Gustavo Werneck / Enviado especial
Estado de Minas: 09/05/2013
Bispo de Campanha, dom Diamantino de Carvalho (C), e Paolo Vilotta, postulador da causa de beatificação de padre Victor |
A Praça da Matriz de Nossa Senhora da Ajuda, no Centro de Três Pontas, está cercada de estandartes com as fotos de Padre Victor, filho de uma escrava, natural de Campanha e residente na cidade durante 53 anos, e de Nossa Mãe, natural de Borda da Mata e priora, por 33 anos, da instituição das irmãs carmelitas, que vivem em regime de clausura. No memorial dedicado ao padre Victor, um imponente casarão colonial ao lado da matriz, há, em exposição, paramentos usados pelo sacerdote, livros, fotos de procissões, objetos pessoais, uma escultura em tamanho natural e documentos. Entusiasmada, a integrante da Associação Padre Victor de Três Pontas, Denise Barbosa Reis Abreu, explica que o processo de beatificação começou há 20 anos, com parecer complementar em 1998. “As pessoas têm muita fé em padre Victor. No dia da festa em homenagem a ele, em 23 de setembro, comparecem de 50 mil a 60 mil pessoas aqui.”
“Ao memorial, vem gente todos os dias, as pessoas relatam as graças alcançadas, e às segundas-feiras um grupo reza o terço”, conta Denise. O funcionário público aposentado Paulo Carvalho Vinhas, de 76 anos, tem a maior admiração por Padre Victor, e, assim, como os demais devotos do candidato a beato, fala com doçura e intimidade sobre a trajetória dele. Ao lado da mulher, Elza Tiso Vinhas, Paulo conta que recebeu uma graça imensa de Deus ao pedir a intercessão do padre para um problema de saúde. “Tive uma trombose mesentérica intestinal, que tratam popularmente como enfarte do intestino. Ao ser internado, clamei: ‘Padre Victor, não me deixe morrer’. A minha mulher levou ao hospital a relíquia e a pôs sobre o meu peito. Mantive a confiança, mesmo o médico dizendo que era preciso esperar 72 horas e que 99% dos casos são fatais. Hoje estou aqui, muito bem.”
HOMEM SANTO Com um sorriso Paulo Carvalho disse que, no seu caso, não foi um milagre, já que houve a intervenção dos médicos. “Mas foi uma grande bênção, tenho certeza de que padre Victor será beato e depois santo”, afirma, com alegria, ao lado de Elza, Célia de Carvalho Vinhas, Norma de Carvalho Vinhas e Inês Maria Frutuoso. Na Matriz de Nossa Senhora da Ajuda, onde há missa todos os domingos às 10h30, a visitação ao túmulo do sacerdote é intensa. As pessoas rezam, depositam flores, fazem pedidos, enfim, fazem a sua reverência à memória daquele que consideram um homem santo. Durante alguns minutos, a dona de casa Sueli Aparecida Amaral, de 40, moradora de Ilicínea, rezou contrita e fez os seus pedidos. “A minha filha nasceu com sério problema de refluxo e foi curada. Agradeço a Deus e ao padre Victor”, revelou, certa que padre Victor será o primeiro santo negro brasileiro. De genuinamente brasileiro, só existe São Frei Galvão, canonizado em cerimônia em São Paulo em 2007, pelo papa Bento XVI.
No Carmelo São José, onde estão sepultados os restos mortais da madre Tereza Margarida do Coração de Maria, a expectativa cresce a cada dia. No domingo, às 16h, Dia das Mães, dom Diamantino vai celebrar a missa encerrando a fase diocesana, com a presença do italiano Paolo Vilotta, postulador (advogado) da causa de beatificação de Nhá Chica, padre Victor, irmã Benigna e outros brasileiros, de um total de 40 processos de beatificação e canonização no mundo, que estão sob seus cuidados. Na segunda e terça-feira, ele participou do encontro no Memorial Padre Victor, ao lado de dom Diamantino, que falou sobre santidade e disse que os processos dos dois religiosos mineiros estão bem encaminhados.
“O doutor Paolo Vilotta vai levar toda a documentação ao Vaticano, encerrando a fase diocesana. Agora, vamos esperar por um milagre obtido por intercessão da serva de Deus”, disse a priora do Carmelo São José, irmã Vânia Maria do Espírito Santo. Ela explicou que, na ordem, é natural que as carmelitas chamem a superiora de Nossa Mãe, e assim, dessa forma carinhosa, a fundadora ficou conhecida pela população. “Mas, na beatificação, certamente será usado o nome de madre”, disse, com esperança, a religiosa, que conviveu com a priora durante 33 anos. “Nossa Mãe viveu uma vida de santidade e o mais importante é que isso dê exemplo para todas as pessoas. É uma forte candidata a santa”, afirmou.
CANDIDATOS A BEATIFICAÇÃO
PADRE VICTOR
A expectativa é de que padre Victor se torne o primeiro santo negro brasileiro. O processo de beatificação de Francisco de Paula Victor começou em 1993. Natural de Campanha, no Sul de Minas, ele atuou como padre em Três Pontas.
NOSSA MÃE
Madre Tereza Margarida do Coração de Maria (nome de batismo Maria Luiza), natural de Borda da Mata, no Sul de Minas.Em Três Pontas, fundou o Carmelo São José, onde viveu enclausurada de 1962 a 2005, quando morreu.
IRMÃ BENIGNA
Em janeiro, foi encerrada a fase diocesana do processo da serva de Deus Benigna Victima de Jesus, a irmã Benigna. Ela nasceu em 16 de agosto de 1907, em Diamantina. Tornou-se religiosa da Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, aos 28 anos. Morreu em 16 de outubro de 1981.
MONSENHOR ALDERIGI
Alderigi Maria Torriani nasceu em Jacutinga, no Sul de Minas. Morou na Itália durante a infância. Como padre assumiu a Paróquia de Santa Rita de Caldas, também no Sul do estado. O processo de beatificação começou em fevereiro de 2001.
MADRE MARIA IMACULADA
Maria Giselda Vilela, Mãezinha, nasceu em Maria da Fé, no Sul de Minas. Aos 13 anos teve um tumor na virilha. Morreu em janeiro de 1988, depois de seguir na vida cristã. O processo de beatificação começou em 2006
DOM VIÇOSO
O servo de Deus Antônio Ferreira Viçoso (1787-1875) ingressou no noviciado da Congregação da Missão, em Lisboa, em 25 de julho de 1811, sendo ordenado padre lazarista em 7 de março de 1818. Veio de Portugal para fundar missões na então província de Mato Grosso e acabou por se tornar diretor do Colégio do Caraça, em Minas.
DOM LUCIANO MENDES
A abertura do processo de beatificação de dom Luciano Mendes de Almeida, nascido no Rio de Janeiro e arcebispo de Mariana por 18 anos, foi anunciado em agosto de 2011. Ele morreu em 27 de agosto de 2006.
MONSENHOR HORTA
Monsenhor José Silvério Horta nasceu em Mariana em 20 de junho de 1859 e morreu em 30 de março de 1933. Servo de Deus, seu processo se encontra na fase diocesana de estudos há quatro anos.
ISABEL CRISTINA
A serva de Deus nasceu em Barbacena em 1962. Estudante em Juiz de Fora, na Zona da Mata, em 1º de setembro de 1982, um homem tentou violentá-la em casa. Lutou até a morte, atingida por 15 facadas, morrendo virgem. O processo de beatificação está em Roma de 2009.
FLORIPES DORNELAS DE JESUS (LOLA)
Leiga, nascida em 1913, em Mercês, na Zona da Mata, morreu em 9 de abril de 1999. O processo de virtude, aberto em 2004, se encontra na fase diocesana.
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