Estado de Minas - 27/03/2013
Os meninos crescem e o
amor segue seus passos. A cada dia uma novidade. Aquele finge que não
sabe falar, mas entende tudo e, por conforto, prefere esperar que os
adultos lhe mostrem os objetos. Mão estendida, sem essa canseira de
gastar palavras, o que ele terá de fazer por toda a sua vida a partir do
momento que for descoberta sua esperteza. O fascinante, para esse avô
desengonçado, é perceber a noção de ritmo que ele tem. A música o conduz
a sorrisos, palmas e pés que batem no chão. A imitação do gestual dos
pais revela inteligência e criatividade. Meus olhos brilham na
contemplação da cena.
Ela continua me deslumbrando pela alegria, carinho e inventividade. É tão bom saber que sou amado por pessoa tão pura. No telefone, “ei vô”, eu me desmancho. Mas ao vivo é uma festa que não tem tamanho, um renovar de energia, uma vontade cada vez maior de ter saúde e viver muito. No tempo das filhas, vivia também de boca aberta de deslumbramento. Mas ter direito a essa segunda chance é algo que me dá um contentamento difícil de narrar. Fui contemplado pela felicidade, penso.
Assisti hoje, com eles, à versão original de Peter Pan. Viajei horrores revendo minha experiência de menino, aqueles músicas, aquele desenho, aquele voo à Terra do Nunca, que, para mim, é a Terra do Sempre. Nenhuma nostalgia de minha infância, apenas a constatação de que, quando a tive, aproveitei às pampas.
Na imaginação e na folia das brincadeiras de rua com os parceiros da mesma idade. Quem não foi Peter Pan, quem não combateu o Capitão Gancho, quem não gargalhou com o crocodilo que engoliu o braço e o despertador, e se encantou com as sereias? Naquele tempo em que o erotismo começava a despontar no corpo dos meninos.
Mas agora não sou o cowboy. Eles é que são, os meus pequenos e amorosos companheiros de filme. Ela é calma e assiste a tudo com atenção e risos. Ele tem mil interesses. Quando se fixa na tela da televisão, ri e pula, sempre no ritmo das canções. A visão dessas vidas sem maldade, abertas ao afeto, me ensina muito. No meu convívio com o mundo, com os obstáculos que dificultam nosso caminho, encarceram nossas aspirações de liberdade e justiça, sinto que é possível não usar máscaras, mentir, ser falso.
A desilusão com as promessas ideológicas, políticas e econômicas é um fato que nenhuma campanha de marketing vai solucionar. É desolador assistir às atitudes dos que chegam ao poder, ilusório, e se dizem donos da verdade.
Não há verdade única, nem absoluta. E o poder não tem o poder de esconder eternamente a verdade, escrevi um dia para um cartaz que retratava Galileu. Porém, me mantenho em pé e teimosamente esperançoso ao conviver com os meus meninos.
>> www.fernandobrant@hotmail.com
Ela continua me deslumbrando pela alegria, carinho e inventividade. É tão bom saber que sou amado por pessoa tão pura. No telefone, “ei vô”, eu me desmancho. Mas ao vivo é uma festa que não tem tamanho, um renovar de energia, uma vontade cada vez maior de ter saúde e viver muito. No tempo das filhas, vivia também de boca aberta de deslumbramento. Mas ter direito a essa segunda chance é algo que me dá um contentamento difícil de narrar. Fui contemplado pela felicidade, penso.
Assisti hoje, com eles, à versão original de Peter Pan. Viajei horrores revendo minha experiência de menino, aqueles músicas, aquele desenho, aquele voo à Terra do Nunca, que, para mim, é a Terra do Sempre. Nenhuma nostalgia de minha infância, apenas a constatação de que, quando a tive, aproveitei às pampas.
Na imaginação e na folia das brincadeiras de rua com os parceiros da mesma idade. Quem não foi Peter Pan, quem não combateu o Capitão Gancho, quem não gargalhou com o crocodilo que engoliu o braço e o despertador, e se encantou com as sereias? Naquele tempo em que o erotismo começava a despontar no corpo dos meninos.
Mas agora não sou o cowboy. Eles é que são, os meus pequenos e amorosos companheiros de filme. Ela é calma e assiste a tudo com atenção e risos. Ele tem mil interesses. Quando se fixa na tela da televisão, ri e pula, sempre no ritmo das canções. A visão dessas vidas sem maldade, abertas ao afeto, me ensina muito. No meu convívio com o mundo, com os obstáculos que dificultam nosso caminho, encarceram nossas aspirações de liberdade e justiça, sinto que é possível não usar máscaras, mentir, ser falso.
A desilusão com as promessas ideológicas, políticas e econômicas é um fato que nenhuma campanha de marketing vai solucionar. É desolador assistir às atitudes dos que chegam ao poder, ilusório, e se dizem donos da verdade.
Não há verdade única, nem absoluta. E o poder não tem o poder de esconder eternamente a verdade, escrevi um dia para um cartaz que retratava Galileu. Porém, me mantenho em pé e teimosamente esperançoso ao conviver com os meus meninos.
>> www.fernandobrant@hotmail.com
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