A questão das terras indígenas
Palavra final deve caber ao Congresso, que representa a sociedade
Frederico Diamantino Bonfim e Silva
Especialista em direito ambiental e agrário, diretor da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ)
Estado de Minas: 19/01/2014
Com a aprovação
do Orçamento de 2014, o assunto sobre as demarcações de terras indígenas
voltou a ser pautado no Congresso Nacional. Infelizmente, não é por ser
um dos temas nacionais de maior relevância que vem trazendo insegurança
para investidores e pecuaristas e explodindo o campo em violência, com
confrontos armados. Mas sim por uma pressão política, contra o anunciado
veto à aprovação do Orçamento impositivo, que nada mais é do que o
pagamento obrigatório de emendas parlamentares. Inicialmente, um assunto
não tem nada a ver com o outro. Mas, como o Executivo já anunciou que
vai vetar o Orçamento impositivo, os deputados resolveram dar o troco
político e instalaram a comissão que vai analisar a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 215 em pauta.
A referida emenda trata da
alteração da Constituição Federal da seguinte forma: Ementa – Constitui
Comissão especial destinada a apreciar e proferir parecer à Proposta de
Emenda à Constituição 215-A, de 2000, do sr. Almir Sá e outros, que
“acrescenta o inciso XVIII ao art. 49; modifica o § 4º e acrescenta o §
8º ambos no art. 231, da Constituição Federal” (inclui dentre as
competências exclusivas do Congresso Nacional a aprovação e demarcação
das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios e a ratificação das
demarcações já homologadas; estabelecendo que os critérios e
procedimentos de demarcação serão regulamentados por lei). Em síntese, a
PEC 215 altera o rito de demarcação de terras dos índios transferindo
para o Legislativo a competência, que hoje é do Executivo, sobre a
demarcação de novas terras indígenas. Além da perda de poder, o
Executivo é contra a formação da comissão para analisar a PEC 215. Ela é
formada em grande parte por deputados da bancada ruralista, contra os
quais o governo tem amargado sequências de derrotas. A situação precisa
ser definida. Não se pode simplesmente tomar as terras das pessoas que
compraram títulos registrados em cartórios, que têm cadeia dominial
completa e que fizeram investimentos pesados durante décadas e que estão
na posse a gerações, com o argumento de que essas terras eram
indígenas, de acordo com um procedimento administrativo da Fundação
Nacional do Índio (Funai) e não indenizar ninguém por isso.
Do
jeito que está não pode ficar, pois as pessoas que compraram as terras
tituladas, livres e desembaraçadas e nelas investiram tempo e dinheiro
não podem simplesmente ser retiradas delas e, pior, sem sequer ganhar
indenização com a alegação simplista de que o primeiro possuidor das
terras brasileiras eram os índios. Como o nome do próprio órgão indica, a
Funai não possui independência para dar a última palavra sobre o
assunto. Nada melhor que o Congresso, que é o representante do povo,
para definir sobre as demarcações. A batalha começou apenas no campo
político, mas com certeza a parte vencida vai bater na porta do
Judiciário.
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