Uma pesquisa publicada em portais de notícias chamou minha atenção. Por meio dela, fiquei sabendo que diretores de recursos humanos de 19 países, entre eles o Brasil, consideram que a maioria dos profissionais não se veste de forma adequada para o trabalho.
O interessante é notar que a média brasileira é maior do que a geral nessa questão: 9% é a média mundial dos diretores que afirmaram ver profissionais malvestidos com muita frequência e 42%, a média dos que viram o fenômeno ocorrer com certa frequência. No Brasil, os índices registrados foram de 22% e 54%, respectivamente.
Essa notícia me lembrou algumas situações semelhantes que já acompanhei no espaço escolar. Por exemplo: não é raro o constrangimento de coordenadores e diretores quando notam que professoras, principalmente da educação infantil, vão para o trabalho com calças de cintura baixa. Como as professoras sentam-se no chão regularmente com seus alunos, acabam deixando descobertas partes do corpo que deveriam estar protegidas do olhar do outro nesse tipo de situação.
E criança pequena não perdoa: "Mãe, eu vi o cofrinho da professora hoje!", disse em altos brados um garoto de quatro anos assim que sua mãe chegou para buscá-lo. O curioso é que coordenadores e diretores não sabem muito bem como conversar com os professores a esse respeito.
Do mesmo modo, gestores escolares também não sabem como agir quando alunas do ensino médio vão para a aula excessivamente maquiadas e com roupas com decotes generosos, justas e curtas. Definir uniforme? Proibir certas roupas? Fazer o quê?
A esse tipo de comportamento somam-se outros. Um exemplo é quando alunos de oito, nove anos, em plena aula, se distraem por intermináveis minutos com o dedo no nariz. Novamente, professores ficam constrangidos e não sabem se devem ou não interferir.
A questão permanece em aberto sem uma boa solução, até agora, para as escolas que enfrentam esses tipos de problema. Por que elas não pensam em debater a questão com docentes e alunos à luz do conhecimento?
Essas situações me levaram de volta à leitura deliciosa de um livro que li pela primeira vez há uns dois anos: "A História da Polidez", de Frédéric Rouvillois. A polidez, mesmo sendo considerada por muitos autores como uma virtude menor quando comparada a outras, é necessária para a boa convivência social, além de ser a porta de entrada para as chamadas grandes virtudes.
A Revolução Francesa foi um marco na transformação de comportamentos sociais; hoje, com a existência de celulares, da internet e de uma informalidade radical nos relacionamentos interpessoais, tanto familiares quanto públicos, as normas da boa educação mudaram mais ainda. Entretanto, nos resta uma boa pergunta: e a polidez no sentido de civilidade, ou seja, no que se refere à boa convivência, ao respeito ao outro, a quantas anda? Famílias e escolas têm se ocupado dessa questão na educação dos mais novos?
Certamente ganhamos muito com a transformação das rígidas e precisas regras de etiqueta que já tivemos de atender. Mas a reclamação constante de barulho, do desrespeito de regras básicas de trânsito, da grosseria no trato interpessoal nos apontam a necessidade de rever a educação para a virtude da polidez.
As escolas, por exemplo, poderiam abrir a discussão com seus alunos sobre a adequação das vestimentas em situações diversas, só para voltar ao assunto do início de nossa conversa. E uma boa provocação inicial poderia ser a letra da música "Com que roupa?", de Noel Rosa.
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de "Cotidiano".
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