Cheia de bossa
No primeiro DVD de sua carreira, Bebel
Gilberto prioriza as canções e a estética cool que a projetaram. O tio
Chico Buarque e o mineiro Flávio Renegado são os convidados de honra
Carolina Braga
Estado de Minas: 07/06/2013
Há quem lhe atribua a maternidade da
bossa eletrônica. Outros preferem a palavra soft para classificar o seu
som. Lounge é outro termo muito usado. Em meio à profusão de rótulos que
a cercam, Bebel Gilberto prefere se livrar deles. “Meu trabalho é pegar
e fazer clack, clack... Vou quebrando, tirando todos eles. Se entrar
nessa, piro”, confessa.
Bebel Gilberto in Rio, pacote com CD e
DVD gravado ao vivo no Arpoador, no Rio de Janeiro, comprova que rótulos
pouco importam no caso da filha de João Gilberto e Miúcha.
Independentemente da maneira como seu trabalho é classificado, a cantora
avisa: “Tenho vontade de agradar ao mundo. Eu me importo é com o que as
pessoas sentem”. Talvez por isso Bebel tenha escolhido apenas hits para
seu primeiro DVD, principalmente aqueles lançados em Tanto tempo
(2000), álbum que a projetou internacionalmente. Opção legítima. “São as
músicas que as pessoas mais gostam de ouvir”, acredita.
O CD
(17 faixas) e o DVD (com 16) trazem apenas duas inéditas: a regravação
de Rio, do repertório oitentista do Duran Duran, em versão bossa nova, e
Na palma da mão, composição do mineiro Flávio Renegado, o único
convidado do show carioca. O tio Chico Buarque é a outra participação
especial do projeto, na versão em estúdio de Samba e amor.
“Ai,
ele é um fofo”, derrete-se Bebel ao falar de Flávio Renegado. Embora já o
conhecesse da Lapa, os laços só se estreitaram depois da escalação do
mineiro para abrir um show dela no Central Park, em Nova York. “Era
aniversário dele e eu ia fazer um jantar lá em casa. Convidei: ‘Tem pão
de queijo lá, caso você esteja com saudade’. Aí ele topou”, revela
Bebel.
Dali em diante, foram vários papos pela internet até a
hora de escolher, digamos, o elemento novo do show. “Queria uma
participação masculina diferente”, explica a cantora. Na palma da mão
foi sugestão do próprio Renegado. Já rotulada de samba-rap, a canção
combina acertadamente a leveza de Bebel com o molejo do mineiro.
Curvas
A
própria cantora cuidou da direção musical, mas entregou o aspecto
visual do projeto ao amigo Gringo Cardia. Montado em um canto da Praia
do Arpoador, o palco tem formato diferente: nem luau nem tablado
convencional. Branco e em curvas, traz paisagens cariocas: Pedra da
Gávea, orla de Ipanema e a arquitetura característica do Rio – naquele
tom de Cidade Maravilhosa para turista ver.
Samba da bênção
(Vinicius de Moraes e Baden Powell) abre o repertório, que reúne canções
dos álbuns Momento (2007), como Momento e Tranquilo, e Bebel Gilberto
(2004), como Simplesmente e Aganju. Parcerias com Cazuza e Dé, Mais
feliz e Preciso dizer que te amo também estão lá. Todas ganharam novos
arranjos. Talvez para intensificar a sintonia com o visual cool, a
sonoridade buscou o mesmo caminho.
Bebel Gilberto sempre foi
assumidamente bossa nova. Nesse registro ao vivo, a cantora,
honestamente, sublinha esse estilo. Ela confessa certa ansiedade sobre a
recepção ao novo trabalho, mas já pensa no próximo, ainda sem previsão
de lançamento.
Ela não esconde estar em um momento feliz da
carreira: compõe muito, fez as pazes com o violão. “Não era de encarar o
instrumento, mas agora ele está muito presente. É aquela coisa de
compor sozinha. Sempre tinha a ideia da melodia ou um baixo na cabeça,
mas precisava de alguém para me ajudar. Agora consigo fazer tudo”,
conclui.
Em família
A troca de olhares
com Chico Buarque em Samba e amor deixa claro o quanto a relação com a
família emociona Bebel Gilberto. Mas não foi desta vez que João Gilberto
gravou com a filha. Aos 15 anos, Bebel participou de um especial do
pai, dividindo o microfone com ele em Chega de saudade. Depois disso,
nada mais. No entanto, a cantora não encerra a questão: “A gente sempre
foge um pouco da mesmice. Então, por enquanto não. Mas no próximo, quem
sabe?”.
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