A boataria sobre o fim do Bolsa-Família
foi um jabuti com jeito, cor e cheiro eleitoral, prenúncio de luta
política renhida. Para conter o fogo, a PF precisa descobrir de onde ele
veio
Estado de Minas: 21/05/2013
Chegamos ao fim de
maio com o vento soprando na mesma direção, a de uma disputa precoce e
acirrada em 2014, trazendo uma importante definição e algumas
oscilações. A primeira, no campo da oposição. O PSDB logrou rara unidade
em sua convenção e fincou a candidatura de Aécio Neves. Na seara
governista, os últimos e imprecisos sinais emitidos pelo governador de
Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), alimentaram especulações (e desejos)
sobre um recuo em sua candidatura. Para o povo, sobrou a boataria
bizarra do fim de semana sobre o fim do Bolsa-Família. Um jabuti que tem
jeito, cor e cheiro eleitoral, prenunciando luta renhida.
Vejamos, até onde a vista alcança, cada um desses movimentos.
As três metas de Aécio
Começam
a ser veiculadas hoje as inserções das propaganda partidária semestral
do PSDB, que terminam com o programa de 20 minutos no dia 30. Aécio é o
protagonista dessa janela televisiva que o ajudará a tornar-se mais
conhecido. As peças buscam atender a insistente recomendação do
ex-presidente Fernando Henrique para que o PSDB busque o diálogo direto
com a população.
Agora, Aécio vai se concentrar em três tarefas.
A primeira, fortalecer a comunicação tucana por todos os meios e
mídias, e através das viagens que ele fará pelo Brasil, para encontros
diretos com a sociedade. Algo como as caravanas de Lula, embora evitem a
palavra.
Na superestrutura política, ele vai acelerar os
contatos com outros partidos com vistas à futura coligação, começando
por DEM, o PPS e o PMN, que formarão a nova MD. A terceira tarefa será a
elaboração do programa de governo, montando uma equipe que não se
restringirá aos economistas do Plano Real, com os quais já dialoga.
De
fato, a executiva montada por Aécio é mais orgânica e representa todo o
mosaico tucano, inclusive o serrismo. Indo à convenção, Serra indicou
que fica no partido, mas seu discurso ainda foi um tanto ambivalente.
Por exemplo, ao dizer e repetir que se empenhará pela “unidade das
oposições”, sem se referir claramente à candidatura de Aécio.
A esfinge nordestina
O
ex-deputado Fernando Lyra, recentemente falecido, afora a argúcia
política, era dotado de fino humor. Difundia no Congresso apelidos
“populares” dos políticos pernambucanos que ele mesmo teria criado.
Miguel Arraes, o avô de Eduardo Campos, era “a esfinge do sertão”.
Lacônico, fumando seu charuto, era indecifrável. O neto é mais falante,
mas também esfíngico. Depois de ter assustado e irritado o PT com sua
saliência eleitoral, refluiu nas últimas semanas, reduzindo a exposição e
baixando o tom das críticas ao governo federal. A amabilidade com que
ele e a presidente Dilma Rousseff se trataram ontem no Recife reforçou
em alguns a percepção de que ele estaria recuando.
A inflexão,
vinda de alguém tão reservado, pode traduzir apenas uma freada de
arrumação, que, segundo interlocutores que torcem pela candidatura, ele
teria resolvido fazer agora para preservar a imagem, o governo do estado
e o partido. Lá adiante, retomaria a velocidade anterior.
A quem interessa?
Nos
dia atuais, com internet e redes sociais, a propagação de um boato é
como a do fogo em nossos gramados durante a seca: basta um palito de
fósforo. Quem deu início ao boato sobre o fim do Bolsa-Família tinha
algum objetivo, que suscita diferentes leituras. Alguns dirão que a
corrida mostrou a importância do programa, outros que revelou a extensão
da dependência criada pelo governo. Outros, ainda, que a pobreza
continua grande, apesar do bumbo governista sobre sua redução. Mas
brincar com a miséria alheia é mesmo criminoso e cruel, como disse a
presidente. Precipitou-se a ministra dos Direitos Humanos, Maria do
Rosário, ao apontar o dedo para a oposição, desculpando-se a seguir.
Para conter o fogo político em torno do assunto, a Polícia Federal
precisa esclarecer o caso. Algo já se sabe: as consultas ao Google sobre
Bolsa-Família começaram a pipocar anormalmente no sábado, a partir dos
estados do Nordeste.
Data vênia
Com
todas as vênias ao ministro Joaquim Barbosa, o Congresso legisla, sim. É
verdade que as medidas provisórias do Executivo conturbam a pauta, mas
elas estão na Constituição. Ainda agora, diversos projetos relevantes,
de iniciativa do Legislativo, foram aprovados ou entraram em pauta.
Exemplos: a emenda das domésticas (Benedita da Silva) e seu complemento;
o projeto do senador e hoje ministro Marcelo Crivela, impedindo a
demissão na gravidez; a lei antidrogas de Osmar Terra; a lei sobre
emancipações municipais; o projeto sobre a taxa de serviços para os
garçons e o da divisão dos recursos do Fundo de Participação dos Estados
(FPE), para atender o Supremo, entre outros tantos.
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