quinta-feira, 18 de julho de 2013

Fé na arte - Ailton Magioli‏

Exposição de obras-primas de mestres italianos e intensa programação musical esperam pelos fiéis que forem ao Rio de Janeiro ver o papa Francisco. Fafá de Belém e coral vão cantar para ele 


Ailton Magioli

Estado de Minas: 18/07/2013 

Única artista popular convidada pelo Vaticano para cantar (pela terceira vez consecutiva) para um papa no Brasil, Fafá de Belém será a atração principal do show do dia 25, na Praia do Leme, no Rio de Janeiro. Acompanhada pela Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, banda e coral de 150 vozes, sob a direção de Guto Graça Mello, a paraense vai interpretar Eu sou de lá, composta pelo padre Fábio de Mello, o principal nome da música católica no país.

“Pensei em Gracias a la vida, de Violeta Parra, e Romaria, de Renato Teixeira, mas eles escolheram a canção que o padre Fábio fez especialmente para eu gravar”, comemora Fafá, confessando que em apresentações assim costuma se sentir “meio fora do ar” diante de tanta emoção e energia. “Vou cantar pelo meu povo, pela minha Amazônia”, lembra a devota de Nossa Senhora. Em 1977, ela se apresentou para João Paulo II, no Rio de Janeiro; em 2006, para Bento XVI, na Espanha. Desta vez, estará acompanhada pela cantora Nazaré Araújo, da Comunidade Católica Sharom, do Ceará.

O auge da programação se dará nos dias 27 e 28, em Guaratiba. No segundo dia, a missa terá a presença do papa Francisco. Vão se apresentar os cantores argentinos Soledad e Axel, o mexicano Martin Valverde, os padres brasileiros Fábio de Mello, Marcelo Rossi, Antônio Maria e Reginaldo Manzotti. Também subirão ao palco os artistas Anjos de Resgate, Celina Borges, Dunga, Eliana Ribeiro e a banda Rosa de Saron. A orquestra sinfônica fluminense será regida pelo maestro Mateus Araújo.

Herança
Principal atração cultural da Jornada Mundial da Juventude 2013, a mostra A herança do sagrado: obras-primas do Vaticano e de museus italianos ganhou contraponto perfeito, na opinião de especialistas, com a exibição simultânea, no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) carioca, da exposição Oratórios – Relíquias do barroco brasileiro, preparada pelo Museu do Oratório de Ouro Preto.

“Fizemos um recorte privilegiando os oratórios de sabor bem brasileiro que mostrassem a fartura popular de nossa arte sacra, que traz influência europeia”, informa a colecionadora Angela Gutierrez, gestora da instituição.

Mônica Xexéo, diretora do MNBA, diz que A herança do sagrado... será um marco na trajetória da instituição. “Trata-se de preciosa narrativa do período compreendido entre o Renascimento e o barroco italianos, com ênfase do século 15 ao 18, com direito à passagem pelo século 3”, explica. A América do Sul jamais recebeu mostra assim, ressalta Mônica, destacando obras dos mestres Ticiano, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Caravaggio, Pinturicchio, Perugino, Sassoferrato, Bernini, Correggio, Annibale Carracci, Guido Reni e Beato Angelico, entre outros.

Com curadoria do professor Giovanni Morello, que trabalhou mais de 30 anos na Biblioteca Apostólica Vaticana, a exposição retrata a vida de Jesus Cristo, dos apóstolos Pedro e Paulo, da Virgem Maria e dos santos em 105 obras. Desenhos, gravuras, pinturas, joias e relíquias estão distribuídos em oito salas. Bem ao lado de A herança do sagrado... está a coleção mineira, com 55 oratórios e 60 peças.

Ângela Gutierrez diz que um dos oratórios pode até “conhecer” o segundo papa. “Quando João Paulo II esteve no Rio, em 1997, recebi ligação de dom Eugênio Salles pedindo um exemplar para o quarto dele. Enviei um oratório bem mineirão, que agora integra a mostra itinerante de nosso museu”, revela. Oficialmente, não está prevista a visita de Francisco ao MNBA, mas a fé, como se sabe, remove montanhas – e o sumo pontífice adora quebrar o protocolo. A expectativa de Mônica Xexéo é receber 3 mil visitantes diariamente durante a Jornada Mundial da Juventude e 600 mil pessoas até 13 de outubro. Os oratórios ficarão expostos até 18 de agosto.

As peças de A herança do sagrado... vieram do Museu do Vaticano, Fábrica São Pedro e Biblioteca Apostólica Vaticana, além da Galeria Borghese. “Tão cedo não vamos conseguir reunir acervo como esse em um único espaço”, avisa a presidente do MNBA.

Palavra de especialista


Josimar Azevedo
Professor de cultura religiosa da PUC Minas

O belo e o mundo

Arte e religião, o belo e o mistério não são meros acessórios culturais, estão na base de nossa humanidade. O belo colore o mundo, arrebata nosso corpo e acende nossa alma. O mistério é a nossa própria condição, pois nele está nossa origem e os possíveis sentidos de nossa existência. O belo e o mistério nos escapam sempre! Não temos sua posse; ao contrário, somos sempre tomados de surpresa por sua presença. Quão misterioso, inefável, é o belo e quão belo é o mistério insondável. Arte e religião constituem dois patrimônios antropológicos de base. Como atividade humana, linguagem estética, expressão privilegiada do espírito criativo humano, a arte sempre esteve presente nas expressões históricas e materiais da religião. Por sua vez, a religião, por conta de sua proximidade com os sentidos mais profundos de nossa humanidade, sempre inspirou artistas e grandes obras que marcaram nossa história. As religiões nos legaram patrimônio inestimável de arte religiosa e arte sacra. No Ocidente, o cristianismo representou sua fé em expressões artísticas que constituem riqueza material e imaterial incalculável e estão na base de nossa diversidade e identidade cultural.

MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES
Avenida Rio Branco, 199, Cinelândia, Rio de Janeiro. De terça-feira a domingo, das 9h às 21h. Mostras: A herança do sagrado: obras-primas do Vaticano e de museus italianos, até 13 de outubro. Oratórios – Relíquias do barroco brasileiro, até 18 de agosto. Entrada franca. Informações: (21) 2219-8474.

Jornada vai deixar lição 


Ailton Magioli

Autor do hino oficial da Jornada Mundial da Juventude (Esperança do amanhecer), que já ganhou versão em 25 línguas, o padre José Cândido, da Paróquia de São Sebastião, no Barro Preto, em Belo Horizonte, atribui à estrutura melódica da composição, inspirada no canto gregoriano Veni creator spiritus, a facilidade de a canção ser vertida para outros idiomas.

“Isso acabou dando liberdade para pequenas modificações melódicas, sem trair o original”, diz o padre, admitindo já ter ouvido versões de sua composição bem melhores do que a brasileira. Originalmente gravado em português no CD No coração da jornada – Músicas das celebrações da JMJ Rio 2013 (MZA Music), Esperança do amanhecer tem melodia inspirada em hino tradicional de vocação ao Divino Espírito Santo, enquanto a letra usa como fonte o Cristo Redentor.

“Cristo nos convida/ Sejam meus amigos/ Cristo nos envia/ Sejam missionários” diz o refrão. Os versos ganharam versões em português lusitano, espanhol, alemão, italiano, mandarim, coreano, japonês, francês, polonês e inglês, entre outros idiomas.

Marco Mazzola, produtor da MZA, diz que o principal legado da Jornada Mundial da Juventude é transformar as formas como o católico faz música para o segmento religioso. “Precisamos ser mais ousados”, prega ele, advertindo que os evangélicos se dão melhor no mercado fonográfico.

“No Brasil, a música evangélica está muito mais adiantada que a católica”, diz Mazzola, responsável pela produção do CD No coração da jornada – Músicas das celebrações da JMJ Rio 2013. Durante a missa papal, orquestra sinfônica carioca, regida pelo maestro Mateus Araújo, vai executar o hino oficial da jornada em oito idiomas. “O refrão será em português, mas com versos cantados em oito línguas por 110 vocalistas”, conclui Marco Mazzola, produtor de destaque no mercado fonográfico brasileiro
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