Quinhentos reais por mês para cada um deles é quantia que representa, como desfalque financeiro, o mesmo que 10 centavos de real para mim
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 23/02/2014
Modesto Araújo, Lúcio Costa, Mauro Tunes, José Eduardo Lanna Valle, Sebastião Bomfim, José Salvador Silva, Ricardo Nunes, Ricardo Guimarães, Rubens Menin e Saulo Wanderley são mineiros que, mercê de muitos anos de trabalho estrênuo, ficaram bem de vida. Há outros, mas esses 10 bastam para financiar o meu plano. Quinhentos reais por mês para cada um deles é quantia que representa, como desfalque financeiro, o mesmo que 10 centavos de real para mim: não por mês, mas por ano. Dez vezes R$ 500 são R$ 5 mil por mês, importância suficiente para bancar o Projeto Gislaine. Explico: Gislaine Rodrigues dos Santos nasceu na zona rural de Pavão, Vale do Mucuri, há 22 anos. É técnica de enfermagem no Hospital Felício Rocho, pesa 48 quilos e sabe ser a mais doce, dedicada, simpática, educada, carinhosa e bonita das mineiras, porque soma a beleza exterior com a interior. Casá-la, entupi-la de filhos e de estrias morando longe para sair de casa às quatro da manhã, não solucionaria os problemas dela, do Brasil ou da humanidade. Daí a ideia de um projeto que não representa, em dinheiro, absolutamente nada para cada um dos 10 mineiros e pode financiar os estudos da moça, permitindo que siga a carreira dos seus sonhos, que não sei qual é. Cada um dos 10 tem nas suas diversas empresas vários especialistas em RH. Para começar o Projeto Gislaine, sugiro que um dos RHs do Lúcio Costa se reúna com um dos RHs do Modesto Araújo, para entrevistar a pavoense ou pavonense e traçar os planos de assistência aos estudos e sobrevivência da mineirinha. De acordo com a Lei de Gerson – aquela do brasileiro que gosta de levar vantagem em tudo, certo? –, informo ao distinto público leitor que minha “vantagem”, no caso, é proporcionar a 10 mineiros a oportunidade de fazer o bem com 10 réis de mel-coado. Gislaine atendeu-me como enfermeira (e ser humano) meia dúzia de vezes em quatro dias de hospital. Foi só.
Justiça
No Rio de Janeiro, diante do grande número de assaltos no Bairro do Flamengo, um grupo de jovens pegou “suposto” ladrão e o amarrou a um poste. Suposto só para o jornal, que publicou foto colorida de primeira página do larápio amarrado ao poste e teve o cuidado de borrar o rosto do gatuno. Na Bahia, cena idêntica, desta vez com o focinho do ladrão à mostra. Escusado é dizer que o bom-mocismo midiático não se esqueceu de criticar as pessoas que amarraram os ladrões: teriam feito “justiça com as próprias mãos”. Homessa! Desde quando amarrar ladrão é crime? A polícia não pode estar em toda parte. A Justiça (inicial maiúscula quando usada em sentido absoluto) tarda e falha, sim, e muito. Se o cidadão tem condições de fazer justiça com as próprias mãos, sozinho, que faça. Quando em grupo, como no Rio e na Bahia, o uso de várias mãos também é perfeitamente justificável. Só não dá para entender que o cidadão e a cidadã comuns, que pagam impostos, trabalham e se comportam nos limites das leis e da ordem pública, corram o risco permanente de assalto na maioria das ruas da maioria das cidades brasileiras, mesmo pequenas. Pululam “supostos” ladrões e homicidas por aí e por aqui. Do jeito que está não dá para continuar: tenho dito. E o leitor fica me devendo a cidadã, que soa mal mas está dicionarizada.
O mundo é uma bola
23 de fevereiro de 1797: todos os detentores de bens da Coroa de Portugal e os herdeiros de morgados ou capelas passam a fazer o serviço militar no Exército ou na Marinha, sob pena de devolução dos bens. Em 1812, Napoleão Bonaparte renega a concordata com o papa. Não faço a mais mínima ideia dos termos da concordata de Napoleão com o papa, nem sei o nome do papa em 23 de fevereiro de 1812. Seria possível apurar sem que isso fosse de utilidade para mim e para o leitor. Portanto, deixemos Napoleão em paz, louvando seu entusiasmo pelos cheirinhos de Josefina, tanto assim que a dispensava dos banhos e de limpamentos outros na hora de ir ao leito. Em 1861, Abraham Lincoln chega secretamente a Washington para assumir a Presidência dos Estados Unidos, depois de sofrer um atentado fracassado em Baltimore. Desde aquele tempo os norte-americanos curtiam a mania de atentar contra os seus presidentes. Em 1905, denunciado em Portugal o contrato do monopólio do tabaco detido desde de 1891 pela companhia de Henri Burnay. A concessão foi renovada fixando-se a renda fixa de 6.250 contos de réis por 25 anos, sem hipótese de alteração. Lá, como cá, para renovar a concessão alguém deve ter levado algum por fora. Em 1911, os bispos portugueses contestam as medidas anticlericais da Primeira República: a expulsão das congregações, a Lei do Divórcio, a criação do Registro Civil e o fim do juramento religioso nos tribunais. Em 1919, Benito Mussolini funda o partido fascista italiano. Transcorridos 95 anos, todos os que discordam de nossas opiniões no Brasil são tachados de fascistas. Hoje é o Dia da Sedução, do Rotary, do Boticário e do Surdo-Mudo.
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