sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Rio e lagos também emitem gás carbônico‏

Rio e lagos também emitem gás carbônico


Paloma Oliveto

Estado de Minas: 22/11/2013

Negro e Solimões: maior emissão de CO2 ocorre em rios amazônicos (Daniel Ferreira/CB/D.A Press %u2013 5/4/13)
Negro e Solimões: maior emissão de CO2 ocorre em rios amazônicos

Perto da imensidão oceânica, fontes de água doce, como rios, lagos e reservatórios, parecem uma gotinha. Juntas, representam apenas 2,2% da superfície do planeta, o que fez com que, durante muito tempo, fossem ignoradas no balanço do ciclo do carbono. Contudo, uma pesquisa publicada na revista Nature constatou que essa rede de transporte aquífero emite o dobro de CO2 na atmosfera do que se imaginava. Usando três parâmetros – concentração do gás na superfície das águas, velocidade de transferência para a atmosfera e extensão de rios e lagos –, um grupo internacional de cientistas descobriu que 70% da evasão de dióxido de carbono originário dessas fontes está concentrada em somente 20% do território global, sendo que a região amazônica lidera o ranking.
 
Os cálculos feitos pela equipe de pesquisadores revelaram que esses reservatórios são responsáveis por um fluxo de 2,1 gigatoneladas de CO2 por ano – como comparação, a queima de combustível fóssil lança até 8 gigatoneladas. Peter A. Raymond, biogeoquímico da Faculdade de Estudos Ambientais e Florestais de Yale, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo, afirma que não é possível, ainda, identificar o que gera tanto dióxido de carbono em água doce. “A matéria orgânica que se acumula no solo e é levada pelo rio provavelmente tem um grande papel nisso mas não explica sozinha, uma taxa tão alta de evasão. Mais estudos são necessários para determinar a fonte, inclusive se há ação antropogênica envolvida, isso é, se atividades humanas estão por trás de parte das emissões”, afirma.

Com a ajuda de mapas gerados por satélite, Raymond identificou que as fontes de água dos trópicos são aquelas com maior fluxo de carbono – sozinhos, os rios amazônicos concentram 0,6 gigatonelada da evasão global desse tipo. Embora exista uma relação com o clima e a vegetação tropical, o cientista afirma que também é necessário investigar mais profundamente por que nessa latitude há mais carbono circulando nos rios e lagos – algo que ele já começou a fazer.

Em um artigo escrito para a Nature, o pesquisador Bernhard Wehrli, do Instituto Suíço Federal de Ciências Aquáticas, estima que a inesperada quantidade de carbono sendo emitida por fontes de água doce pode vir da respiração do solo, da erosão e do desmatamento. “No presente momento, não está claro o que contribui mais”, afirmou. Ele destacou que, para tanto, será necessário usar métodos avançados de geoquímica que diferenciem a matéria orgânica terrestre da aquática. Wehrli ressaltou que é preciso detectar o quanto de metano (outro potente gás de efeito estufa) as fontes de água doce estão emitindo.

Informações Na avaliação do biogeoquímico Johathan J. Cole, do Instituto Cary de Estudos Ecológicos, modelos futuros do balanço global de carbono terão de levar em conta a contribuição das fontes de água doce no ciclo do CO2. “A inclusão do ecossistema de rios, lagos e reservatórios no balanço de carbono fornecem informações inestimáveis sobre o estoque, a oxidação e o transporte territorial desse elemento”, defende. “O carbono está continuamente em ciclo através dos sistemas terrestres, de água doce, do oceano e da atmosfera. Não há como ignorar a contribuição de nenhum deles no balanço global.”

Segundo Cole, outra deficiência dos modelos atuais é a definição de como os rios transportam o gás. “Ao descrever os rios como tubos que passivamente levam o carbono do solo terrestre para o mar, os modelos falham em capturar as complexas transformações que ocorrem na jornada (do elemento) até o oceano”, alega. Calcula-se que metade do CO2 que entra nas correntes de água doce não terá o oceano como destino. No trajeto, aproximadamente 40% retornarão à atmosfera como CO2 e 10% serão estocados nos sedimentos. “Por essa dinâmica você percebe que não podemos ignorar os rios e lagos no balanço”, diz.

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