sexta-feira, 5 de abril de 2013

Pastor sob segurança máxima-Maria Clara Prates‏

Supremo isola prédio para o interrogatório hoje do deputado Marco Feliciano em processo por estelionato. Apesar de o caso não correr em segredo de Justiça, audiência será fechada 


Maria Clara Prates

Estado de Minas: 05/04/2013 

Os protestos contra o deputado federal pastor Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, que se arrastam há quase um mês, fizeram com que a Justiça montasse um esquema especial de segurança para hoje, quando o parlamentar vai depor em processo no qual é acusado de estelionato. A segurança do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu isolar o prédio para o interrogatório do deputado e restringir a entrada no complexo que abriga a Corte. Nas quatro sessões do colegiado desde que tomou posse no comando do colegiado, no início de março, o pastor do Templo Avivamento, acusado de racismo e homofobia, enfrentou fortes protestos, que deixaram um saldo de duas detenções de manifestantes e a decisão, inédita na Câmara, de fechar as reuniões da comissão ao público. Pressionado por líderes partidários a renunciar ao cargo, Feliciano é ainda alvo de uma série de representações por causa de suas atitudes (veja quadro).

A audiência de interrogatório no STF vai ocorrer a portas fechadas por decisão do relator do processo, ministro Ricardo Lewandowski. Na sala do magistrado serão acomodados o réu, o representante da Procuradoria da República, os advogados do parlamentar e os servidores da Corte. Como o processo não está sob segredo de Justiça, os jornalistas poderão ter acesso, depois da sessão, ao depoimento do pastor, que será gravado e filmado, garantiu o relator. O ministro Lewandowski – que atuou como revisor do processo do mensalão – justificou o reforço na segurança e o depoimento fechado: “É preciso que ele (Feliciano) tenha livre trânsito, que os advogados, a procuradora e o juiz possam trabalhar com toda a tranquilidade para não tumultuar, não haver assédio. Quero garantir a tranquilidade do interrogando. Isso vai ser gravado e filmado. Vocês requeiram (o acesso ao depoimento) que eu vou analisar”, completou.

Calote De acordo com a denúncia, oferecida em 2009 pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, quando Marco Feliciano ainda não era deputado federal, ele e um assessor firmaram um contrato para a realização de um show religioso em São Gabriel, a 320 quilômetros de Porto Alegre, ao qual o pastor não compareceu. À época, a produtora do evento teria feito depósito de R$ 13 mil, referente ao cachê da apresentação, na conta indicada pelo pastor. Mas, depois do acerto, o assessor do hoje parlamentar teria ligado para a produtora e advogada Liane Pires Marques para informar que Feliciano tinha sofrido um acidente no Rio de Janeiro e, portanto, não poderia comparecer ao compromisso. Intrigada com o fato, a advogada buscou informações e verificou que não foi registrado nenhum acidente com evangélicos do Templo do Avivamento. Segundo ela, na verdade Feliciano tinha uma entrevista em uma rádio, que lhe teria oferecido o dobro do cachê pago pela produtora gaúcha.

Além do processo criminal no STF, o deputado responde também a uma ação cível que ainda tramita em São Gabriel. Nela, a advogada Liane pede indenização pelo prejuízos causados pela ausência do pastor no evento. No ano passado, a Justiça determinou que Marco Feliciano pagasse os R$ 13 mil a Liane como devolução do cachê. O deputado pagou, mas ela pede mais. Segundo a produtora, o prejuízo comprovado teria sido de quase R$ 100 mil na época, em despesas com segurança, passagens aéreas e estrutura para o show. Ainda segundo Liane, a dívida hoje estaria em R$ 2 milhões. A defesa do deputado nega a acusação. Segundo o advogado Rafael Novaes, Feliciano teria recebido o dinheiro e tentado devolvê-lo. No entanto, diz, os organizadores do evento teriam se recusado a receber o valor e optado por recorrer à Justiça.

No meio do um verdadeiro turbilhão – alimentado, de um lado, por manifestantes em defesa dos direitos humanos, e de outro, pela pressão dos próprios colegas e até correligionários na Câmara para que ele deixe a comissão –, Marco Feliciano bem que tentou adiar o interrogatório. Mas o argumento não convenceu o ministro Lewandowski. Segundo alegou o pastor, ele já estava comprometido para ministrar um culto religioso no Pará. “Indefiro tal pretensão, porquanto a data, sexta-feira, foi escolhida de modo a não prejudicar a atuação parlamentar do denunciado. Ademais, as atividades judiciárias preferem a quaisquer outras de natureza privada”, afirmou Lewandowski no despacho.

Os pecados de Feliciano

representações e processos contra o deputado


Estelionato
O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) será ouvido hoje no Supremo no processo em que é acusado de estelionato. A denúncia foi feita pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul em 2009, antes de Feliciano tomar posse como deputado federal. O processo foi remetido ao STF em razão do foro privilegiado. A acusação afirma que o parlamentar e pastor firmou contrato para ministrar um culto religioso mas não compareceu. Na ação, o deputado é acusado de obter para si a vantagem ilícita de R$ 13.362,83 simulando um contrato "para induzir a vítima a depositar a quantia supramencionada na conta bancária fornecida".

Homofobia
Em 17 de março, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, enquadrou Feliciano na lei que define crimes de preconceito de raça ou cor. Ele quer que o Supremo Tribunal Federal instaure ação penal por discriminação e condene o deputado a pena de prisão e pagamento de multa. O procurador entendeu que duas mensagens postadas por Feliciano no Twitter tinham conteúdo discriminatório. Como não existe no Brasil lei que estabelece pena por homofobia, o procurador-geral usou a norma que estipula pena de prisão para quem "praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". O pastor argumenta que está sendo “vítima de uma perseguição fria e calculista”.

Difamação
Em 1º de abril, os deputados Jean Wyllys (PSOL-RJ), Érika Kokay (PT-DF) e Domingos Francisco Dutra (PT-MA) entraram com representação criminal na Procuradoria Geral da República contra Feliciano e o empresário Silas Lima Malafaia, que estariam usando empresa de assessoria para difamá-los. Eles pedem a acusação de Feliciano e Malafaia por sete crimes: difamação, calúnia, falsificação de documento público, injúria, falsidade ideológica, formação de quadrilha ou bando e improbidade administrativa.

Ataque a colegas
Em 2 de abril, a deputada Iriny Lopes (PT-ES) protocolou representação da Mesa Diretora da Câmara contra o pastor em que afirma que, ao dizer que a Comissão de Direitos Humanos era “dominada” por “Satanás” , o pastor feriu a honra e a imagem dos colegas. Essa representação, assim como a feita por grupo liderado pelo PSOL, será encaminhada à Corregedoria da Câmara ou ao Conselho de Ética da Casa. A mesma denúncia foi levada à Procuradoria Geral da República.

Quebra de decoro
Um grupo de nove deputados do PSOL, PT, PSB e PMDB entregou à Mesa Diretora da Câmara, em 3 de abril, representação em que o pastor é acusado de quebra de decoro parlamentar ao empregar funcionário fantasma e utilizar verba da Casa para negócios particulares. Para o grupo, a conduta é “incompatível com o decoro parlamentar, punível com a perda do mandato”. Os deputados  apresentaram também recurso para anular a eleição de Feliciano ao comando da comissão.


Isolamento da comissão irrita deputados
Adriana Caitano
Publicação: 05/04/2013 04:00
Brasília – A decisão tomada por Marco Feliciano (PSC-SP) de proibir a entrada de manifestantes nas sessões da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) repercutiu na Câmara dos Deputados. Colegas dos mais variados partidos, incluindo o antecessor no comando da CDHM, integrantes da mesa diretora e o próprio presidente da Câmara, classificaram de arbitrária a opção de vetar a presença de público na Casa dos políticos eleitos justamente para representar a população. Apesar de boa parte dos deputados ser contrária à medida, houve quem defendesse a atitude do parlamentar e pastor evangélico, que se amparou em um artigo do Regimento Interno da Casa, que permite aos presidentes de comissões promover a ordem no colegiado quando necessário.

Durante a reunião de quarta-feira, Feliciano afirmou que apresentaria requerimento à comissão para tornar as futuras sessões restritas a deputados, assessores técnicos e jornalistas. Os integrantes presentes concordaram, e assim ficou definido. O presidente da CDHM, porém, não formalizou a decisão nem apresentou qualquer ofício à Secretaria Geral da Casa. “Ele apenas requisitou segurança para sua sessão, não há qualquer deliberação da mesa diretora sobre o assunto, pelo contrário, entendemos que as reuniões devem ser livres, abertas, principalmente nas comissões temáticas”, afirmou o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR).

Em Natal, onde se recupera de uma cirurgia de hérnia abdominal, o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), manifestou descontentamento com a decisão de Feliciano. Pouco depois, o deputado potiguar recebeu um telefonema do titular da CDHM. O pastor comunicou que não vai mais viajar à Bolívia na terça-feira, quando outra comitiva parlamentar visitará o município de Oruro para tratar do caso de 12 torcedores do Corinthians detidos há 44 dias pela morte de um adolescente boliviano durante uma partida de futebol. No mesmo dia, está marcada uma reunião de líderes na Câmara para discutir a situação de Feliciano.

Enquanto isso, as pressões internas crescem contra o deputado do PSC. “Trata-se de um desatino completo delimitar quem vai ou não participar de uma comissão de modo antidemocrático, o que é agravado por ser a de Direitos Humanos, que existe justamente para não haver esse tipo de segregação”, argumentou o deputado Nilmário Miranda (PT-MG), ex-presidente da CDHM. “O deputado não vota só para ele, é um representante, e o mínimo que se espera é que seus atos possam ser acompanhados pelos representados”, completou José Antônio Reguffe (PDT-DF). A Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos, criada por deputados contrários a Feliciano, decidiu enviar uma reclamação formal à Mesa Diretora da Casa sobre a decisão do pastor. O requerimento deve ser protocolado até o início da semana que vem. Além de determinar o fechamento das sessões, Feliciano pediu ao comando da Câmara que investigue se há funcionários de deputados participando das manifestações contra ele. 

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