quinta-feira, 9 de maio de 2013

Eduardo Almeida Reis» Cruzadismo‏

Democracia é uma coisa, estelionato é outra muito diferente. É crime 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 09/05/2013 

Prática ou cultivo do passatempo das palavras cruzadas, o cruzadismo complica a vida dos que leem um texto escrito por brilhante cruzadista como o jornalista Lauro Diniz. Supondo que o destinatário seja conhecedor da língua, o que não é o meu caso, o cruzadista se desculpa do lapso de ter escrito “levar a domicílio” explicando que foi um hilotismo. E isso num dia em que o philosopho dormiu pouco e mal, depois de continuadas garrafas de vinho no melhor restaurante da cidade a convite de velho amigo. Noitada que terminou às duas da manhã.

Hilotismo... Será que alguém que não tenha o mestrado e o doutorado em cruzadismo conhece o significado do substantivo masculino que entrou em nosso idioma em 1851? Será que alguém sabe o que significa hilota, substantivo de dois gêneros que o português acolheu em 1823? Confesso que jamais soube dos lexemas, como presumo que o pacientíssimo leitor, não sendo cruzadista, também os desconheça. Se é assim, vamos lá: hilota, do grego heílós,ótos 'hilota, servo lacedemônio', pelo latim helótes,um ou ilótae,árum 'hilotas, escravos em Esparta'. Na rubrica história significava escravo do Estado, que, em Esparta, cultivava o campo. Em sentido figurado, pessoa de ínfima condição social ou que foi reduzida ao grau extremo da miséria, do servilismo ou da ignorância. Hilotismo, como dá para adivinhar, além de estado ou condição de servo, em sentido figurado é ato, estado ou condição que revele abjeção e ignorância.

E isso pela manhã, depois de noite maldormida. O jantar foi ótimo e uma das convidadas, advogada famosa, prometeu mandar-me lista das frases que retirou de textos que lhe passaram pelo escritório. Garanto que o leitor vai morrer de rir. As frases não foram escritas pelos meninos do Enem, mas por engenheiros formados, muitos deles com mestrados e doutorados. Não vou dizer os nomes dos doutores nem da advogada, por motivos mais que óbvios. Garanto que o leitor vai ficar horrorizado com o hilotismo de profissionais que exercem altos cargos neste Piscinão de Ramos. E tem mais uma coisa: os vinhos foram muitos, mas não tive ressaca. Faz tempo que não tenho. Só pode ser o resultado de treinamento alcoólico durante décadas.


Democracia
Desconcordo, discrepo, divirjo de ilustre juiz de direito, por sinal meu amigo, quando escreve que o deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) tem o direito de dizer o que pensa e que isso é democracia. Não é, pelo menos no direito que estudei com Benjamin de Moraes e Roberto Lyra, no ano de mil novecentos e antigamente. Democracia é uma coisa, estelionato é outra muito diferente. É crime: “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”. Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. É o artigo 171 do Código Penal que está ultrapassado, mas foi nele que estudei. Ultrapassado, segundo modernos operadores do direito, porque ninguém entende o significado de “conjunção carnal”. Ora, bolas: mesmo não entendendo, todo mundo conjunge.

Não me refiro à homofobia e ao racismo, mas ao fato de o pastor manter em erro, mediante artifício, um monte de bobos em seus templos, obtendo vantagem ilícita. Ele, Feliciano, e milhares de outros, como aquele que tem um vídeo circulando na internet, em que pede aos inquilinos que depositem em sua arapuca o valor de um aluguel pago por mês, garantindo que ainda este ano todos os que depositarem terão casa própria “em o nome do Senhor Jesus”. O pilantra continua solto, risonho, isento de impostos, cada vez mais rico. Pode?


O mundo é uma bola
9 de maio de 1386: assinada a Aliança Luso-Britânica, entre Portugal e Inglaterra, a mais antiga das alianças entre nações ainda em vigor. Queixam-se muitos portugueses das tungas de que têm sido vítimas ao longo dos séculos, considerando que os ingleses nunca foram de brincadeira. Algo me diz que a Inglaterra se aliou a Portugal como forma de combater os espanhóis, que também são carne de pescoço. Quase 200 anos depois da Aliança de 1386, Henrique VIII, de Inglaterra, casou-se com uma espanhola bonitinha e estudada, com as credenciais de cunhadinha, viúva de seu irmão. Está para nascer o homem que resista ao amor cunhadio. Em 1605, Miguel de Cervantes Saavedra publica a primeira parte de Don Qvixote de La Mancha, título e ortografia originais. Cervantes e Shakespeare, expressões máximas das literaturas espanhola e inglesa, morreram no mesmo dia de 1616, e é provável que um nunca tenha ouvido falar do outro. Hoje, Caetano, o cantor, solta um pum na Bahia e Feliciano, o pastor, diz que a ventosidade tem parte com o demônio. Em 1960, isso é, ainda outro dia, autorizada a venda de pílulas anticoncepcionais nos Estados Unidos. Em 1837 nascia Antônio Luís von Hoonholtz, o barão de Tefé, diplomata, geógrafo, político e almirante da Marinha do Brasil, morto em 1931. Em Esperantina (PI), hoje é o Dia do Orgasmo.


Ruminanças
“Bons tempos aqueles em que havia pessoas de ambos os sexos. Hoje, são tantos os sexos que a gente se confunde.” (R. Manso Neto).

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