Fragmento da história de Marte
Estudo conclui que meteorito encontrado
na África em 2012 é uma amostra de 4,4 bilhões de anos, da crosta
marciana, e pode ajudar a entender o processo de formação do planeta e
do Sistema Solar
Isabela de Oliveira
Estado de Minas: 22/11/2013
Brasília
– Desde as primeiras observações do céu, astrônomos se perguntam como
surgiu o fantástico cenário que abriga a Terra e o Sistema Solar.
Séculos se passaram e a curiosidade só aumenta, estimulada por novas
peças que são descobertas e ajudam a montar esse imenso quebra-cabeça.
Uma das pistas mais frescas foi descrita na edição de ontem da Nature.
Segundo um estudo publicado na revista especializada, um meteorito
encontrado no continente africano em 2012 é um raro exemplar dos
elementos que constituíam a crosta de Marte há 4,4 bilhões de anos, o
que traz valiosas informações sobre a “infância” do Planeta Vermelho e,
consequentemente, sobre os momentos iniciais do conjunto formado pelo
Sol e pelos planetas e outros objetos que o circundam.
Maria
Elizabeth Zucolotto, especialista em meteoritos da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que nunca foi encontrada na Terra uma
rocha tão antiga quanto a NWA 7533, nome dado à amostra. “Essa
descoberta nos fala mais sobre o começo do Sistema Solar e decifra o
comecinho de tudo. A superfície de Marte é muito antiga e começou a se
diferenciar (da de outros planetas) nos seus primeiros 100 milhões de
anos. Isso nos permite saber o quão diferente esse planeta já foi e como
a água sumiu de lá”, afirma a pesquisadora, que não participou do
estudo.
A sigla NWA é uma referência à região onde a pedra, de 40mm
foi achada, no Noroeste da África. Acredita-se que, há bilhões de anos,
uma grande colisão ocorreu em Marte, fazendo com que um bloco rochoso se
soltasse do planeta e ficasse solto no espaço. Um dia, então, esse
bloco entrou em rota de colisão com a Terra e, ao entrar em sua
atmosfera, foi pulverizado, restando dele apenas pequenos fragmentos.
Além
do 7533, cientistas recuperaram outros quatro meteoritos resultantes
desse incidente. Um deles, o NWA 7034, foi descrito anteriormente em
outra pesquisa, mas as análises não mostraram que sua origem era tão
antiga, o que foi possível fazer agora graças a uma técnica de análise
de decaimento radioativo do urânio presente no pedregulho. Segundo Munir
Humayun, pesquisador da Universidade da Flórida e principal autor do
novo artigo, é possível afirmar que os dois objetos vieram de Marte,
devido à sua composição química única, típica do planeta vizinho. “Eu
quis analisar os elementos que são abundantes em meteoros condritos,
mais raros em rochas da crosta terrestre. Um colega da universidade
obteve uma amostra gentilmente cedida pelo proprietário, Luc Labenne, e a
trouxe para o meu laboratório. Desde então, estamos ocupados decifrando
os segredos desse meteorito”, diz.
Confirmações As
análises já revelaram que o meteorito é uma amostra dos antigos
planaltos de Marte, um planeta de formação curiosa. Seu hemisfério sul,
cheio de crateras, é muito antigo, tendo mais de 3,8 bilhões de anos.
Durante a evolução marciana, a porção norte desenvolveu uma crosta mais
fina e uma grande província vulcânica, a região de Tharsis, onde está o
maior vulcão do Sistema Solar, o Olympus Mons, com mais de 22
quilômetros de altura.
Para Humayun, os segredos sobre a formação
das rochas do planalto sul podem ser desvendados com a ajuda do NWA
7533. Além disso, os dados trazem informações que confirmam os achados
de missões como a do robô Curiosity, que apontam um passado rico em água
no Planeta Vermelho. A amostra que caiu na Terra, por exemplo, não tem
enxofre, cloro nem zinco enriquecido, hoje vistos no solo marciano.
“Esses são elementos solúveis em água. É isso que esperamos de um Marte
do passado, com muita água. Hoje, ele é mais seco do que o Deserto do
Saara e, por isso, é rico nesses elementos”, escreve Humayun.
As
análises ainda devem prosseguir por muitos anos, diz o pesquisador.
“Esse meteorito fornece novas pistas para a história de Marte, podendo
revelar mais sobre a possível alteração hidrotermal da crosta marciana e
se houve um início de biosfera (vida). Há pistas tentadoras dentro do
meteorito e esse estudo é a ponta do iceberg de investigação que
continua a ser desenvolvida”, conclui.
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