sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo

Juiz eletrônico
Após o teste sem percalços no Mundial de Clubes, em 2012, a Fifa anuncia que usará recursos tecnológicos para dirimir lances duvidosos em partidas da Copa das Confederações, que se realiza em junho, e da Copa do Mundo, em 2014.
A decisão parece trivial, mas equivale no meio futebolístico à derrocada de um dogma. Há anos a entidade máxima do esporte resiste à ideia de recorrer à TV ou a outro meio para auxiliar os árbitros em decisões críticas.
Um exemplo famoso é o gol validado a favor da seleção inglesa, na final da Copa de 1966, numa jogada em que a bola não teria cruzado a baliza defendida pela Alemanha. Os ingleses venceram o Mundial, mas o fatídico lance continua a ser questionado.
Foi justamente em casos como esse que a Fifa deliberou ceder. Nas duas competições que serão disputadas no Brasil, os estádios contarão com a chamada "tecnologia da linha do gol" (GLT, em inglês), que permitirá saber se a bola entrou ou não na meta.
Recurso análogo é usado nos torneios mais importantes do circuito mundial de tênis, nos quais os jogadores têm direito a um número limitado de "desafios" às decisões do juiz de linha. Quando isso ocorre, consulta-se a imagem gerada por um sistema eletrônico que mostra a trajetória da bola.
Os argumentos conservadores contêm, no entanto, pontos a considerar. É impossível, por exemplo, implantar a tecnologia em todos os campos oficiais do planeta. Cria-se, portanto, uma desigualdade na arbitragem do mesmo esporte.
Além disso, o futebol teria a peculiaridade de ser uma disputa na qual nem sempre vence o melhor. Fatores variados, alguns fortuitos, podem interferir numa partida e propiciar um placar inesperado. O erro de arbitragem, na visão dos que rejeitam a tecnologia, seria um desses fatores e precisaria seguir como parte do jogo.
É difícil, contudo, sustentar essa visão quando milhões de espectadores -para não falar de investidores e patrocinadores- podem constatar pela TV que a arbitragem errou num lance crucial.
Se há possibilidade de minimizar tais equívocos, ainda que somente em competições de ponta, não há por que deixar de fazê-lo.

    EDITORIAIS
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    Aquecimento eleitoral
    Movimentações partidárias indicam competição mais acirrada no pleito de 2014, o que pode ser bom -se não degenerar em sectarismo
    Esta semana marcou a abertura explícita das transações partidárias rumo à disputa presidencial de 2014. Os primeiros passos indicam que a presidente Dilma Rousseff será mesmo o nome do PT -e que sua reeleição não será exatamente um passeio.
    Movimentam-se para confrontá-la, há tempos, dois políticos competitivos: o senador Aécio Neves (PSDB) e a ex-ministra Marina Silva -que corre para lançar sua Rede até outubro e, assim, habilitar-se.
    Também se pôs em prontidão um quarto elemento interessado na disputa, Eduardo Campos (PSB). O governador de Pernambuco teria o desafio de concorrer numa penumbrosa faixa entre situação e oposição -seu partido compõe a coalizão de apoio à administração de Dilma, e Campos mantém ligação estreita com o ex-presidente Lula.
    A experiência de mais de dois séculos com reeleições nos EUA corrobora a tendência observada na curta vigência do sistema no Brasil. A regra é o presidente obter o segundo mandato, mas quadros econômicos desfavoráveis e desgaste político do governante de turno ajudam a explicar as exceções.
    Apesar da frente fria que ronda o desempenho do PIB, na primeira metade do governo Dilma, a sensação de aquecimento -principalmente no mercado de trabalho e no consumo popular- lhe é favorável. A confirmar-se, a discreta elevação na temperatura da economia prevista para 2013 e 2014 será suficiente para manter a excelente trajetória do emprego e do salário.
    Diante da elevada popularidade presidencial e da arrebatadora capacidade de cooptação do Planalto, deveria haver poucos candidatos competitivos para 2014. Não é isso o que vai se configurando.
    Estará em curso mudança em favor de um nome avesso às práticas usuais da política, embora ainda carente de substância programática, como Marina Silva? Abre-se oportunidade para um governador do Nordeste, Eduardo Campos, quebrar a série de cinco vitórias de políticos baseados nas regiões mais ricas do país? O anunciado fim da hegemonia paulista no PSDB dará repercussão nacional à ainda acanhada candidatura do mineiro Aécio Neves?
    Especulações à parte, o fato é que a geografia do voto, na hipótese de figurarem esses quatro candidatos na cédula, tende a ser diferente em 2014. Nos três pleitos até 2010, foram decisivos para as vitórias de Lula e Dilma os votos acumulados em Minas e no Nordeste.
    Com Aécio e Campos na disputa, ficará difícil repetir esse padrão. Marina, por seu turno, revelou-se competitiva entre camadas médias dos grandes centros urbanos.
    Um processo eleitoral mais disputado será bom para o país, desde que privilegie o debate de ideias, currículos, programas e uma avaliação objetiva da gestão de Dilma.
    Se vingarem os sinais recentes do partido da presidente, contudo, o embate será travado no campo do sectarismo truculento -como ficou patente nas agressões à repórter Daniela Lima, da Folha, e à blogueira cubana Yoani Sánchez.

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