Felipe Canêdo
Estado de Minas: 25/02/2013
Enquanto as reservas de petróleo do mundo se tornam mais escassas e de mais difícil acesso e os preços dos combustíveis fósseis sobem, a demanda por etanol cresce no país com a expansão da frota de veículos flex, mas não é acompanhada por um aumento proporcional na produção. Pensando em alternativas para ampliar e diversificar a matriz de obtenção de etanol, estudantes do 2º período do curso de engenharia de energia da PUC Minas, sob orientação do professor Otávio de Avelar Esteves, conseguiram obter a substância a partir do processamento de cascas de eucalipto, e defendem que o procedimento deva ser adotado em larga escala no país.
Dados da tese de doutorado do pesquisador Juliano Bragatto, desenvolvida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), em novembro de 2011, apontam que a casca do eucalipto tem 20% menos carboidratos do que a de cana, mas como ela tem mais hidratos de carbono que podem sofrer fermentação – 83%, contra 65% da cana –, em um balanço final a casca fresca de eucalipto teria uma vantagem de cerca de 6%. "Uma tonelada de cana produz cerca de 80 litros de etanol, enquanto uma tonelada de casca fresca de eucalipto produz 106, ou seja, no mínimo 20% a mais. É importante lembrar que a casca degrada mais rapidamente que a cana e perde açucares mais rapidamente", afirma.
Bragatto acredita que a tendência de aproveitar a biomassa deve crescer nos próximos anos em todo o mundo e defende que o Brasil deve aproveitar isso. "Nosso país é o que chamam de 'hotspot de biomassa', temos o bagaço da cana e o rejeito de eucalipto em abundância", explica. Ele lembra que as condições climáticas e de luminosidade são ideais no país para o crescimento das culturas de cana e de eucalipto. Bragatto afirma que a casca de eucalipto deve começar a ser aproveitada pela indústria de celulose nos próximos anos, para produzir bioplástico ou para etanol. Na comparação com a cana, o pesquisador destaca que o caldo ganha da casca de eucalipto por produtividade: "Um hectare de cana-de-açúcar produz cerca de 6 mil litros de etanol, enquanto um de casca de eucalipto produz 2,6 mil litros. Já o hectare de milho e de beterraba produz cerca de 3 mil litros, e é bom lembrar que eles são alimentos."
Os estudantes Pedro Henrique Alves da Silva, de 19 anos, Paulo Henrique Roversi, de 19, Carolina Maria de Oliveira, de 18, Gabriel Fabel, de 18, e Elena Velloso, de 20, são mais otimistas. "A produção da casca é mais barata e vantajosa e que pode ser muito mais barata se for feita em escala industrial", avalia Pedro Henrique. Ele ressalta que a casca de eucalipto não concorre com a indústria alimentícia, não passa por períodos de entressafra e não é usada para a produção de celulose. Os estudantes passaram quatro meses pesquisando e testando em laboratório o eucalipto e outras matérias-primas. Outros estudantes do mesmo período produziram etanol de beterraba e de outros alimentos. "Pensamos testar com bananas ou com mandioca, mas nos decidimos pelo eucalipto e ele foi o mais eficiente entre os insumos pesquisados", diz o estudante.
COMPETITIVIDADE O consultor da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Alfred Szmarc, conta que existem várias iniciativas no país e no mundo para consolidar o processo de produção de etanol celulósico a partir do bagaço e da palha da cana, mas defende que a possibilidade de o insumo ser obtido em larga escala a partir de cascas de eucalipto ainda tem que ser demonstrada. Ele explica que o princípio utilizado na casca é de certa forma o mesmo utilizado no bagaço e na palha. "Acho ótimo ouvir sobre essas iniciativas e torço para que deem realmente certo. Mas, pelo que conheço do assunto, acredito que a competitividade do etanol de cana é maior. Nem sempre é possível reproduzir em escala industrial o que é feito em laboratório e projetos para se produzir álcool a partir de madeira existem no país desde a década de 1970", afirma.
Szmarc se diz otimista em relação à recuperação de competitividade do etanol, e espera que o governo anuncie medidas ainda neste semestre para beneficiar a indústria canavieira. "Por praticamente sete ou oito anos o preço da gasolina para o consumidor quase não alterou. Enquanto isso, o preço do etanol ao longo desse tempo variou livremente e os custos de terra e agrícolas aumentaram. O etanol foi se tornando cada vez menos competitivo em relação à gasolina. Some-se a isso a crise de 2008, que atingiu o setor", lembra. Ele desmente também a ideia de que a variação no preço do açúcar interfere fortemente na produção de etanol: "Isso é uma lenda urbana. O produtor não consegue reverter toda a sua produção para o açúcar ou para o etanol. A flexibilidade não ultrapassa os 10% ou 12%".
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