Aécio sob pressão
Apoio do PSDB paulista, enfim, exige que senador defina plataforma para 2014, sob pena de abrir espaço para Eduardo Campos, do PSB
O evento desta segunda-feira do PSDB paulista, para demonstrar apoio ao senador Aécio Neves, atenua a imagem de uma divisão grave no maior partido da oposição. Os tucanos seguem tão unidos -ou desunidos- como têm estado desde que deixaram o governo federal, no início da década passada.Desde então, um punhado de caciques disputa e controla as indicações nas eleições majoritárias. A soma de suas personalidades e veleidades entra em atrito constante, e às vezes em franca contradição, com as diretrizes de estabelecer um programa partidário coerente e de privilegiar condutas que se sobreponham ao personalismo.
O que acontece há dois anos nesse minúsculo grupo de comando é o enfraquecimento de um de seus próceres, José Serra. Duas derrotas sucessivas -para a Presidência, em 2010, e para a prefeitura paulistana, em 2012- anularam sua capacidade de colocar-se no caminho de Aécio Neves.
O ex-governador paulista tornou-se um incômodo menor no processo de unção do senador mineiro à condição de candidato tucano ao Planalto em 2014. Com a bênção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador Geraldo Alckmin, Aécio deverá assumir o comando da legenda em maio e, a partir daí, desenvolver sua estratégia até a eleição.
Aécio Neves está sozinho na disputa interna, e esse é o seu maior problema. Enquanto se debatia com lideranças mais fortes, como em 2010 contra Serra, tinha ao menos um pretexto para não dizer exatamente a que veio. Agora o candidato que pretende governar o Brasil, antepondo-se a uma presidente popular que será competitiva no ano que vem, está desafiado a revelar, sem subterfúgios, sua plataforma e sua personalidade.
Os primeiros ensaios e discursos de Aécio Neves têm sido desapontadores. Não se depreende muito bem o que deseja fazer de diferente em relação à administração Dilma Rousseff. Melhorar a operação da Petrobras, emancipar os mais pobres da dependência de bolsas e recursos públicos e aperfeiçoar a gestão federal, tópicos aos quais Aécio se aferra, seriam temas adequados a qualquer candidato, de situação ou de oposição.
Saber em que se distinguiria a candidatura de Aécio Neves é ainda mais crucial para o PSDB diante da desenvoltura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), nesta aquecida pré-temporada eleitoral. Semidesgarrado do bloco governista, Campos arrebata simpatias em setores da opinião pública e do empresariado usualmente próximos dos tucanos.
Talvez esse veio não seja largo o suficiente para abrigar dois candidatos fortes de oposição em 2014.
EDITORIAIS
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Cem dias de Maduro
Alçado a presidente interino em dezembro por vontade de Hugo Chávez, o ex-chanceler venezuelano Nicolás Maduro completou cem dias de governo incapaz de demonstrar que tem condições de sobreviver longe da sombra do mentor, ainda insepulto.Para a eleição presidencial do dia 14, o deficit de personalidade própria não chega a ser tão prejudicial. Lastreado numa retórica religiosa, Maduro faz campanha comparando Chávez a Cristo e se proclama seu apóstolo. Ao mesmo tempo, lança ataques baixos contra o adversário Henrique Capriles até com insinuações sexuais.
Seguindo o manual chavista, o aprendiz de caudilho abusa da máquina estatal e permanece horas ao vivo nos meios de comunicação oficiais, que ignoram a campanha oposicionista sob a complacência do Conselho Nacional Eleitoral. O CNE, por outro lado, abriu investigação contra três pequenos jornais por publicarem propaganda de Capriles promovida por uma ONG, o que a lei eleitoral não permite.
A campanha emotiva tem conseguido deixar em segundo plano a precária situação econômica do país. Maduro anunciou na semana passada, por exemplo, um novo sistema de leilão de dólares para empresas, com o objetivo de minorar a crônica falta de alimentos -quase sempre importados- nas prateleiras dos supermercados.
Em fevereiro, o governo já se vira obrigado a desvalorizar em 32% o bolívar forte, medida insuficiente para acalmar o mercado paralelo, que opera com cotação quatro vezes maior que a oficial.
A origem das dificuldades está na situação delicada da PDVSA, a estatal petroleira que serve de fonte de financiamento dos programas sociais de Chávez. O derrame de recursos pela empresa mascara a péssima administração do sistema educacional e o recurso a iniciativas sociais fracassadas, como as comunas de inspiração soviética.
Apesar de certa recuperação no preço de petróleo em relação a 2011, a PDVSA, cada vez mais dependente de aportes chineses, viu seu lucro cair 6,1% em 2012, segundo os números pouco confiáveis do governo. Seus cofres não podem sustentar o regime para sempre.
A comoção provocada pela morte de Chávez e a campanha eleitoral curta colocam Maduro como favorito, segundo as pesquisas de opinião. Mais difícil é prever como o chavismo, precariamente unido em torno de um líder sem brilho próprio, se sairá quando tiver de adotar medidas mais impopulares no campo econômico.
Apenas adiar o enterro de Chávez não será, então, o bastante.
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