RIO DE JANEIRO - As manifestações de rua caíram de 300 mil pessoas para 300, das quais 30 queimam a libido escoiceando portas e 270 gritam slogans de linchamento. As multidões que as apoiavam querem agora apenas voltar para casa em paz, sem perder ainda mais horas no trânsito, ou manter seu comércio aberto, a salvo de pedras, bombas e gases. Mas, mesmo reduzidos aos suspeitos de sempre, os protestos continuam movimentando a economia.
As papelarias, onde se vendem cartolina e pincel atômico, estão felizes da vida. Seus estoques desses produtos, que ameaçavam encalhar para sempre, estão saindo que nem pão quente. Incrível como dois artigos tão fora de moda --contemporâneos do tinteiro, do mata-borrão e da goma arábica-- estejam servindo para veicular tantas mensagens toscas, pintadas a mão. E isso em plena era do Facebook e do Twitter.
A venda de vinagre também disparou, para ensopar camisetas que, enroladas aos rostos, neutralizam o gás lacrimogêneo. Idem quanto ao leite de magnésia --os frascos são agora comprados às grosas por jovens de roupa preta.
Mas ninguém mais feliz que os vidraceiros, chamados a substituir portas de vidro de bancos, escritórios, butiques e outros covis do capitalismo assassino --curiosamente, as lojas do McDonald's têm sido poupadas. Os calceteiros também estão trabalhando em tempo integral, para repor as pedras portuguesas arrancadas pela turma. Os restauradores de monumentos, idem, não têm do que se queixar.
Os indicadores econômicos acusam ainda uma alta expressiva na procura de escudos de metal, óculos de proteção, tesouras, martelos, marretas, bolas de gude e estilingues. E as máscaras de "Anonymous" continuam saindo, mas seu boom de vendas está previsto para o próximo Carnaval.
Nenhum comentário:
Postar um comentário