O governador Alckmin tem pressa em fechar
uma aliança com o PSB. Não conseguindo tirar de Aécio Neves a
candidatura presidencial, José Serra pode querer de volta a cadeira de
governador
Estado de Minas: 05/11/2013
Até aqui, todas as
fricções entre o PSB, do governador Eduardo Campos, e a Rede, de Marina
Silva, foram contornadas, quase sempre por concessões dele, para evitar
abalos precoces na aliança. Todas elas refletiram diferenças de fundo
programáticas, diria Marina, entre os dois grupamentos políticos. Agora,
no mais tardar no início do próximo ano, começarão movimentos
eleitorais estratégicos para a candidatura dele, que testarão a
capacidade dela de fazer concessões em nome do projeto comum. O mais
sensível desses movimentos está em curso nos bastidores: a composição
entre o PSB e o PSDB em São Paulo, que levaria à indicação do deputado
socialista Márcio França para vice do governador Geraldo Alckmin.
As
negociações, que remontam ao primeiro semestre, foram congeladas por
ordem de Campos logo depois do acordo com Marina, para reduzir as
tensões na fase de ajustamento, e também à espera de que seja resolvido o
conflito latente no PSDB, representado pela pretensão do ex-governador
José Serra de ainda vir a ser o candidato a presidente no lugar do
senador Aécio Neves. Mas, diante do assédio de outros candidatos ao PSB,
como Paulo Skaf, do PMDB, e Gilberto Kassab, do PSD, oferecendo da
mesma forma a vaga de vice a um nome do partido numa coligação que, no
mínimo, agregará tempo de televisão, tucanos e socialistas retomaram as
conversações. A preferência do grupo paulista do PSB pela composição com
Alckmin, de cujo governo participa, está mais do que consolidada. Mas
como vai Marina reagir a uma coligação com o PSDB? Ou vai Eduardo Campos
forçar a mão com os paulistas para agradá-la, sacrificando a melhor
solução eleitoral para sua candidatura? Por ora, Marina insiste na
importância de o PSB ter candidatos próprios no maior número de estados,
e especialmente no chamado “triângulo das bermudas”, composto por São
Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nesses três estados vivem 47% dos
eleitores. Segue defendendo a candidatura do deputado Walter Feldman,
que, como ela, é da Rede, mas filiou-se ao PSB para poder disputar um
cargo eletivo em 2014.
Esse conflito anunciado em São Paulo tende
a se reproduzir nos outros estados em que o PSB, não tendo um candidato
forte, em outros tempos optaria pela coligação mais pragmática. Ele
reflete uma diferença que, cedo ou tarde, ficará clara e não poderá ser
contemporizada. Embora Campos tenha adotado o discurso de Marina contra a
“velha política”, toda a sua trajetória foi construída sobre o modelo
convencional, praticando o jogo das alianças, da cooptação, da premiação
dos aliados e, não menos importante, da punição dos adversários.
Alckmin,
de sua parte, tem alguma pressa na definição, pois teme que, não
conseguindo desbancar Aécio, Serra volte os olhos para o Palácio dos
Bandeirantes, de onde saiu ao fim do primeiro mandato para disputar a
Presidência em 2010. Acredita o atual governador que, com chapa e
palanque negociados, estará mais seguro para buscar a própria reeleição.
Esse é um capítulo a que não vamos demorar para assistir.
Problemas domésticos
Eduardo
Campos levou na viagem para a Europa informações frustrantes sobre o
ambiente político em seu próprio estado. Segundo pesquisa realizada pelo
Instituto Maurício de Nassau, divulgada localmente na semana passada,
ele ganha de Dilma na disputa presidencial, no estado, mas não por uma
diferença tão acachapante como imaginado. Ele teria 33% de preferência,
ela 30%. Se o candidato do PT fosse Lula, tudo mudaria. Ele teria 44% e
Campos 25%.
Mais preocupante talvez seja sua própria sucessão, já
que Campos não pode perder Pernambuco. Segundo a pesquisa, em todos os
cenários quem lidera é o senador do PTB Armando Monteiro Filho. Ele
teria 28%, contra 14% do petista João Paulo e 11% do provável candidato
do governador, o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho. O desempenho de
Monteiro melhora na simulação em que o PT não tem candidato próprio. Os
outros nome do PSB, João Lyra Neto e Tadeu Alencar, tiveram pontuação
baixíssima, favorecendo a escolha do ex-ministro de Dilma.
Um
detalhe que realça os resultados colhidos: 40% sabem que Campos não é
mais aliado de Lula/Dilma. Para 74%, foi o governador que rompeu com os
antigos aliados. Para 10%, foram Lula e Dilma que tomaram a iniciativa
do rompimento.
Quem toparia?
Em
entrevista ao jornal O Globo, retomando a defesa da reforma política e
reconhecendo as dificuldades para aprová-la, o ministro Roberto Barroso
saiu-se com uma proposta: que todos os candidatos a presidente, nas
próximas eleições, registrem em cartório a proposta de reforma política
que, se eleitos, tentariam aprovar. Ainda que o presidente da República
não tenha controle sobre tal matéria, tal compromisso criaria
constrangimentos futuros para os congressistas, que hoje se negam a
mudar o sistema, apesar do grito das ruas contra suas falhas e o déficit
de representação. Com a palavra, os candidatos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário