, A louca, Formosa e Jornada, demonstra por que o trio tem fama e prêmios na produção e composição de trilhas sonoras para teatro, cinema e TV. Traços de Edu Lobo, Sérgio Ricardo e Chico Buarque podem ser detectados.

A folclórica Cantiga de caminho abre a sequência final, que inclui Flor, de Nico Nicolaievski e Silvio Marques, que poderia estabelecer diálogo com a Cantiga de beira d’água, de Sirlan. O espírito gaúcho surge que nem tropel na dramática Portal, de Jerônimo Jardim, e a instrumental Quilombola (Álvaro Rosa Costa), só de violão e acordeom, é quase uma introdução para a épica Lugarejo, com jeito de música de festival. 

Como estação de chegada da viagem, De onde vem o baião (Gilberto Gil) parece justificar a proposta do álbum, que não é só de xaxados, mas trata da música que vem de debaixo do barro do chão e de repente se lança até o coração dos meninos de ouvidos atentos a raízes e histórias.

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