De cortar os pulsos
Como pode o poste, que nem era cotado para presidente, impedi-los de ir ao show do Marilyn Manson?
Dilma realmente não está colaborando. Seu antecessor era um genial negociador, conciliou e articulou a tal ponto que não só conseguiu sobreviver a um tsunami e eleger seu sucessor como estabeleceu um legado.
Aquele que veio antes dele vislumbrou mudanças que levaram a economia do país das trevas à pós-modernidade.
Agora o barco encalhou. Lembra de expressões como "forças do atraso"? Pois é, lembrei desse tipo de intriga ao ouvir sobre as desventuras de Paris Jackson, filha adolescente de Michael Jackson hospitalizada depois de se automutilar --ainda não ficou claro se foi vítima de bullying na escola, teve frustrada a vontade de ir a um show de Marilyn Manson ou sente o peso do julgamento que se aproxima, que definirá os destinos do espólio do pai. Ou se todas as alternativas juntas ao mesmo tempo.
No início da gestão Dilma, uma penca de empresários, os Gerdaus e Abílios que vimos --e os que não vimos--, Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Mendes Júnior e Andrade Gutierrez, grandes bancos, agroprodutores e também a turma das empresas operadoras de telefonia, a gente bem sabe, se ofereceram todos para ajudá-la no que pudessem.
Hoje, não sobra um para jogar tranca. Quando algum meninão dá as caras é porque está emburrado, para dizer que a bola é dele e não brinca mais, que está cheio do bullying da presidente, que chega de veto disto ou daquilo.
Pessoal resmunga que nunca foi tratado assim. Nem por Geisel, nem por Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar, FHC e muito menos por Lula. Como é que pode esse poste, que caiu na presidência de paraquedas, ousar impedi-los de ir ao concerto de Marilyn Manson? É uma relação muito adulta a que se criou entre Dilma e a turma que acaba definindo os humores do chamado "mercado".
Veja: não estou dizendo que o capital tapuia não tenha lá seu naco de razão. Ninguém é obrigado a perder dinheiro por patriotismo. É pouco acolhedor o ambiente vigente, de mudança constante de regras, de interferência excessiva, de contabilidade dúbia, de surpresas desagradáveis todo dia.
E nossa querida Dilma, apesar de ter promovido tanta aliança, dá mostras de que não sabe compor, dialogar ou fazer negócio e que governa com inspiração em algum modelo centralizador da Albânia do pós-guerra.
Por outro lado, a classe dirigente do país se comporta como uma mulher histérica chorando em porta de farmácia fechada em dia de feriado com receita de remédio de tarja preta na mão. Nervosinho e sempre disposto a pular da ponte esse mercado, não?
Pessoal reclama de que a infraestrutura e a indústria foram para o beleléu, mas estou para ver empresário brasileiro disposto a aceitar uma das premissas mais básicas do capitalismo: a tomada de risco. Sem pingar um dinheirinho do BNDES na mão, ele não faz. Sem a ajuda de Brasília, ele não bota na reta.
Temos uma história republicana recente marcada por presidentes, ministros e chefes de Casa Civil que se iludiram que bastava estar no poder para operar mudanças. Todos acabaram constatando que, por mais urgentes e legítimas que fossem, se implicam em contrariar interesses específicos, é mais fácil que sejam eles a cair em desgraça do que ver rumos alterados.
Na sua imensa falta de sensibilidade, Dilma quer porque quer forçar a mão. Pois vai acabar correndo risco de não ver a cor de um segundo mandato e ainda será cúmplice de profecia autorrealizada de quem está cheio de sua intransigência.
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