Carolina Cotta
Estado de Minas: 07/06/2013
Uma descoberta
pode mudar os parâmetros para a prevenção do câncer de mama no futuro.
Estudo publicado na revista científica Stem Cell Reports mostrou a
relação do encurtamento dos telômeros, como são chamadas as extremidades
dos cromossomos, com a origem do câncer de mama, o segundo mais
frequente no mundo. De forma geral, o câncer ocorre quando as células
começam a funcionar mal. No caso do câncer de mama, já se sabia que a
maioria das células malignas se concentraram nos ductos que levam o
leite da glândula mamária até o mamilo.
A novidade descrita por David Gilley, da Faculdade de Medicina da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e Connie Eaves, do Laboratório Terry Fox da Agência para o Câncer em Vancouver, é a descoberta de que todas as mulheres – propensas ou não a desenvolver câncer de mama – têm uma classe particular de células-mãe com telômeros extremamente curtos. Segundo eles, esses cromossomos com extremidades tão pequenas fazem com que as células fiquem mais propensas a sofrer mutações que podem levar ao desenvolvimento de câncer.
Ao contrário de muitos estudos sobre a doença, esse foi feito em mulheres normais que doaram seus tecidos após cirurgias de redução de seios por razões estéticas. Segundo os pesquisadores, as células-mãe se dividem em células chamadas diferenciadas ou finais, formando o ducto mamário. É nelas que se origina o câncer de mama.
No estudo, eles perceberam que quando os telômeros dessas células finais perdem sua função –manter a estrutura do cromossomo, evitando que suas extremidades se juntem ou combinem com os outros. Apesar de todas as mulheres terem células com telômeros bem curtos, nem todas desenvolvem câncer de mama. Em alguns casos, porém, a multiplicação dessas células pode funcionar mal e produzir uma célula maligna, explica Gilley. “O que tentamos fazer foi olhar o câncer de uma forma distinta, nos focando em como começa”, explicou o pesquisador.
COMPOSIÇÃO A mama é formada por células do parênquima, relacionadas à função principal do órgão, e por células do estroma, responsáveis pela arquitetura e sustentação da mama. Segundo o oncologista clínico Ellias Abreu Lima, da Oncomed-BH, o tumor surge na maioria das vezes no parênquina. Os carcinomas ductal, com origem no ducto, e o lobular, com origem no lóbulo mamário são os casos mais comuns de câncer de mama.
A origem genética da doença é conhecida há alguns anos. Dez por cento dos casos podem ser atribuídos exclusivamente a mutações genéticas, a maioria deles relacionados aos genes de BRCA1 e BRCA2. Essas mulheres têm cerca de 50% a 80% de chance de desenvolver câncer ao longo da vida. Mais de 90% dos casos de câncer de mama são produtos da interação entre fatores genéticos e ambientais, como dieta, estilo de vida, uso de reposição hormonal por exemplo.
Para o especialista, essa pesquisa olha exatamente para esses 90% dos casos. Nos cromossomos, fitas de DNA que carregam toda a carga genética do indivíduo, os telômeros correspondem à porção final e têm como principal função estabilizar o cromossomo durante o processo de divisão celular. Cada vez que uma célula se divide, telômeros se encurtam ligeiramente.
“À medida que uma pessoa envelhece essas estruturas se tornam cada vez mais curtas e com menos capacidade de impedir que erros genéticos ocorram durante o processo de divisão celular, tornando as pessoas mais velhas mais susceptíveis. Estes podem determinar o aparecimento de diversas doenças, inclusive o câncer. Mulheres que têm naturalmente telômeros mais curtos já teriam aumentadas as chances de desenvolver mutações genéticas e o câncer de mama.”
A novidade contribui mais para a prevenção do que para o tratamento, avalia o Ellias Abreu. “Se no futuro conseguirmos dosar o telômero dessas mulheres, poderemos, então, identificar se elas têm maior propensão a desenvolver a doença. Assim poderemos começar mais cedo a prevenção. É, sem dúvida, uma descoberta importante porque abre portas para a mudança de protocolos de prevenção. O melhor tratamento para o câncer ainda é a prevenção.” (Colaborou Alice Dutra)
MONITORAMENTO
Especialistas envolvidos na prevenção e tratamento de casos de cânceres de mama e ginecológicos ganharam uma nova ferramenta. Lançada pela Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) em parceria com o Life Rank, uma rede social gratuita de cuidados com a saúde e armazenamento de exames, a tecnologia permite que os médicos cadastrem pacientes em faixa etária de rastreamento ginecológico e mamográfico para verificarem se estão realizando as consultas e os exames necessários. Elas passam a receber uma notificação para baixarem seus aparelhos celulares o aplicativo Life Rank em que passa a monitorar a realização dos exames.
Conselhos
» DETECÇÃO PRECOCE
A hereditariedade é responsável por 10% dos casos, mas mulheres com história familiar (parentes de primeiro grau acometidas antes dos 50 anos) têm maior risco e devem ser acompanhadas a partir dos 35 anos. Primeira menstruação precoce, menopausa após os 50 anos, primeira gravidez após os 30 anos e não ter tido filhos também são fatores de risco. O mais eficaz na detecção é o exame clínico e a mamografia.
» SÓ AUTOEXAME NÃO VALE
O autoexame das mamas não pode ser o único método para detecção precoce. A recomendação é que o exame das mamas pela própria mulher faça parte das ações de educação para a saúde que contemplem o conhecimento do próprio corpo. Mas ele não pode substituir o exame físico feito por profissional de saúde qualificado para isso.
» MAMOGRAFIA SIM
A radiografia da mama permite a detecção precoce do câncer ao mostrar lesões em fase inicial, mesmo medindo milímetros. Por isso deve ser realizada a cada dois anos por mulheres entre 50 e 69 anos, ou segundo recomendação médica. Leis específicas estabelecem que todas as brasileiras têm direito à mamografia a partir dos 40 anos.
» PRESTE ATENÇÃO
Entre os sintomas de câncer de mama podem estar alterações na pele que recobre a mama, como abaulamentos ou retrações, inclusive no mamilo, ou aspecto semelhante ao da casca de laranja. Secreção no mamilo também é um sinal de alerta. O sintoma de câncer palpável é o nódulo (caroço) no seio, acompanhado ou não de dor. Podem também surgir nódulos palpáveis na axila.
» CUIDADOS
A prevenção primária do câncer de mama não é totalmente possível devido à variação dos fatores de risco e as características genéticas envolvidas, mas algumas medidas podem auxiliar. Excesso de peso, ingestão de álcool e exposição a radiações ionizantes em idade inferior a 35 anos são alguns fatores de risco. Já em relação às pílulas anticoncepcionais não há certeza sobre a influência no aumento do risco.
Fonte: Instituto Nacional do Câncer (INCA)
Três perguntas para...
CLÉCIO LUCENA
CHEFE DO SERVIÇO DE MASTOLOGIA DA SANTA CASA DE BELO HORIZONTE
De que forma a identificação da origem do câncer de mama relacionada aos telômeros das células do ducto mamário pode repercutir nas pesquisas de novos tratamentos?
Particularmente é uma descoberta interessante por direcionar novas estratégias de investigação da doença, especialmente para se identificar uma categoria de pacientes que efetivamente apresenta uma maior probabilidade de virem a desenvolver câncer de mama. Isso permitirá o estabelecimento de linhas de orientações para efetivamente evitarmos o desenvolvimento do câncer de mama.
Já existia algum apontamento para essa relação com os ductos mamários? Qual a colaboração de uma pesquisa como essa?
Há bastante tempo, já se sugeria que o câncer epitelial de mama iniciava-se nos ductos mamários, mas não exatamente numa definição tão específica quanto no subtipo de células progenitoras luminais dos ductos mamários. A principal colaboração dessa descoberta é estabelecer um direcionamento mais específico para novas pesquisas na área.
Em que aspecto tem avançado a pesquisa sobre o câncer de mama nos últimos anos? Para quê apontam os estudos?
Grande parte das pesquisas atuais sobre câncer de mama estão voltadas para a identificação de subgrupos específicos de mulheres portadoras da doença, buscando-se a individualização e tratamentos personalizados. Drogas-alvo dirigidas são a maior linha de pesquisas atuais no câncer de mama. Dessa forma, estamos pesquisando estratégias de tratamento e condutas para as pessoas que estão diagnosticadas com a doença. Diretrizes novas podem apontar para um rumo diferenciado, principalmente no que diz respeito a prevenir o câncer e como modificarmos eventuais predisposições detectadas.
A novidade descrita por David Gilley, da Faculdade de Medicina da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e Connie Eaves, do Laboratório Terry Fox da Agência para o Câncer em Vancouver, é a descoberta de que todas as mulheres – propensas ou não a desenvolver câncer de mama – têm uma classe particular de células-mãe com telômeros extremamente curtos. Segundo eles, esses cromossomos com extremidades tão pequenas fazem com que as células fiquem mais propensas a sofrer mutações que podem levar ao desenvolvimento de câncer.
Ao contrário de muitos estudos sobre a doença, esse foi feito em mulheres normais que doaram seus tecidos após cirurgias de redução de seios por razões estéticas. Segundo os pesquisadores, as células-mãe se dividem em células chamadas diferenciadas ou finais, formando o ducto mamário. É nelas que se origina o câncer de mama.
No estudo, eles perceberam que quando os telômeros dessas células finais perdem sua função –manter a estrutura do cromossomo, evitando que suas extremidades se juntem ou combinem com os outros. Apesar de todas as mulheres terem células com telômeros bem curtos, nem todas desenvolvem câncer de mama. Em alguns casos, porém, a multiplicação dessas células pode funcionar mal e produzir uma célula maligna, explica Gilley. “O que tentamos fazer foi olhar o câncer de uma forma distinta, nos focando em como começa”, explicou o pesquisador.
COMPOSIÇÃO A mama é formada por células do parênquima, relacionadas à função principal do órgão, e por células do estroma, responsáveis pela arquitetura e sustentação da mama. Segundo o oncologista clínico Ellias Abreu Lima, da Oncomed-BH, o tumor surge na maioria das vezes no parênquina. Os carcinomas ductal, com origem no ducto, e o lobular, com origem no lóbulo mamário são os casos mais comuns de câncer de mama.
A origem genética da doença é conhecida há alguns anos. Dez por cento dos casos podem ser atribuídos exclusivamente a mutações genéticas, a maioria deles relacionados aos genes de BRCA1 e BRCA2. Essas mulheres têm cerca de 50% a 80% de chance de desenvolver câncer ao longo da vida. Mais de 90% dos casos de câncer de mama são produtos da interação entre fatores genéticos e ambientais, como dieta, estilo de vida, uso de reposição hormonal por exemplo.
Para o especialista, essa pesquisa olha exatamente para esses 90% dos casos. Nos cromossomos, fitas de DNA que carregam toda a carga genética do indivíduo, os telômeros correspondem à porção final e têm como principal função estabilizar o cromossomo durante o processo de divisão celular. Cada vez que uma célula se divide, telômeros se encurtam ligeiramente.
“À medida que uma pessoa envelhece essas estruturas se tornam cada vez mais curtas e com menos capacidade de impedir que erros genéticos ocorram durante o processo de divisão celular, tornando as pessoas mais velhas mais susceptíveis. Estes podem determinar o aparecimento de diversas doenças, inclusive o câncer. Mulheres que têm naturalmente telômeros mais curtos já teriam aumentadas as chances de desenvolver mutações genéticas e o câncer de mama.”
A novidade contribui mais para a prevenção do que para o tratamento, avalia o Ellias Abreu. “Se no futuro conseguirmos dosar o telômero dessas mulheres, poderemos, então, identificar se elas têm maior propensão a desenvolver a doença. Assim poderemos começar mais cedo a prevenção. É, sem dúvida, uma descoberta importante porque abre portas para a mudança de protocolos de prevenção. O melhor tratamento para o câncer ainda é a prevenção.” (Colaborou Alice Dutra)
MONITORAMENTO
Especialistas envolvidos na prevenção e tratamento de casos de cânceres de mama e ginecológicos ganharam uma nova ferramenta. Lançada pela Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) em parceria com o Life Rank, uma rede social gratuita de cuidados com a saúde e armazenamento de exames, a tecnologia permite que os médicos cadastrem pacientes em faixa etária de rastreamento ginecológico e mamográfico para verificarem se estão realizando as consultas e os exames necessários. Elas passam a receber uma notificação para baixarem seus aparelhos celulares o aplicativo Life Rank em que passa a monitorar a realização dos exames.
Conselhos
» DETECÇÃO PRECOCE
A hereditariedade é responsável por 10% dos casos, mas mulheres com história familiar (parentes de primeiro grau acometidas antes dos 50 anos) têm maior risco e devem ser acompanhadas a partir dos 35 anos. Primeira menstruação precoce, menopausa após os 50 anos, primeira gravidez após os 30 anos e não ter tido filhos também são fatores de risco. O mais eficaz na detecção é o exame clínico e a mamografia.
» SÓ AUTOEXAME NÃO VALE
O autoexame das mamas não pode ser o único método para detecção precoce. A recomendação é que o exame das mamas pela própria mulher faça parte das ações de educação para a saúde que contemplem o conhecimento do próprio corpo. Mas ele não pode substituir o exame físico feito por profissional de saúde qualificado para isso.
» MAMOGRAFIA SIM
A radiografia da mama permite a detecção precoce do câncer ao mostrar lesões em fase inicial, mesmo medindo milímetros. Por isso deve ser realizada a cada dois anos por mulheres entre 50 e 69 anos, ou segundo recomendação médica. Leis específicas estabelecem que todas as brasileiras têm direito à mamografia a partir dos 40 anos.
» PRESTE ATENÇÃO
Entre os sintomas de câncer de mama podem estar alterações na pele que recobre a mama, como abaulamentos ou retrações, inclusive no mamilo, ou aspecto semelhante ao da casca de laranja. Secreção no mamilo também é um sinal de alerta. O sintoma de câncer palpável é o nódulo (caroço) no seio, acompanhado ou não de dor. Podem também surgir nódulos palpáveis na axila.
» CUIDADOS
A prevenção primária do câncer de mama não é totalmente possível devido à variação dos fatores de risco e as características genéticas envolvidas, mas algumas medidas podem auxiliar. Excesso de peso, ingestão de álcool e exposição a radiações ionizantes em idade inferior a 35 anos são alguns fatores de risco. Já em relação às pílulas anticoncepcionais não há certeza sobre a influência no aumento do risco.
Fonte: Instituto Nacional do Câncer (INCA)
Três perguntas para...
CLÉCIO LUCENA
CHEFE DO SERVIÇO DE MASTOLOGIA DA SANTA CASA DE BELO HORIZONTE
De que forma a identificação da origem do câncer de mama relacionada aos telômeros das células do ducto mamário pode repercutir nas pesquisas de novos tratamentos?
Particularmente é uma descoberta interessante por direcionar novas estratégias de investigação da doença, especialmente para se identificar uma categoria de pacientes que efetivamente apresenta uma maior probabilidade de virem a desenvolver câncer de mama. Isso permitirá o estabelecimento de linhas de orientações para efetivamente evitarmos o desenvolvimento do câncer de mama.
Já existia algum apontamento para essa relação com os ductos mamários? Qual a colaboração de uma pesquisa como essa?
Há bastante tempo, já se sugeria que o câncer epitelial de mama iniciava-se nos ductos mamários, mas não exatamente numa definição tão específica quanto no subtipo de células progenitoras luminais dos ductos mamários. A principal colaboração dessa descoberta é estabelecer um direcionamento mais específico para novas pesquisas na área.
Em que aspecto tem avançado a pesquisa sobre o câncer de mama nos últimos anos? Para quê apontam os estudos?
Grande parte das pesquisas atuais sobre câncer de mama estão voltadas para a identificação de subgrupos específicos de mulheres portadoras da doença, buscando-se a individualização e tratamentos personalizados. Drogas-alvo dirigidas são a maior linha de pesquisas atuais no câncer de mama. Dessa forma, estamos pesquisando estratégias de tratamento e condutas para as pessoas que estão diagnosticadas com a doença. Diretrizes novas podem apontar para um rumo diferenciado, principalmente no que diz respeito a prevenir o câncer e como modificarmos eventuais predisposições detectadas.
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