De fora pra dentro
Virada Cultural 2013, marcada para este fim de semana, tira atrações da periferia e se concentra no centro de SP
A primeira Virada Cultural da gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), marcada para este fim de semana, também vai ser menor do que a do ano passado, mesmo tendo o maior orçamento de toda a sua história, R$ 10 milhões.
Foram cortados da festa todos os Centros Educacionais Unificados, os CEUs, que no ano passado reuniram 162 apresentações.
No total, 4 milhões de pessoas foram a 790 eventos no centro e 414 em áreas periféricas em 2012. Agora, serão 784 atrações centrais e 226 em pontos distantes.
Com um orçamento 33% maior neste ano--foi de R$ 7,5 milhões para R$ 10 milhões--, a Virada diminuiu os eventos em cerca de 16%.
"Tudo que levava à dispersão, a gente reduziu", diz Juca Ferreira, secretário municipal da Cultura, à Folha.
"A Virada não diminuiu. Houve um reordenamento e fortalecimento de certos processos e redução de outros. O conceito da Virada é permitir uma convivência inaudita na cidade, por isso ela não pode se dispersar."
Ferreira ressalta que a periferia não está fora da Virada porque manifestações como rap, forró e funk voltaram à programação.
"O que nós não queremos é que a periferia tenha de ficar na periferia. Queremos que as pessoas que moram lá venham até a Virada."
"Acho isso um erro", ataca o vereador tucano Andrea Matarazzo, que lançou agora um projeto de lei para assegurar a realização da Virada. "Eu teria feito como sempre fizeram, para não sobrecarregar o centro."
José Mauro Gnaspini, que passou a dividir o comando da festa com outros oito curadores, diz que "talvez não seja a Virada que vá atender a periferia" e diz que há planos para criar outras festas menores ao longo do ano.
Na "maturidade" da Virada, ordem é concentrar atrações
Prefeitura atribui a redução do território da festa aos reforços em infraestrutura, limpeza e policiamento
"Nosso conceito não foi o de crescer a festa, mas qualificá-la, porque a grandeza dela já é sua marca", diz secretário
"Nosso conceito foi qualificar a Virada, porque a grandeza já é a sua marca", diz Juca Ferreira, secretário municipal da Cultura. "Ampliamos a higiene, a infraestrutura, os serviços. Não devemos pensar que a Virada resolve todos os eventos da cidade."
Ferreira diz que a concentração da Virada nas ruas do centro faz parte dessa "qualificação" e não contradiz uma das bandeiras do prefeito petista Fernando Haddad, de levar cultura à periferia, porque outros eventos em bairros fora do centro devem ser criados ao longo do ano.
"Talvez a festa tenha chegado mesmo ao seu limite", diz José Mauro Gnaspini, responsável pela programação da Virada desde sua primeira edição e hoje um dos curadores da festa. "Esse é o tamanho que a festa pode ter, e outras expansões serão em outros locais e outras datas."
Segundo Gnaspini, a posição e o tamanho dos palcos também foram repensados para evitar tumultos e, ao mesmo tempo, manter uma distância curta entre eles. Fora dos palcos, também haverá atrações de rua, que vão se deslocar entre as praças.
"Tem um interesse da população em se sentir convidada para a mesma festa." Percebemos que a população da periferia queria estar aqui", diz o curador, lembrando que, com a operação 24 horas dos trens da CPTM, esse acesso ficará mais fácil.
Mesmo mais concentrada, a Virada Cultural ficou mais cara agora por causa dos reforços na infraestrutura e "cachês mais equilibrados", nas palavras de Juca Ferreira.
Além do custo da Virada, que aumentou de R$ 7,5 milhões para R$ 10 milhões este ano, a prefeitura gastou R$ 2 milhões a mais --R$ 6,8 milhões contra R$ 4,8 milhões de 2012-- com a campanha publicitária para promover a edição da festa.
Matarazzo quer garantir a festa anual com lei
DE SÃO PAULOCom a troca de partidos no comando da prefeitura paulistana, o vereador tucano Andrea Matarazzo lançou um projeto de lei para "assegurar" a realização da Virada Cultural, criada na gestão do ex-prefeito José Serra, em 2005."Quero instituir a Virada Cultural como programa de governo, para assegurar que ela aconteça, não importa o partido que estiver no poder", diz Matarazzo. "É importante que ela continue com as características que ela já tem."
Matarazzo, que critica a concentração da Virada no centro, também incluiu na lei a exigência de que pelo menos 20% das atrações da festa sejam inéditas a cada ano, evitando "chavões de sempre" e abrindo espaço para "revelações".
Segundo o vereador, o projeto deve entrar em votação na Câmara paulistana no mês que vem.
Escalada às pressas, curadoria coletiva fez poucas mudanças
Resultado mais aparente apresentado pelos nove curadores foi a maior presença do rap
Nas primeiras oito edições da festa, a tarefa ficou nas mãos de José Mauro Gnaspini. Neste ano, na primeira Virada da gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) e do secretário municipal da Cultura Juca Ferreira, Gnaspini divide a curadoria com outras oito pessoas.
A contratação de especialistas em diferentes áreas, no entanto, teve pouco impacto na programação do evento.
"Tem mais diversidade e profundidade dentro dessa diversidade. Você acrescenta mais camadas, mas, pela grandeza do evento, talvez isso não fique tão aparente para as pessoas", diz Pena Schmidt, um dos curadores.
Uma das mudanças mais significativas da nona Virada é a volta do rap ao evento.
Além dos holofotes voltados para o retorno dos Racionais MCs à programação -a última apresentação do grupo, em 2007, foi marcada por um confronto entre o público e a polícia- e do show de Criolo, o rap terá agora um ponto dedicado ao gênero.
O palco Rio Branco - A Rua É Show receberá 24 apresentações de nomes como Emicida, Nelson Triunfo, Sombra e dois integrantes dos Racionais, KL Jay e Edi Rock.
"O rap era dissolvido em palcos, até como forma de amainar a confusão de 2007. A curadoria entende que devia dar um lugar apropriado ao rap", diz Schmidt. "A Virada é um evento que carrega a mudança e a evolução. Portanto, não é exótico ter um palco de forró e um de funk, por exemplo", completa.
Outra mudança é o destaque para as artes visuais, que não ficam mais só dentro dos museus da cidade. Intervenções como a do grupo Bijari, que construiu uma ponte luminosa sobre o vale do Anhangabaú e fez uma projeção para o Palácio da Justiça, devem chamar a atenção.
ÀS PRESSAS
Consenso entre os curadores é a falta de tempo para planejar a Virada deste ano. A comissão teve pouco mais de dois meses para conceber a programação. "Ideias ótimas apareceram, mas não tivemos tempo", diz Schmidt.
Nomes como Marisa Monte e Chico Buarque foram convidados, cobraram cachês muito altos, mas não houve tempo para negociações.
"Falta também cair a ficha para algumas pessoas de que não é hora de ganhar dinheiro, mas de fazer um preço generoso e dar um presente para o Brasil", comenta o curador Marcus Preto.
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