segunda-feira, 5 de novembro de 2012

CIÊNCIA » Mais perto das galáxias - Ailton Magioli‏

Cientistas internacionais definem, em breve, onde será instalado o grande observatório Cherenkov Telescope Array, com 150 telescópios. Chile e Argentina são cotados pelo seu posicionamento e geografia 

Ailton Magioli
ESTADO DE MINAS : 05/11/2012 

A carência de entendimento de fenômenos do universo, tais como os famosos buracos negros, o surgimento de novas estrelas e os planetas que podem ter características similares às da Terra, entre outros, inspirou a criação do Cherenkov Telescope Array (CTA), previsto para entrar em operação em 2015. Projeto coletivo que envolve a participação de cientistas de 27 países, incluindo Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Itália, Portugal, Argentina e México, o grande observatório CTA será instalado simultaneamente nos hemisférios norte e sul, com destaque para o segundo, diante da visibilidade privilegiada que se tem do centro da galáxia daqui. 

“O CTA tem motivação em ciência básica. Não se trata de um investimento científico, que vise aplicação tecnológica imediata. O objetivo é entender os vários fenômenos do universo que a gente ainda não compreende, cujos mensageiros são os raios gamas”, esclarece o professor Luiz Vitor de Souza, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). Segundo admite, dentro do conceito raios gama está toda a radiação de mais alta energia que se conhece.
Ao lado de Marcelo Augusto Leigui de Oliveira, da Universidade Federal do ABC; Ronald Cintra Shellard, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas; Elisabete de Gouveia Dal Pino, Grzegorz Kowal, Claudio Melioli, Ivone Freire Mota Allbuquerque e Carlos Jose Todero Peixoto, esses todos da USP; João de Mello Neto e Edivaldo Moura Santos, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro; e Gustavo Rojas, da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Vitor de Souza integra o seleto grupo brasileiro que participará do arrojado projeto, cuja construção está sendo cogitada para ficar na Argentina, Namíbia e, mais recentemente, Chile, Estados Unidos e Ilhas Canárias.

Conforme lembra o professor da USP, atualmente existem apenas três observatórios do gênero no mundo: um nos Estados Unidos, um nas Ilhas Canárias e um na Namíbia. “São todos do mesmo tipo, mas operam no máximo com quatro telescópios. No CTA serão 100 telescópios”, acrescenta Luiz Vitor, admitindo que o sucesso dos quatro atualmente em operação justifica a ampliação do número de telescópios no novo observatório. Ao todo, serão cerca de mil pesquisadores envolvidos em torno do CTA, o Brasil contribuindo com sete professores universitários, além de três pós-doutores. Posteriormente, de acordo com o professor, o país vai incorporar mais cinco ou seis estudantes do setor ao projeto internacional.

Enquanto a escolha dos locais para abrigar o CTA nos hemisférios norte e sul não é definida, a equipe de pesquisadores internacionais define detalhes do projeto. Já se sabe, por exemplo, que 100 telescópios estarão em atividade no sítio do hemisfério sul, enquanto outros 50 serão instalados no do hemisfério norte. “O céu que a gente enxerga no hemisfério norte não é o mesmo do hemisfério sul”, explica Luiz Vitor, para justificar o número diferente de telescópios nas duas regiões. “Para cobrir todo o universo são necessários os 150 que estarão em atividade no CTA”, esclarece.

Na opinião dele, a escolha da Argentina ou até mesmo do Chile, que teria entrado na disputa “um pouco tarde” para sediar o CTA no hemisfério sul, seria ideal para incentivar a participação brasileira no projeto. “O observatório tem de estar em lugar alto – cerca de 2,5 mil metros acima do nível do mar – em região seca, onde não chove, com atmosfera limpa, sem poluição ou luminosidade de cidade”, acrescenta o professor da USP. “O CTA poderá indicar vários avanços, nos dar vários elementos para entender fenômenos como a formação estelar, além do buraco negro”, avalia. 
Dentro das previsões, já no ano que vem deverá ser construído o sítio em que o Cherenkov Telescope Array (CTA) será instalado, com as obras de infraestrutura começando em 2014. “A perspectiva é de que no máximo em fins de 2014 ou início de 2015 os primeiros observatórios já estejam em funcionamento”, prevê Luiz Vitor. É comum que, durante as obras de construção de um observatório, se faça um rodízio de pesquisadores para acompanhamento da mesma. 
Foi a partir da constatação da necessidade de uma versão mais avançada dos maiores observatórios especializados em raios gama em atividade, atualmente, na Namíbia (H. E. S. S.), Ilhas Canárias (Magic) e Veritas (EUA) que os pesquisadores chegaram ao projeto do CTA. A informação é de Ronald Shellard, vice-diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), com sede no Rio. “Eles deram conta de que para um projeto mais ambicioso teriam de se juntar”, relata o pesquisador, admitindo que, além do interesse na ciência e física, o Brasil também pretende mobilizar a sua indústria para a fabricação de componentes do novo laboratório. Para isso, segundo Ronaldo Shellard, é preciso maior envolvimento da comunidade científica. 


 AusÊncia de mineiros no projeto 
 
A ausência de pesquisadores mineiros no projeto do CTA se deve ao fato de não haver no estado uma linha de pesquisa em raios gama. “Apenas esporadicamente usamos algum dado obtido nessa faixa de espectro”, justifica Renato Las Casas, professor do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gearis, que também coordena o Observatório Astronômico Frei Rosário, que a instituição de ensino mantém na Serra da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No entanto, Las Casas reconhece o grande salto que a astronomia observacional está dando com a implantação plena do CTA. “Não apenas será um grande salto quantitativo, em termos de área de antena (capacidade de recepção), mas também em novas tecnologias usadas com grande ganho de sensibilidade e análise dos dados obtidos.”

Raios gama ainda são mistério
 
Objetos de estudo do Cherenkov Telescope Array (CTA), os raios gamas ainda são um mistério para a ciência, em especial quanto a sua geração. Luiz Vitor de Souza recorda que a radiação é dividida em intervalos, havendo uma classificação para cada intervalo. “A radiação raio-x é produzida em um intervalo, a ultravioleta em outro e o raio gama é outra dessas divisões”, explica o pesquisador da USP São Carlos, salientando que tudo que esteja acima da terra são raios gama, também encontrados em alguns elementos radioativos. “O Sol emite radiação gama”, acrescenta ele, observando que o solo tem elementos radiativos, com raios gama de energia mais baixa. “A questão é entender como esses raios são produzidos com tão alta frequência, quais são as consequências deles sobre o ser humano. Em princípio, sabe-se que o raio gama que vem de fora da Terra não traz nenhuma consequência para nós, enquanto o gerado em reatores nucleares provoca o câncer. A ameaça mais recente nessa área ocorreu há dois anos, quando houve o acidente nuclear em Fukushima, no Japão.

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