Zero Hora - 13/05/2013
Kleiton e eu tínhamos um show para fazer em São Paulo com orquestra
sinfônica e coral. Momentos antes da apresentação, recebemos a notícia
de que o maestro havia pedido demissão e estávamos sem regente. Pelo que
ficamos sabendo, o assunto estava relacionado com atraso dos salários e
um rumoroso caso extraconjugal que envolvia a mulher de um conselheiro
da orquestra. O que não vem ao caso agora.
Em solidariedade ao maestro demissionário, as cordas, os metais, as madeiras e os demais integrantes, levantaram acampamento.
Com a intenção de não frustrar as expectativas da plateia de um
teatro lotado, tentamos contornar a situação, para que o público
perdesse em volume, mas não em beleza. E a produção não perdesse na
bilheteria. Antes das cortinas serem abertas, fui encarregado de
explicar ao público as mudanças na programação. Respirei fundo e fui até
o microfone.
“Boa noite, meus amigos. Gostaria de um minuto da atenção de vocês.
Tivemos um pequeno problema em relação ao programa previsto para esta
noite, mas fizemos questão de não cancelar o espetáculo, em sinal de
respeito ao público aqui presente.
Segundo nota oficial da diretoria da orquestra, o maestro, cujo nome
prefiro omitir, ficou preso no aeroporto de Chicago, sem teto. Pelo
celular, o sujeito teria incitado os músicos a uma rebelião que chegou a
agressões físicas e culminou com a destruição parcial de um violino
Stradivarius. Entre outros.
A produção já estava entrando em pânico quando meu irmão, este santo
homem, disse que poderia tocar violino. O problema é que o violino dele
é cortado ao meio. Apesar das controvérsias, chegou-se a um consenso de
que seria melhor um pedaço de rabeca do que ter que cancelar o
espetáculo. Então, senhoras e senhores, tenho o prazer de apresentar, em
primeira audição, o show de Kleiton & Kledir com a Orquestra
Filarmínima de Porto Alegre, a menor orquestra do mundo, composta por
apenas 1/2 violino, mas executada por um músico de primeira grandeza. O
que equilibra a coisa toda.”
Abriram as cortinas, e fomos servidos aos leões.
Foi então que acordei suando, num quarto de hotel em São Paulo e me
dei conta de que tudo aquilo havia sido um pesadelo. Liguei assustado
para o meu produtor e recebi, com alívio, a notícia de que a orquestra
estava confirmada para o show daquela noite.
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