Estado de Minas: 20/07/2013
A última aventura
dele com uma garota, nada agradável por sinal, levou-o de volta à
pré-adolescência naquele bairro de periferia da Região Nordeste. O
futebol, as brincadeiras de rua, as matinês no cinema do padre. As
frutas roubadas dos quintais, as viagens de trem até o Horto para ver do
Morro da Pitimba, no Independência, os craques de então. Da resenha na
porta da escola depois do pão molhado e Grapete bem gelado no bar do
Curió. Lembrou-se especialmente do dia em que fez 13 anos e o mais velho
dos amigos, o Drogaria, deu o ultimato: “Você precisa ir lá embaixo com
a gente para provar que é homem. Só precisa do dinheiro da passagem e
mais cinco cruzeiros”.
O que o Drogaria queria dizer com “lá embaixo” era a zona boêmia, na Rua Guaicurus e entorno. Todos os garotos da turma iam. Era só chegar a vez. E era preciso driblar a polícia e os porteiros dos prostíbulos. “Quando perguntarem sua idade, engrosse e diga: sou maior”, recomendava Drogaria. Com os porteiros, às vezes, dava certo. Com a PM e a Guarda Civil, não. Quase sempre os meninos voltavam para casa com a orelha direita queimando. Os policiais não perdoavam. Um tapa na orelha e o aviso: só volta aqui quando completar 18 anos. E ainda havia o risco de contrair doença venérea. Havia chegado a vez dele. O medo não era a polícia, o porteiro, a gonorreia. O que o apavorava era o que fazer diante de uma mulher pelada.
Drogaria tinha as orientações: “Entra no quarto, combine o preço com a mulher, pague os cinco cruzeiros e deixe que ela faz o resto”. Encorajado pelo amigo, foi. Esperou a escada do hotel ganhar movimento e entrou. Passou fácil pelo porteiro. Olhou o primeiro quarto, o segundo, e gostou do conteúdo do terceiro. Gaguejou, gaguejou, e irritou a mulher: “Fale logo, menino! Quer um programa? Cinco cruzeiros! Vamos lá, tire a roupa”. Ficou vermelho, mas tirou. Equivocou-se umas duas vezes na posição, mas a mulher, cada vez mais impaciente, o orientou. “Fique por dentro das minhas pernas.” Iniciou-se o ato. Esforço único, o dele. A mulher permaneceu impassível. O que o aterrorizou é que ela estava lendo Capricho, uma revista de fotonovelas. Fotonovela era o que havia na época: atores e atrizes até ficaram famosos, como os do rádio e da TV. De vez em quando, ela desviava rapidamente os olhos da revista para perguntar: “Já acabou, bem?”. E ele suando para dar conta.
Cresceu, passou pela adolescência e, por algum tempo, carregou aquela experiência quase como um trauma. Outro dia, na casa dos 60, entrou em um restaurante. A jovem senhora, sentada à esquerda no salão, levantou rapidamente os olhos do celular e sorriu. Parecia um convite. Ele se encorajou e sentou-se ao lado. Iniciou a conversa. A mulher, quase sem tirar os olhos do smartphone, respondia: “Hã, hã…”. Não sabe por que, mas acabaram no motel. Ele iniciou a sessão de sexo. Ela, quase impassível com o smartphone nas mãos. Ele se lembrou, então, da primeira transa, da fotonovela e deu um grito: “Ei, afinal, o que viemos fazer aqui?”. A resposta da mulher o surpreendeu: “Viemos fazer amor, querido. Mas tenho que postar”…
>>>
Perguntar não ofende: será que a onda do smartphone, incompatível com as necessárias artes de falar e ouvir, invadiu também o Congresso Nacional?
O que o Drogaria queria dizer com “lá embaixo” era a zona boêmia, na Rua Guaicurus e entorno. Todos os garotos da turma iam. Era só chegar a vez. E era preciso driblar a polícia e os porteiros dos prostíbulos. “Quando perguntarem sua idade, engrosse e diga: sou maior”, recomendava Drogaria. Com os porteiros, às vezes, dava certo. Com a PM e a Guarda Civil, não. Quase sempre os meninos voltavam para casa com a orelha direita queimando. Os policiais não perdoavam. Um tapa na orelha e o aviso: só volta aqui quando completar 18 anos. E ainda havia o risco de contrair doença venérea. Havia chegado a vez dele. O medo não era a polícia, o porteiro, a gonorreia. O que o apavorava era o que fazer diante de uma mulher pelada.
Drogaria tinha as orientações: “Entra no quarto, combine o preço com a mulher, pague os cinco cruzeiros e deixe que ela faz o resto”. Encorajado pelo amigo, foi. Esperou a escada do hotel ganhar movimento e entrou. Passou fácil pelo porteiro. Olhou o primeiro quarto, o segundo, e gostou do conteúdo do terceiro. Gaguejou, gaguejou, e irritou a mulher: “Fale logo, menino! Quer um programa? Cinco cruzeiros! Vamos lá, tire a roupa”. Ficou vermelho, mas tirou. Equivocou-se umas duas vezes na posição, mas a mulher, cada vez mais impaciente, o orientou. “Fique por dentro das minhas pernas.” Iniciou-se o ato. Esforço único, o dele. A mulher permaneceu impassível. O que o aterrorizou é que ela estava lendo Capricho, uma revista de fotonovelas. Fotonovela era o que havia na época: atores e atrizes até ficaram famosos, como os do rádio e da TV. De vez em quando, ela desviava rapidamente os olhos da revista para perguntar: “Já acabou, bem?”. E ele suando para dar conta.
Cresceu, passou pela adolescência e, por algum tempo, carregou aquela experiência quase como um trauma. Outro dia, na casa dos 60, entrou em um restaurante. A jovem senhora, sentada à esquerda no salão, levantou rapidamente os olhos do celular e sorriu. Parecia um convite. Ele se encorajou e sentou-se ao lado. Iniciou a conversa. A mulher, quase sem tirar os olhos do smartphone, respondia: “Hã, hã…”. Não sabe por que, mas acabaram no motel. Ele iniciou a sessão de sexo. Ela, quase impassível com o smartphone nas mãos. Ele se lembrou, então, da primeira transa, da fotonovela e deu um grito: “Ei, afinal, o que viemos fazer aqui?”. A resposta da mulher o surpreendeu: “Viemos fazer amor, querido. Mas tenho que postar”…
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Perguntar não ofende: será que a onda do smartphone, incompatível com as necessárias artes de falar e ouvir, invadiu também o Congresso Nacional?
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