Democracia é uma coisa, estelionato é outra muito diferente. É crime
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 09/05/2013
Prática ou
cultivo do passatempo das palavras cruzadas, o cruzadismo complica a
vida dos que leem um texto escrito por brilhante cruzadista como o
jornalista Lauro Diniz. Supondo que o destinatário seja conhecedor da
língua, o que não é o meu caso, o cruzadista se desculpa do lapso de ter
escrito “levar a domicílio” explicando que foi um hilotismo. E isso num
dia em que o philosopho dormiu pouco e mal, depois de continuadas
garrafas de vinho no melhor restaurante da cidade a convite de velho
amigo. Noitada que terminou às duas da manhã.
Hilotismo... Será
que alguém que não tenha o mestrado e o doutorado em cruzadismo conhece o
significado do substantivo masculino que entrou em nosso idioma em
1851? Será que alguém sabe o que significa hilota, substantivo de dois
gêneros que o português acolheu em 1823? Confesso que jamais soube dos
lexemas, como presumo que o pacientíssimo leitor, não sendo cruzadista,
também os desconheça. Se é assim, vamos lá: hilota, do grego heílós,ótos
'hilota, servo lacedemônio', pelo latim helótes,um ou ilótae,árum
'hilotas, escravos em Esparta'. Na rubrica história significava escravo
do Estado, que, em Esparta, cultivava o campo. Em sentido figurado,
pessoa de ínfima condição social ou que foi reduzida ao grau extremo da
miséria, do servilismo ou da ignorância. Hilotismo, como dá para
adivinhar, além de estado ou condição de servo, em sentido figurado é
ato, estado ou condição que revele abjeção e ignorância.
E isso
pela manhã, depois de noite maldormida. O jantar foi ótimo e uma das
convidadas, advogada famosa, prometeu mandar-me lista das frases que
retirou de textos que lhe passaram pelo escritório. Garanto que o leitor
vai morrer de rir. As frases não foram escritas pelos meninos do Enem,
mas por engenheiros formados, muitos deles com mestrados e doutorados.
Não vou dizer os nomes dos doutores nem da advogada, por motivos mais
que óbvios. Garanto que o leitor vai ficar horrorizado com o hilotismo
de profissionais que exercem altos cargos neste Piscinão de Ramos. E tem
mais uma coisa: os vinhos foram muitos, mas não tive ressaca. Faz tempo
que não tenho. Só pode ser o resultado de treinamento alcoólico durante
décadas.
Democracia
Desconcordo,
discrepo, divirjo de ilustre juiz de direito, por sinal meu amigo,
quando escreve que o deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) tem o
direito de dizer o que pensa e que isso é democracia. Não é, pelo menos
no direito que estudei com Benjamin de Moraes e Roberto Lyra, no ano de
mil novecentos e antigamente. Democracia é uma coisa, estelionato é
outra muito diferente. É crime: “obter, para si ou para outrem, vantagem
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro,
mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.
Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. É o artigo 171 do Código
Penal que está ultrapassado, mas foi nele que estudei. Ultrapassado,
segundo modernos operadores do direito, porque ninguém entende o
significado de “conjunção carnal”. Ora, bolas: mesmo não entendendo,
todo mundo conjunge.
Não me refiro à homofobia e ao racismo, mas
ao fato de o pastor manter em erro, mediante artifício, um monte de
bobos em seus templos, obtendo vantagem ilícita. Ele, Feliciano, e
milhares de outros, como aquele que tem um vídeo circulando na internet,
em que pede aos inquilinos que depositem em sua arapuca o valor de um
aluguel pago por mês, garantindo que ainda este ano todos os que
depositarem terão casa própria “em o nome do Senhor Jesus”. O pilantra
continua solto, risonho, isento de impostos, cada vez mais rico. Pode?
O mundo é uma bola
9
de maio de 1386: assinada a Aliança Luso-Britânica, entre Portugal e
Inglaterra, a mais antiga das alianças entre nações ainda em vigor.
Queixam-se muitos portugueses das tungas de que têm sido vítimas ao
longo dos séculos, considerando que os ingleses nunca foram de
brincadeira. Algo me diz que a Inglaterra se aliou a Portugal como forma
de combater os espanhóis, que também são carne de pescoço. Quase 200
anos depois da Aliança de 1386, Henrique VIII, de Inglaterra, casou-se
com uma espanhola bonitinha e estudada, com as credenciais de
cunhadinha, viúva de seu irmão. Está para nascer o homem que resista ao
amor cunhadio. Em 1605, Miguel de Cervantes Saavedra publica a primeira
parte de Don Qvixote de La Mancha, título e ortografia originais.
Cervantes e Shakespeare, expressões máximas das literaturas espanhola e
inglesa, morreram no mesmo dia de 1616, e é provável que um nunca tenha
ouvido falar do outro. Hoje, Caetano, o cantor, solta um pum na Bahia e
Feliciano, o pastor, diz que a ventosidade tem parte com o demônio. Em
1960, isso é, ainda outro dia, autorizada a venda de pílulas
anticoncepcionais nos Estados Unidos. Em 1837 nascia Antônio Luís von
Hoonholtz, o barão de Tefé, diplomata, geógrafo, político e almirante da
Marinha do Brasil, morto em 1931. Em Esperantina (PI), hoje é o Dia do
Orgasmo.
Ruminanças
“Bons tempos aqueles
em que havia pessoas de ambos os sexos. Hoje, são tantos os sexos que a
gente se confunde.” (R. Manso Neto).
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