Duo Assad, formado pelos irmãos Sérgio e Odair, se apresenta hoje em Belo Horizonte.
No repertório, compositores brasileiros e temas clássicos em arranjos para dois violões
Walter Sebastião
Estado de Minas: 13/08/2013
“O
melhor duo de violões existente, talvez em toda a história. Nenhuma
antecipação poderia ter me preparado para a impressionante flexibilidade
e completa unanimidade dos irmãos brasileiros.” Comentário estampado no
jornal norte-americano The Washington Post referindo-se ao Duo Assad.
Sérgio tem 56 anos e mora nos Estados Unidos; Odair, de 60 anos, vive na
Bélgica. Juntos, andam mundo afora apresentando clássicos do violão,
não só europeus e norte-americanos, mas brasileiros da gema, como
Garoto, Dilermando Reis, Ernesto Nazareth, João Pernambuco, Baden
Powell, Egberto Gismonti, Heitor Villa-Lobos. Um pouco desse repertório,
além de composições de Fernando Sor (1778-1839) e Jean-Philippe Rameau
(1682-1764), estão no programa do concerto que os irmãos realizam hoje,
às 20h, no Teatro Bradesco.
O perfil dos autores, conta
Sérgio, é basicamente de violonistas que escreveram para violão solo. As
peças ganharam arranjos da dupla para dois violões, com interpretação
moderna. “Está infiltrado na execução das peças nossa versão, atual,
para obras maravilhosas, muitas delas escritas há quase um século,
tocadas quase sempre de uma forma só”, conta. O músico não coloca
fronteiras entre o popular e o erudito. “Só gostamos de tocar música e o
que mostramos é o nosso repertório. Criadores como Piazzolla
preencheram de forma maravilhosa esses mundos”, observa. O disco mais
recente do Duo Assad é Dance of the world (2013), com o cubano Paquito
D’Rivera. O próximo álbum vai ser dedicado aos clássicos do violão
popular brasileiro.
Sérgio Assad falou ao Estado de Minas, por
telefone, de São João da Boa Vista, interior de São Paulo, onde mora
dona Ica, matriarca de uma família de muitos artistas. “Estou curtindo
mãe”, brinca Sérgio, contando que pelo menos duas vezes por ano ele e o
irmão estão por lá. A cidade fez homenagem à família, criando no ano
passado a Semana Assad, com shows e oficinas que movimentam a vida
cultural da região.
“É um lugar musical. Já existe aqui, há
20 anos, a Semana Guiomar Novaes, que também nasceu em São João”,
observa Sérgio. “Recebemos tudo com muita alegria e como homenagem ao
nosso pai, que sempre cultivou a música na cidade. É mais reverência à
música do que a nós. Ficamos felizes por ser evento dedicado ao
instrumental. Contribuir para ampliar o espaço para a música
instrumental é muito bom”, avalia. A família Assad, além de Sérgio e
Odair, pode se orgulhar do talento da irmã mais nova, Badi Assad,
violonista e compositora com carreira reconhecida internacionalmente.
Duo Assad
Hoje, às 20h, Teatro Bradesco,
Rua da Bahia, 2.244, Savassi,
(31) 3516-1360. Ingressos: R$ 50 e R$ 25.
três perguntas para...
sérgio assad
violonista e compositor
1 - Quais são os momentos marcantes na trajetória do Duo Assad?
Somos
marcados pela mistura dos autores eruditos e populares. Viemos de
escola tradicional do choro, crescemos nesse ambiente. Nosso pai era
relojoeiro de profissão e adorava tocar. Ganhou um cavaquinho numa rifa,
não sabia o que fazer com ele, comprou discos, ouviu e tirou de ouvido
400 choros. Quando fomos fazer estudos acadêmicos – meu pai não impôs,
mas nos dirigiu nesse sentido –, levamos na bagagem o que tínhamos. E
fomos ter aulas de violão clássico com a professora argentina Monina
Távora. Ela ouviu e disse: a partir de agora, vamos tocar música séria.
Deu um nó na nossa cabeça, pois é difícil negar as próprias raízes.
Então, continuamos tocando escondido dela autores populares e procurando
alternativas sobre o que fazer. Inclusive, porque há poucas composições
escritas para dois violões. E encontramos Radamés Gnatalli, Egberto
Gismonti, Piazzolla. Montamos repertório com uma parte clássica e outra
de compositores latino-americanos e isso acabou dando a nossa cara. Nos
anos 1970, tal caminho estava na contracorrente, não se permitiam coisas
híbridas, era como se estivéssemos em cima do muro. Nunca estivemos em
cima do muro. Música só tem duas: a boa e a ruim.
2 - Heitor Villa-Lobos, Pixinguinha, Garoto, Dilermando Reis, Ernesto Nazareth e João Pernambuco: o que impressiona nesses autores?
São
clássicos do violão popular brasileiro. João Pernambuco, por exemplo,
criou coisas originalíssimas, sem copiar ninguém. Villa-Lobos fez o
mesmo. Eles inventaram coisas e é preciso ser muito inteligente para
criar assim. A recepção às composições deles, em qualquer lugar do
mundo, é grande. Buscar coisas novas é algo intrínseco ao ser humano. A
Argentina também tem muitos criadores bons. Mas, no Brasil, o número de
gente criativa é muito maior. O jazz parou nos anos 1970, a música
brasileira continua evoluindo. Fizemos um disco com o cubano Paquito
D’Rivera. Ele adora música brasileira e disse, se referindo ao Brasil:
“Não é fácil ser Tom Jobim na terra dos compositores, em lugar onde todo
mundo é compositor”. Achei muito bonito.
3 - Como é atuar em duo?
Eu
e o Odair tocamos juntos desde o primeiro dia, já são 48 anos. Dizem
para não contar o tempo, mas conto sim. Começamos no interior de São
Paulo, com o nosso pai, e aprendemos rápido o repertório dele. Depois,
sem ter nem um ano de instrumento, estávamos na TV Record tocando com
Jacob do Bandolim no programa da Elizeth Cardoso. Quantos tocaram com
Jacob? Existimos como duo até 1990. Depois começamos a ser convidados
para várias formações. Como temos o hábito de tocar juntos, se entra um
terceiro ele tem de se adaptar a nós, já que são dois instrumentistas
que entendem a música da mesma forma. Brigas existem e fazem parte da
vida, mas a gente esquece. O êxito de um duo está ligado à harmonia
entre as pessoas. Atritos ficam mais fáceis de resolver quando se tem
ligação de sangue.
Nenhum comentário:
Postar um comentário