segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Editoriais FolhaSP - Charge Benett

folha de são paulo
Como na Guerra Fria
Passados 22 anos do fim da União Soviética, as relações entre Estados Unidos e Rússia por vezes ainda repetem o modelo dos tempos da Guerra Fria.
No período em que o regime capitalista dos EUA se contrapunha ao malfadado comunismo do bloco soviético, eram frequentes os momentos de tensão entre as duas nações, seguidos de prolongada distensão e melhora nas tratativas.
Seria de esperar que o término da ordem bipolar daria cabo desse maniqueísmo contraproducente na esfera internacional. O cancelamento da cúpula bilateral entre os presidentes Barack Obama e Vladimir Putin, que deveria acontecer no início de setembro, evidencia que não é bem assim.
Causas imediatas e estruturais contribuíram para a decisão de Obama de suspender o encontro. Há quem veja na medida mera retaliação à concessão, pela Rússia, de asilo temporário a Edward Snowden --o delator de um esquema global de monitoramento de telecomunicações pela Agência de Segurança Nacional dos EUA.
Para além do imbróglio diplomático, no entanto, há sérias divergências em temas permanentes na agenda bilateral.
A guerra civil na Síria é o motivo de maior discórdia. Moscou não pretende interromper a cooperação com o regime de Bashar al-Assad; os americanos, por sua vez, oferecem apoio aos rebeldes.
Defesa nacional é outro ponto de desavenças. A Rússia se opõe aos planos norte-americanos para construir sistemas de defesa antimísseis na Europa central. Sob a perspectiva de Moscou, o fortalecimento dos EUA nessa região, muito próxima de seu território, constituiria uma ameaça.
Reduzir o volume de armamentos nucleares das duas potências na mesma medida, outro desejo do governo Obama, não encontra eco na gestão nacionalista de Putin.
Se não bastassem esses aspectos de cunho militar, as duas nações frequentemente divergem também em questões civis, como o respeito aos direitos humanos e a proteção das liberdades individuais --o caso Snowden, nesse ponto, aparece quase como ironia da história.
A nova geopolítica global, contudo, impõe que as duas potências sejam mais pragmáticas. Não faz sentido que elas apenas troquem acusações mútuas e fomentem importantes conflitos mundiais.
É o caso do conflito sírio, que se arrasta há dois anos e já vitimou mais de 100 mil pessoas. Sua resolução passa, obrigatoriamente, pela negociação entre EUA e Rússia.
    EDITORIAIS
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    Petróleo na balança
    Deficit externo do setor atinge recorde e expõe falhas de planejamento energético e da política econômica do governo Dilma Rousseff
    Cresce, desde 2009, a dependência brasileira de combustíveis importados. O deficit externo do setor, portanto, aumenta. Não chega a preocupar em termos econômicos, dadas as dimensões do PIB e do intercâmbio do Brasil com o exterior, mas o resultado evidencia problemas na gestão desse item estratégico para qualquer país.
    O deficit no primeiro semestre deste ano foi de US$ 15,4 bilhões, três vezes mais que no mesmo período de 2012. O aumento decorre do maior consumo de gasolina e diesel para veículos e de óleo e gás para usinas termelétricas, além de baixas de produção da Petrobras e de um problema contábil (importações petrolíferas do ano passado apenas agora são contabilizadas).
    Quanto às usinas, elas foram ligadas devido à baixa dos reservatórios das hidrelétricas e ao risco, remoto, de racionamento de energia. Trata-se, em certo sentido, de simples contingência.
    É outro o caso da elevação do consumo de gasolina e diesel, provocado pelo crescimento da frota de veículos e pelo preço relativamente baixo desses combustíveis, represado pelo governo para conter artificialmente a inflação.
    Esse controle postiço de preços é um despropósito que resulta do fracasso da política econômica. Sua consequência é o desarranjo desse mercado. Gasolina e diesel baratos ajudaram a avariar a indústria do etanol.
    Descapitalizado, o setor sucroalcooleiro passou a produzir menos, com o que o país veio também a importar etanol dos Estados Unidos. Há, no médio prazo, efeitos negativos para esse importante negócio, que articula a agricultura brasileira com a indústria por meio de inovações tecnológicas nacionais.
    A Petrobras é obrigada a importar gasolina cara e a revendê-la pelo "preço de tabela" do governo. O prejuízo diminui a capacidade de investimento da empresa. Além disso, anos de administração de qualidade duvidosa e a prioridade dada ao pré-sal, sem contar manutenção de plataformas e baixa de produção em campos antigos, reduziram a produção da petroleira.
    O recurso a usinas termelétricas e o uso excessivo de diesel demonstram insuficiências da política de substituição de combustíveis poluentes por fontes renováveis, como atrasos nas obras de geração e transmissão de energias mais limpas e falta de condições econômicas para o uso do etanol.
    Em termos financeiros, o Brasil não atingiu a autossuficiência em petróleo, como alardeado em meados do governo Lula. Deficit moderados na balança de combustíveis, porém, não são em si mesmos um problema.
    A presente situação mostra deficit mais grave: de planejamento no setor de energia e de racionalidade na política econômica.

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