Amigo torcedor, amigo secador, o São Paulo Futebol Clube, o soberano, cujo pecado capital sempre foi a soberba, vive a pior crise do século. Nove jogos sem um triunfo, desentendimentos públicos, um presidente digno dos melhores momentos de "O Bem Amado" e um ídolo, incontestável pelo conjunto da obra, que vive o seu inevitável crepúsculo.
Para completar o cenário trágico, o tricolor paulista assiste, de camarote VIP, à consolidação do Corinthians, o principal rival, como a casa que hoje possui todas as qualidades sempre muito caras e prezadas no Morumbi: modernidade administrativa, marketing agressivo, planejamento e um time que ganhou tudo, inclusive a Recopa justamente em cima da equipe do Rogério.
Não que a situação inspire o sentimento da inveja, para continuarmos, em homenagem ao papa Francisco --grande torcedor do corvo San Lorenzo--, a brincar com os pecados capitais. Um são-paulino jamais invejaria um corintiano e vice-versa. Mesmo sabendo ser a inveja o mais escorregadio, guardado e misterioso item da tábua pecaminosa.
Falta de gula em campo. Esta aí o que vemos no clube de Juvenal Juvêncio, um Vicente Matheus burguês que empresta ao outrora moderníssimo SPFC um jeitão Sucupira de ser. Sucupira, meus queridos sobrinhos, era a cidade nem tão fictícia assim de "O Bem Amado".
Como não torço pelo São Paulo, confesso: Juvenal, assim como aquele slogan da rede Luiz Severiano de cinema, é a maior diversão. O corvo Edgar, minha agourenta ave futebolística, vibra quando o presidente tricolor aparece com suas tiradas.
Crise no Morumbi. O corvo comete o pecado da luxúria: estoura uma champanhe. Calma, lazarento, seguro o bicho, afinal ele não representa a minha pessoa física.
Orgulho ferido, Ceni, na rádio ESPN, disse estar 100% fisicamente. Rebatia o diretor de futebol Adalberto Baptista, tão maldoso quanto Edgar no poleiro. É difícil, principalmente para um grande ídolo, parar.
Orgulho ferido, Ceni, na rádio ESPN, disse estar 100% fisicamente. Rebatia o diretor de futebol Adalberto Baptista, tão maldoso quanto Edgar no poleiro. É difícil, principalmente para um grande ídolo, parar.
Ao crepúsculo e com muito saldo histórico, o 1 do tricolor sapeca: o São Paulo parou no tempo. Nada mais sensato. Belo diagnóstico. Só não entendeu quem não quis. O time perdeu seu vanguardismo e paga de Carolina, aquela do Chico. O tempo passou na janela e só ela não viu.
Crise na Juvenolândia. É a manchete. Na massa, no entanto, desculpe meu populismo, o tricolor se reconstrói. Um clube que nasceu de uma costela da elite paulistana e deve hoje sua força ao processo de proletarização da arquibancada.
Por falar nisso, a torcida promete protesto no estádio. É a sintonia com as ruas. O agito pode mexer também com os jogadores.
Particularmente torço para ver de novo o futebol do Ganso, o distinto e elegante craque que se perdeu mais ainda em meio a uma crise sem precedentes na frieza do Morumba.
@xicosa
Xico Sá, jornalista e escritor, com humor e prosa, faz a coluna para quem "torce". É autor de "Modos de Macho & Modinhas de Fêmea" e "Chabadabadá - Aventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha", entre outros livros. Na Folha, foi repórter especial. Na TV, participa dos programas "Cartão Verde" (Cultura) e "Saia Justa" (GNT). Mantém blog e escreve às sextas, a cada quatro semanas, na versão impressa de "Esporte".
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