Carona negociada nas redes sociais atrai
cada vez mais gente. Preço é bem menor que o dos ônibus regulares, mas
DER alerta que prática é considerada transporte clandestino
Tiago de Holanda
Publicação: 25/02/2013 04:00
Nas estradas brasileiras, é possível
encontrar quem pegue carona à moda antiga, com a mochila nas costas e o
polegar a prumo, à espera de um motorista generoso. Porém, um novo tipo
de carona, possibilitado pelas redes sociais, ganha cada vez mais
adeptos. No Facebook, site de relacionamentos mais popular no país, há
centenas de grupos usados por gente que oferece ou busca um lugar no
carro para ir de uma cidade a outra. A viagem não é gratuita, mas, pelo
menos em Minas, o preço é inferior ao da passagem de ônibus. O que
poucos sabem é que essa modalidade de transporte é considerada
clandestina e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do estado
tenta fechar o cerco contra os infratores.
Os grupos do Facebook
costumam especificar as cidades às quais se destinam as caronas. Um
deles, por exemplo, liga Belo Horizonte a Viçosa, na Zona da Mata, e tem
mais de 7 mil participantes. A lista inclui municípios de pequeno
porte, como Luz (17,4 mil), na Região Central. A maioria dos grupos, no
entanto, são dedicados a BH ou a polos regionais, como Uberlândia, no
Triângulo Mineiro, e Juiz de Fora, na Zona da Mata. Os universitários
são os principais usuários do serviço, o que explica a grande procura
por cidades onde há instituições federais de ensino superior, como São
João del-Rei e Lavras. “Procuro carona pra hoje (sábado)
Ita>>>BH. Alguém?”, pergunta uma moça no grupo Carona
BH-Itabira. “Ofereço carona de MOC pra BH, quarta, saída às 6h”, apregoa
um rapaz no Carona Montes Claros-BH.
O preço da carona varia, a
depender do trecho a ser percorrido, mas é sempre classificado como
ajuda de custo. Para deter gananciosos, alguns grupos chegam a fixar o
valor a ser cobrado. O Carona BH/Ipatinga/BH considera três
“contribuições” aceitáveis: R$ 20, R$ 25 e R$ 30. E reforça: “Custo
visado como forma de rateio. Comprovado qualquer custo como forma de
comercialização, o integrante será imediatamente excluído do grupo”.
FISCALIZAÇÃO Mesmo
sem fins lucrativos, esse tipo de carona é ilegal, segundo o diretor de
Fiscalização do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais
(DER-MG), João Afonso Baeta Costa. “É proibida a cobrança de qualquer
preço para fazer transporte de pessoas, se não for licenciado. Ainda que
o objetivo seja apenas cobrir os custos do carro”, ressalta.
O
DER tem uma equipe de inteligência dedicada exclusivamente a monitorar a
internet. “Esse trabalho começou há cerca de um ano. A equipe fica
permanentemente navegando nas redes sociais”, destaca Baeta. É fácil
encontrar gente não licenciada oferecendo carona remunerada, mas o
desafio é surpreendê-las prestando o serviço. “Já identificamos algumas
pessoas, mas ainda não conseguimos um flagrante, já que elas atuam em
locais variáveis. Essa tem sido nossa maior dificuldade”.
Entre as pessoas que oferecem carona pelo Facebook, apenas uma das entrevistadas pelo Estado de Minas
sabia que praticava uma ilegalidade. “Se formos parados na estrada,
digo ao policial que estou levando amigos meus. Pra ninguém desconfiar,
quase nunca vou com o carro cheio”, diz Rodolfo (nome fictício), de 22
anos, que participa do grupo Carona Diamantina BH. Ao menos três vezes
por semana, ele oferece vagas para o percurso entre a capital e a cidade
do Vale do Jequitinhonha, onde mora. Cobra R$ 40 para deixar o
passageiro na rodoviária.
Rodolfo estima que transporte 30
pessoas por mês. Mecânico de refrigeração, costuma ir a BH a trabalho,
às custas da empresa da qual é funcionário. “A empresa sabe que eu vou
com meu carro, mas não pode saber que eu levo passageiro. Se eu sofro um
acidente e alguém acaba morrendo, a empresa vai perguntar: ‘Por que
essa pessoa estava com você?’”, diz. Já que não banca os próprios gastos
na viagem, as caronas dão lucro. “Mas não sobra quase nada. Gosto de
ajudar os estudantes que têm pouco dinheiro”.
Os preços das
caronas são inferiores aos fixados pelas empresas de ônibus. Para
Diamantina, a passagem custa R$ 75,70, valor 47% maior que os R$ 40
cobrados pelo pessoal do Facebook. A viagem anunciada pela rede social é
mais barata também que os valores cobrados pelos “perueiros”, os
motoristas clandestinos que buscam lucrar com as viagens. Sem saber que
falava com um repórter, um deles disse que pede R$ 25 para levar alguém
de BH para Ouro Preto, enquanto a turma de internet cobra R$ 15.
CÔMODA E RÁPIDA
“De carona é mais barato, a viagem é muito mais rápida e cômoda”, diz
Débora Ruffato, de 25 anos, que cursa direito na capital e passa os fins
de semana em Pará de Minas, onde moram os pais. “Nunca vou com alguém
totalmente desconhecido. O Facebook facilita para conseguir referências
sobre a pessoa”, diz. A moça acha que esse tipo de transporte não deve
ser regulado pelo governo. “A carona é mais uma coisa de amigos. Quem
oferece busca manter o carro em bom estado, já que se preocupa com a
própria segurança. Se o governo entrar no meio, vai ficar uma coisa
burocrática. Ninguém mais vai querer dar carona”.
Lucrar pode não
ser o objetivo, mas muitas vezes sobra dinheiro. Com a ajuda do
economista Alfredo Meneghetti Neto, professor da Pontifícia Universidade
Católica (PUC) do Rio Grande do Sul e especialista em finanças
pessoais, o EM mostra que a “ajuda de custo” paga por
caroneiros pode exceder as despesas da viagem. O cálculo considera que
um litro de gasolina custa R$ 2,90 e permite percorrer uma distância
média de 14 quilômetros. O trecho entre Pará de Minas e BH, por exemplo,
custaria R$ 32, incluindo despesas com óleo do motor, desgaste de
pneus, seguro do veículo e IPVA. Ao ir com o carro lotado (quatro
passageiros), o motorista recebe R$ 60 (R$ 15 por caroneiro). Excluídas
as despesas, portanto, sobrariam R$ 28 por viagem. Por sua vez, o
percurso entre a capital e Ipatinga resultaria em lucro de R$ 51; até
Diamantina, o excedente chegaria a R$ 81.
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