Riscos no céu
RIO DE JANEIRO - Há anos, uma amiga de São Paulo disse que não ia ao Rio porque tinha medo de balas perdidas. Expliquei-lhe que, a não ser que subisse a um morro em busca de alguma substância -e se visse num tiroteio entre a polícia e uma quadrilha ou entre duas quadrilhas-, sua chance de levar uma bala perdida era menor que a de ser atingida por um raio em São Paulo.
A amiga tomou aquilo como provocação, mas insisti que se tratava de simples estatística. O Brasil é campeão mundial em incidência de raios, e São Paulo, pela quantidade de prédios altos, é a cidade mais sujeita a descargas. Não queria dizer que bastava sair à rua para ser atingido por um raio. Mas o mesmo se aplicava às balas perdidas no Rio -a probabilidade de levar uma era menor até que a de ganhar no bicho jogando no cavalo no dia de são Jorge.
Em 2008, quando as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) começaram a ser implantadas em morros do Rio, ainda houve 181 casos de balas perdidas. Desde então, o número só diminuiu -em 2012, reduziu-se a 35. Os disparos de arma de fogo também caíram drasticamente, sendo que, em Copacabana -a que pertencem a ladeira dos Tabajaras e os morros Chapéu Mangueira, da Babilônia e dos Cabritos-, não se ouviu um tiro no ano passado.
Ao contrário, o que hoje se ouve neles e nos outros é o eco de uma crescente prosperidade. São empresas como bancos, farmácias, supermercados e shoppings que começam a se instalar ali, ou são os moradores que se convertem em microempresários e buscam financiamento para seus projetos. Enquanto esse clima perdurar, não haverá espaço para balas perdidas.
Ah, sim, os raios em São Paulo. Na noite de Natal de 2012, caíram 1.300. Na de 14 de fevereiro último, 1.958. São lindos ao riscar o céu e, que eu saiba, é raro um deles acertar alguém.
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