O NOVO PAPA
De família de imigrantes, Jorge Mario Bergoglio estudou literatura e psicologia e foi indicado cardeal em 2001
Ele é acusado por intelectuais de esquerda por ter encoberto crimes e apoiado os militares
Todos os dias, Jorge Mario Bergoglio abre o portão da sede do Arcebispado de Buenos Aires, onde vive, às 5h30 da manhã. Atravessa a via do centro da capital argentina, compra jornais e os lê tomando mate. Normalmente, não usa batina. Se tem uma reunião, prefere o terno.
E se tem de deslocar-se para um local mais distante, como os bairros de Flores, Barracas e Almagro, onde estão paróquias que acompanha de perto, vai de metrô e ônibus.
Assim é a vida do novo papa, um jesuíta que prega a humildade e que, quando foi indicado cardeal, impediu conhecidos de irem a Roma acompanhar a cerimônia, pedindo-lhes que preferissem usar o dinheiro de suas passagens para ajudar os pobres.
É conhecido por seu trabalho nas "villas" (favelas argentinas) e por apoiar os chamados "curas villeros", padres que se dedicam aos pobres dessas áreas.
Bergoglio recusou-se a receber a casa a que teria direito, preferindo viver no arcebispado, e dispensou também o carro e o chofer.
De família de imigrantes, é um dos cinco filhos de um operário de ferrovia. Pouco depois de ser ordenado padre, em 1969, teve uma grave infecção e tirou um pulmão.
Estudou literatura e psicologia, fez escola técnica de química e foi indicado cardeal em 2001, pelo papa João Paulo 2º.
Assumiu pouco antes da grande crise argentina daquele ano e, por causa dela, deu a bênção a cinco presidentes em uma semana.
A pobreza sempre esteve no foco de suas preocupações. E, durante a gestão Néstor Kirchner (2003-2007), enfrentou o então presidente afirmando que era "imoral, ilegítimo e injusto" permitir que a desigualdade continuasse crescendo no país.
"Direitos humanos não são violados apenas por conta do terrorismo, repressão ou assassinatos, mas também por injustas estruturas econômicas que criam grandes desigualdades", afirmou.
REGIME MILITAR
A parte mais obscura da trajetória de Bergoglio, porém, tem a ver com sua atuação durante a ditadura militar (1976-1983). Ele é acusado por ativistas de direitos humanos de encobrir crimes, apoiar o regime e entregar dois sacerdotes à repressão. Foram eles Francisco Jalics e Orlando Yorio.
O principal denunciador do comportamento de Bergoglio é o jornalista e hoje assessor informal de Cristina, Horacio Verbitsky. Em seu livro "El Silencio", lançado em 2005, Verbistky diz que ambos foram sequestrados pelo Grupo de Tarefas da Marinha em 26 de maio de 1976 e levados à ESMA (Escola Mecanica da Armada), onde foram interrogados, torturados e passaram seis meses em cativeiro. Eles teriam ligação com grupos de resistência à ditadura.
Bergoglio sempre negou qualquer tipo de colaboração com a ditadura e que tenha entregue os dois sacerdotes à repressão. Disse que, ao contrário, tentou ajudá-los.
Verbitsky ainda o acusa de saber sobre o sequestro de bebês por parte dos militares, prática comum no período.
Recentemente, Bergoglio teve um enfrentamento com a presidente Cristina Kirchner por causa da aprovação do casamento gay, afirmando que as crianças argentinas devem ser criadas por mães e pais.
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