Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 19/08/2013
Enxugando 600ml de
ótima cerveja, cujo único defeito é ficar nos 5,2% de álcool por
volume, estive reparando na garrafa bojuda, com a base mais larga. Os
menores de 50 anos não se lembram, mas houve tempo em que foi moda
transformar garrafas em copos, uma dessas besteiras que ocorrem de
tempos em tempos por modismo ou pelo efeito manada, fenômenos sociais
que devem ser estudados pelo pessoal da área psi.
No Rio, todos tinham copos feitos com garrafas e havia quem os fizesse em casa. Você amarrava um barbante na altura do corte desejado, molhava o barbante com álcool, tocava fogo, secionando a garrafa, e o copo, com as bordas cortantes, ficava uma porcaria. Mas havia profissionais do corte, que lixavam as bordas e você transformava garrafas usadas em uma, duas dúzias de copos, que só usaria uma vez.
Garrafas de vinhos alemães da Francônia ou do português Mateus Rosé, cortadas, eram transformadas em potes para servir salgadinhos. São aquelas garrafas bojudas Bocksbeutel (testículos de bode), lembrança do tempo em que os vinhos eram transportados nos sacos dos bodes defuntos.
Na dependência das safras cortadas no Rio, você tinha copos cascos escuros ou cascos claros. Foi besteira anterior à mania dos vinhos de garrafa azul, como se o vidro azul conferisse qualidade aos péssimos vinhos importados da Alemanha. Ainda me lembro do convite que fiz para noite de autógrafos de um dos meus livrinhos, com a seguinte advertência: “Enfim, uma noite de autógrafos sem vinho de garrafa azul”.
Faz tempo que não chateio amigos com esses convites. Penitencio-me do fato de ter chateado muita gente com noites de autógrafos durante séculos. Uma delas rendeu-me belo casamento, quando apresentei a linda senhora a minha filha mais velha, que lá estava cumprindo seu dever filial: “Esta vai ser sua madrasta”. E foi.
Em matéria de copos, bons mesmo são os de cristal liso, que nos permitam limpeza dos interiores com os dedos para remover sabões e detergentes. Qualquer material que fuja do cristal liso é tolice, é semostração, é tudo, menos copo decente.
Em casa de saudoso amigo, ex-apontador do jogo do bicho, que casou sua filha com um delegado de polícia, bebi hectolitros de cervejas numa caneca inglesa, de louça, que trazia estampada a frase de Churchill: We shall fight on the beaches /.../ we shall never surrender.
Aí é que está: never surrender – sem essa de rendição. De vez em quando, boas cervejas têm hora e vez. Pena que a de hoje só tivesse 5,2% de álcool por volume.
Brave new world
Pergunto ao leitor, com todo o respeito, naturalmente: você tem smartphone? Claro que tem. Todo brasileiro tem smartphone, muitos patrícios e patrícias têm dois ou três, o que complica a situação de um philosopho amigo nosso: não faço a menor ideia do que seja um smartphone. Meu velho Nokia já é suficientemente complicado para idoso marquês.
Pausa para explicar o título desse belo suelto. Brave new world foi o romance escrito em 1931 e publicado em 1932 por Aldous Huxley (1894-1963), traduzido para Admirável mundo novo, que narra um hipotético futuro, onde as pessoas seriam precondicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viver em harmonia com as leis e as regras sociais, dentro de uma sociedade por castas. No futuro imaginado por Huxley, a sociedade não tem a ética e os valores morais que regem ou deveriam reger a sociedade atual. Qualquer dúvida e insegurança dos cidadãos seria solucionada com o consumo de uma droga, sem efeitos colaterais aparentes, chamada “soma”. As crianças, na antevisão de Huxley, teriam educação sexual desde os primeiros anos de vida e o conceito de família também não existiria.
Falta-me equipamento intelectual para analisar tudo que vem ocorrendo no mundo, ou alguém acha que o conceito de família, em 2013, é parecido com o de 1932? Em verdade vos digo: peguei o título do romance de Huxley para falar da pronúncia de world (planet Earth), uma das mais difíceis para brasileiros. Muitos repórteres com larga experiência nos Estados Unidos e na Inglaterra não conseguem pronunciar world.
Apesar de não falar inglês, tenho bom ouvido e ótima pronúncia, o que nos traz de volta ao smartphone: com ele, você pode chamar um táxi e acompanhar o trajeto do veículo, que, muitas vezes, tem motorista bilíngue. E daí? Tenho o maior respeito pelos que falam dois ou mais idiomas, mas só converso com o chofer do táxi em português brasileiro ou ibérico, idiomas parecidíssimos.
O mundo é uma bola
Em 19 de agosto de 293 a.C., no Monte Esquilino, foi fundado o mais antigo templo romano dedicado a Vênus, equivalente a Afrodite no panteão grego, deusa do amor e da beleza, que equivale a Ivete Sangalo no panteão de um philosopho amigo nosso.
Em 1692, acusados de bruxaria, cinco mulheres e um clérigo são executados naquele que ficou conhecido como Julgamento das Bruxas de Salem, na pequena povoação de Salem, Massachusetts.
Hoje é o Dia Mundial da Fotografia, o Dia da Aviação Agrícola e vai ser o Dia do Ciclista, quando aprovado o Projeto de Lei 43, de 2008.
Ruminanças
“Em muitos casos, a raiva contra o subdesenvolvimento é profissional. Uns morrem de fome, outros vivem dela com generosa abundância” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).
No Rio, todos tinham copos feitos com garrafas e havia quem os fizesse em casa. Você amarrava um barbante na altura do corte desejado, molhava o barbante com álcool, tocava fogo, secionando a garrafa, e o copo, com as bordas cortantes, ficava uma porcaria. Mas havia profissionais do corte, que lixavam as bordas e você transformava garrafas usadas em uma, duas dúzias de copos, que só usaria uma vez.
Garrafas de vinhos alemães da Francônia ou do português Mateus Rosé, cortadas, eram transformadas em potes para servir salgadinhos. São aquelas garrafas bojudas Bocksbeutel (testículos de bode), lembrança do tempo em que os vinhos eram transportados nos sacos dos bodes defuntos.
Na dependência das safras cortadas no Rio, você tinha copos cascos escuros ou cascos claros. Foi besteira anterior à mania dos vinhos de garrafa azul, como se o vidro azul conferisse qualidade aos péssimos vinhos importados da Alemanha. Ainda me lembro do convite que fiz para noite de autógrafos de um dos meus livrinhos, com a seguinte advertência: “Enfim, uma noite de autógrafos sem vinho de garrafa azul”.
Faz tempo que não chateio amigos com esses convites. Penitencio-me do fato de ter chateado muita gente com noites de autógrafos durante séculos. Uma delas rendeu-me belo casamento, quando apresentei a linda senhora a minha filha mais velha, que lá estava cumprindo seu dever filial: “Esta vai ser sua madrasta”. E foi.
Em matéria de copos, bons mesmo são os de cristal liso, que nos permitam limpeza dos interiores com os dedos para remover sabões e detergentes. Qualquer material que fuja do cristal liso é tolice, é semostração, é tudo, menos copo decente.
Em casa de saudoso amigo, ex-apontador do jogo do bicho, que casou sua filha com um delegado de polícia, bebi hectolitros de cervejas numa caneca inglesa, de louça, que trazia estampada a frase de Churchill: We shall fight on the beaches /.../ we shall never surrender.
Aí é que está: never surrender – sem essa de rendição. De vez em quando, boas cervejas têm hora e vez. Pena que a de hoje só tivesse 5,2% de álcool por volume.
Brave new world
Pergunto ao leitor, com todo o respeito, naturalmente: você tem smartphone? Claro que tem. Todo brasileiro tem smartphone, muitos patrícios e patrícias têm dois ou três, o que complica a situação de um philosopho amigo nosso: não faço a menor ideia do que seja um smartphone. Meu velho Nokia já é suficientemente complicado para idoso marquês.
Pausa para explicar o título desse belo suelto. Brave new world foi o romance escrito em 1931 e publicado em 1932 por Aldous Huxley (1894-1963), traduzido para Admirável mundo novo, que narra um hipotético futuro, onde as pessoas seriam precondicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viver em harmonia com as leis e as regras sociais, dentro de uma sociedade por castas. No futuro imaginado por Huxley, a sociedade não tem a ética e os valores morais que regem ou deveriam reger a sociedade atual. Qualquer dúvida e insegurança dos cidadãos seria solucionada com o consumo de uma droga, sem efeitos colaterais aparentes, chamada “soma”. As crianças, na antevisão de Huxley, teriam educação sexual desde os primeiros anos de vida e o conceito de família também não existiria.
Falta-me equipamento intelectual para analisar tudo que vem ocorrendo no mundo, ou alguém acha que o conceito de família, em 2013, é parecido com o de 1932? Em verdade vos digo: peguei o título do romance de Huxley para falar da pronúncia de world (planet Earth), uma das mais difíceis para brasileiros. Muitos repórteres com larga experiência nos Estados Unidos e na Inglaterra não conseguem pronunciar world.
Apesar de não falar inglês, tenho bom ouvido e ótima pronúncia, o que nos traz de volta ao smartphone: com ele, você pode chamar um táxi e acompanhar o trajeto do veículo, que, muitas vezes, tem motorista bilíngue. E daí? Tenho o maior respeito pelos que falam dois ou mais idiomas, mas só converso com o chofer do táxi em português brasileiro ou ibérico, idiomas parecidíssimos.
O mundo é uma bola
Em 19 de agosto de 293 a.C., no Monte Esquilino, foi fundado o mais antigo templo romano dedicado a Vênus, equivalente a Afrodite no panteão grego, deusa do amor e da beleza, que equivale a Ivete Sangalo no panteão de um philosopho amigo nosso.
Em 1692, acusados de bruxaria, cinco mulheres e um clérigo são executados naquele que ficou conhecido como Julgamento das Bruxas de Salem, na pequena povoação de Salem, Massachusetts.
Hoje é o Dia Mundial da Fotografia, o Dia da Aviação Agrícola e vai ser o Dia do Ciclista, quando aprovado o Projeto de Lei 43, de 2008.
Ruminanças
“Em muitos casos, a raiva contra o subdesenvolvimento é profissional. Uns morrem de fome, outros vivem dela com generosa abundância” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).
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