Cientistas acham que o estudo pode ajudar pacientes com problemas de movimento
Vilhena Soares
Estado de Minas: 08/01/2014
Você sabia que, ao acessar diariamente seu computador para as mais diferentes tarefas, está exercitando seu cérebro? Pois é o que defendem pesquisadores da Northwestern University e do Instituto de Reabilitação de Chicago. Em um estudo realizado recentemente e divulgado na revista Current Biology, os cientistas concluíram que pessoas com o hábito de usar laptops e tablets ganham diversas habilidades mentais, incluindo algumas relacionadas a atividades motoras. Isso pode levar, dizem os autores, a formas mais eficazes de ajudar na recuperação de pessoas que tiveram prejudicados os movimentos do corpo.
No experimento, os cientistas analisaram dois grupos de trabalhadores imigrantes japoneses, um com familiaridade com os computadores e outro sem. Após alguns testes de aprendizagem de movimentos, os trabalhadores do primeiro grupo tiveram um desempenho bem melhor. Um dos testes consistia em mover um cursor com a mão, para várias direções. O trabalho foi bem executado por aqueles com muito mais familiaridade com as máquinas.
Em outro momento, com um novo grupo de 10 pessoas que não estavam familiarizadas com computadores, os autores pediram que os voluntários passassem duas semanas treinando o uso de jogos de computador, que exigiam o uso intensivo do mouse por duas horas a cada dia. Com o treinamento, as pessoas que antes não tinham muita produtividade nas atividades evoluíram bastante. “Duas semanas de experiência foi o suficiente para converter os padrões de usuários de computador normal para os padrões de indivíduos que usam computador, que era o que acreditávamos que aconteceria”, relatou Konrad Jording, um dos responsáveis pelo estudo.
Kording explica que esses dados obtidos são de extrema importância, pois mostram que é possível desenvolver a agilidade mental de forma mais rápida com o uso das máquinas. Especialista na área de recuperação médica do Instituto de Reabilitação de Chicago, o cientista vê uma possibilidade de usar o treinamento via computador para ajudar seus pacientes. “Se pudéssemos fazer com que eles generalizassem essa habilidade em um treinamento robótico feito no hospital e o usassem para tomar chá em casa, por exemplo, o treinamento no hospital melhoraria ao máximo a vida cotidiana dessas pessoas”, afirma.
“Essa busca é muito importante, porque queremos que os pacientes que têm doenças relacionadas a movimentos tenham um treinamento eficiente no hospital, obtendo desempenho funcional também em casa. Fora que ninguém, antes, havia pesquisado como os computadores mudam a nossa forma de aprender a mover-nos, pelo menos, até onde eu sei, isso ainda não havia sido feito”, destaca.
Mais exercícios Para Pablius Braga, um dos coordenadores do Centro de Medicina do Exercício e do Esporte do Hospital 9 de Julho (São Paulo), a pesquisa explora um tema interessante, de uma forma original e bastante produtiva, apesar de ter contado com um grupo experimental pequeno. “Comparar grupos de pessoas com hábitos diferentes foi uma boa estratégia. Acredito que poderiam ter usado um número de participantes maior, mas, mesmo assim, o experimento realmente mostrou que pessoas que já usam o computador possuem facilidade de visualização e de movimento”, declara.
O especialista acredita que isso se deve ao treinamento ao qual o cérebro é submetido ao realizar as atividades diárias relacionadas à máquina. “Quando realizamos uma atividade repetidas vezes, aquele movimento vai se repetindo no cérebro e fica ‘marcado’ nele. E isso é um exemplo de agilidade mental, que pode fazer diferença quando somos postos à prova, em outras atividades nas quais precisamos executar movimentos complexos”, complementa.
Braga acredita que o trabalho precisa de mais aprofundamento, para que, dessa forma, seja útil em pesquisas futuras, principalmente nas relacionadas à área médica. “Com trabalhos nessa linha, podemos conhecer e desvendar os mecanismos que fazem com que a resposta do cérebro a um movimento seja mais rápida que a resposta do corpo. Temos até um exemplo atual: muitas pessoas conseguem segurar e digitar em um celular apenas com uma mão, usando o polegar para teclar. É um hábito adquirido com o tempo. São mudanças desse tipo, adaptativas, que auxiliam na fisioterapia e que podem renovar tratamentos”, completa.
Jording adianta que o trabalho terá continuidade. Ele e sua equipe seguirão em busca de mais dados e novas descobertas na área de desenvolvimento mental. “O próximo passo lógico seria perguntar se podemos ter duas abordagens de treinamento do computador, com efeitos distintos nessa generalização de movimentos, pois assim poderemos aperfeiçoar futuras técnicas de aprendizagem”, adianta. “A grande questão no cenário clínico é se a reabilitação supervisionada pode levar à melhora funcional em casa. Assim, o próximo passo é ver como fazer essa generalização de movimentos ‘caseira’ ocorrer de forma mais eficaz.”
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