Renato Alves - Enviado especial
Estado de Minas: 09/02/2013
Antártida — Apesar de trabalhar com a intenção de a nova base na Antártida ficar pronta em 2015, o governo brasileiro começou a construir ontem uma estação provisória para abrigar cientistas e militares por até cinco anos. Ao custo de R$ 14 milhões, com tecnologia canadense e capacidade para 65 pessoas, as instalações devem estar concluídas em dois meses, no fim do verão no continente gelado. Com isso, em um primeiro momento o local receberá apenas integrantes da Marinha. Um grupo de 15 homens passará o inverno, quando as temperaturas caem a até 750 C negativos, isolado na Ilha Rei George, onde fica a antiga base, destruída quase completamente no incêndio ocorrido em 25 de fevereiro de 2012.
A segurança é a maior preocupação dos órgãos envolvidos no Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Tanto que a estação provisória é feita de material antipropagação de fogo. “Módulos mais sensíveis, como o dos geradores e o da cozinha, terão um sistema que detecta e extingue incêndio, com um sensor de chama que libera CO2, diminuindo a quantidade de oxigênio, o que acaba com o fogo”, explica o capitão-de-mar-e-guerra Ricardo Soares Ferreira, engenheiro eletricista da Marinha. Ele e a capitã-de-corveta e também engenheira eletricista Carla Feijó da Costa chegaram à Antártida na quinta-feira passada para participar da montagem dos chamados módulos antárticos emergenciais (MAEs).
Mais de 30 militares estão envolvidos na supervisão da montagem dos MAEs, realizada por 14 operários contratados pela fabricante canadense. A base provisória terá 29 ambientes, entre dormitórios, salas, banheiros e outros. No entanto, diferentemente da antiga Estação Comandante Ferraz, eles não terão espaço para laboratórios. Desde o incêndio, eles estão concentrados em dois navios da Marinha, o Maximiano e o Ary Rongel. Exclusivos do Proantar, eles recebem até 50 pesquisadores. Em média, cada cientista passa um mês na Antártida. “Neste verão, recebemos 200 pesquisadores, quando a média, com a estação, era de 150. Essa é um prova de que o Proantar está cada vez mais ativo”, ressalta o almirante Marcos Silva Rodrigues, da Secretaria Interministerial para Recursos do Mar.
IMpacto ambiental O Correio está na Antártida acompanhando os esforços de militares e cientistas para desmontar a antiga estação, remover os destroços, erguer a base provisória e manter as pesquisas de diversas instituições brasileiras, mesmo após o acidente de um ano atrás, ainda sob investigação. A reportagem desembarcou no ponto mais extremo ao sul do planeta na tarde de quinta-feira, em um avião Hércules da Força Aérea Brasileira (FAB), acompanhando cerca de 50 militares e pesquisadores. A bordo do Ary Rongel, o repórter do jornal chegou à ilha Rei George na manhã de ontem e testemunhou o início da montagem dos MAEs e a última fase da limpeza da área do incêndio.
Ainda há destroços da antiga Estação Comandante Ferraz na ilha. Ao todo, operários e militares removeram 600t de escombros. Cerca de 70% estão acondicionados no navio mercante Germânia, de bandeira alemã, estacionado perto da Ilha Rei George, contratado pela Marinha do Brasil. A previsão é que a remoção dos destroços vá até 26 de março, quando o Germânia deixará a Antártida rumo ao Rio de Janeiro, onde o lixo será tratado. O local e a forma da destinação dos destroços ainda serão definidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Ibama).
Técnicos do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente acompanham os trabalhos de desmontagem e limpeza da base na Antártida desde o início, em março do ano passado. “O trabalho inicial era minimizar o impacto, pois a base ia ficar lá e poderia comprometer o ambiente, vazando produtos químicos, por exemplo”, conta o coordenador de Atendimento de Emergências Ambientais do Ibama, Marcelo Amorim.
Ele deve permanecer no Polo Sul por dois meses, até o fim da montagem dos módulos. “Vou acompanhar a limpeza e a montagem dos MAEs, sempre com o intuito de minimizar o impacto ambiental”, diz. A colega que ele substituiu, conta Amorim, tomou pequenas medidas para conter possíveis estragos feitos durante a remoção do material da base queimada. “Entre outras coisas, ela descobriu um ninho com ovos de um pássaro. Pediu para o cercarem e sinalizarem. São pequenos detalhes como esse que reduzem o dano.”
Tudo é fiscalizado por representantes de outros países com estações de pesquisa na Antártida, com permissão para desembarcar na Ilha Rei George quando quiserem, sem avisar, conforme prevê tratado internacional. Grandes danos ao meio ambiente antártico podem custar ao Brasil pesadas multas e até mesmo a suspensão do direito de explorar o continente cientificamente.
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