terça-feira, 9 de julho de 2013

Massacre aumenta a tensão no Egito - Diogo Bercito

folha de são paulo
Exército abre fogo contra manifestantes ligados ao presidente deposto Mohammed Mursi e deixa 51 mortos
Lideranças islâmicas deixam negociação para novo governo; presidente promete eleição para breve
DIOGO BERCITODE JERUSALÉMAo menos 51 defensores do presidente deposto do Egito, Mohammed Mursi, foram mortos ontem por militares, e 435 ficaram feridos.
O massacre, ocorrido em frente à sede da Guarda Republicana, aumentou a tensão no país e provocou a debandada de líderes islamitas que haviam apoiado o golpe na semana passada.
Segundo a Irmandade Muçulmana, movimento ao qual pertencem as vítimas, cinco crianças estavam entre os mortos, o que não foi confirmado.
Horas depois do episódio, o novo governo divulgou cronograma que dá prazo de quatro meses e meio para reformar a controversa Constituição promulgada no ano passado, hoje suspensa.
De acordo com decreto do presidente interino, Adly Mansur, após referendo para aprovar as mudanças na Carta, eleições parlamentares seriam convocadas e, depois, viriam as presidenciais.
Se os prazos forem cumpridos, poderá haver nova votação no Egito no final deste ano ou no começo de 2014.
O número de mortos ontem --o maior saldo de vítimas desde a queda de Hosni Mubarak em 2011, quando morreram mais de 300 pessoas em 18 dias-- provocou reações. Partidos políticos emitiram condenações e lideranças religiosas se dividiram a respeito da formação de um governo de transição.
O partido islâmico Al-Nur, rival da Irmandade que havia apoiado o golpe, paralisou sua participação nas negociações para a formação do governo interino.
Enquanto islamitas afirmam ter sido atacados pelas forças de segurança durante uma prece matinal, o Exército diz ter havido um ataque terrorista às instalações militares em que se acredita estar detido Mursi --o vencedor das primeiras eleições democráticas do Egito, ocorridas no ano passado.
CONFLITO PÓS-GOLPE
Ambas as facções estão em conflito desde o golpe.
Militantes pró-Mursi realizam protestos pelo país, em especial em determinadas áreas da capital, como a Guarda Republicana, a mesquita Rabia al-Adawiya e a Universidade do Cairo.
Nas proximidades do local da matança, a Folha encontrou estradas bloqueadas por blindados e testemunhou a passagem de fileiras de veículos carregando soldados.
Apesar da guerra de versões a respeito do conflito na Guarda Republicana, incluindo vídeos na internet, testemunhas ouvidas pelas agências de notícias relatam que as forças de segurança atacaram os manifestantes durante uma vigília pacífica.
Para o Exército, o incidente foi causado por um "grupo armado" com bombas, pedras e tiros para atacar o local em que Mursi está detido.
Em reação ao ocorrido, Ahmed al-Tayyeb, grande imã de Al-Azhar e maior autoridade religiosa do país, afirmou que pode permanecer em reclusão até que se encerrem todos os confrontos nas ruas.
Ele é alvo de crítica no Egito, após ter apoiado o golpe militar no país.
Na mesquita Rabia al-Adawiya, centro de manifestações de islamitas no centro do Cairo, a Folha conversou durante a semana com integrantes da Al-Azhar que se diziam contrários à posição oficial dessa instituição.
"O grande imã está participando do jogo político sujo", disse Abdel Ghani Salim. "Não apoiamos o imã depois de ele participar do golpe. Isso é uma coisa que só deveria acontecer em países ignorantes e opressivos."

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