SÃO PAULO - Desta vez parece que é de verdade. Cientistas publicaram na semana passada um artigo na revista "Cell" em que descrevem como, a partir de técnicas de transferência nuclear, conseguiram criar um embrião humano com material genético distinto do da doadora do óvulo e fazer com que ele se desenvolvesse até o estágio de centenas de células. Tecnicamente, produziram o primeiro clone humano.
Desta vez, a notícia provocou bem menos impacto do que o anúncio de 2004, que acabou se revelando uma megafraude. A principal razão para o "downsizing" é que, hoje, células-tronco para investigação médica e terapias --que sempre foram o objetivo central dos pesquisadores-- podem ser obtidas por uma técnica designada pela sigla iPS, que dispensa a destruição de embriões, evitando assim os dilemas éticos daí decorrentes.
Curiosamente, contingentes expressivos da sociedade aprovavam a clonagem com vistas a desenvolver novos tratamentos, mas a rejeitavam com veemência se a meta fosse replicar algum ser humano específico. Vários países se anteciparam e aprovaram leis proibindo a chamada clonagem reprodutiva. Por quê?
Até admito que a ideia possa causar um vago mal-estar, mas, por mais que procure, não encontro nenhuma objeção racional a ela. Desde que a técnica esteja desenvolvida o bastante para afastar o risco de malformações e doenças, não vejo no procedimento nada que já não ocorra com frequência na natureza. Gêmeos monozigóticos nada mais são do que clones. No caso da clonagem por encomenda, original e modelo seriam ainda menos parecidos, já que teriam se desenvolvido não só em ambientes como em épocas diferentes.
Na verdade, acho que precisamos incluir na lista dos vieses humanos o medo irracional de novas tecnologias. Não é que elas não possam causar dano, mas, antes de proibir alguma coisa, convém sempre apontar qual o perigo a ela associado.
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