Saúde e envelhecimento
Estreio hoje este espaço com o tema envelhecimento, totalmente oposto ao que me dediquei durante mais de uma década no meu blog no UOL (fertilidade, reprodução, nascimentos).
É proposital. O Brasil está envelhecendo numa velocidade jamais vista na história das sociedades mais desenvolvidas. A França, por exemplo, demorou mais de um século para ver sua população idosa saltar de 7% para 14%.
Aqui, essa mesma variação demográfica ocorrerá já nas próximas duas décadas (2011-2031). Em números absolutos, a população idosa vai mais do que triplicar, passando dos atuais 20 e poucos milhões para 65 milhões em 2050.
O curioso é que entra governo e sai governo e não se vê nenhuma política pública consistente no sentido de preparar o país para a mudança drástica na estrutura etária, que resultará em maiores pressões e desafios fiscais sobre o sistema público de saúde (e a Previdência, é claro).
Os idosos vão viver mais, terão múltiplas doenças crônicas, que vão demandar uma maior utilização dos serviços de saúde, cujos custos são insustentáveis.
Analistas do setor, como o professor Renato Veras (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), dizem que o tamanho desse aumento dos gastos com a população idosa dependerá essencialmente da qualidade desse processo de envelhecimento. Seremos idosos saudáveis ou enfermos dependentes?
Se a meta for a primeira opção, será necessário reajustar a organização dos sistemas de saúde (público e privado) para esse novo cenário, levando em conta (e a sério) a promoção da saúde e a manutenção da capacidade funcional dos idosos pelo maior tempo possível.
O conceito atual de envelhecimento saudável não é uma vida livre de doenças (dificilmente estaremos livres delas), mas sim a capacidade de manter as habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida independente. Sabe aquela avozinha que aos 90 e poucos anos anda, toma banho e se alimenta sozinha? Esse é o objetivo.
ENVELHECIMENTO ATIVO
Um primeiro passo (ainda tímido, mas bem vindo) foi dado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) no ano passado, com uma resolução que incentiva a participação de usuários de planos de saúde em programas de envelhecimento ativo, com a possibilidade de descontos nas mensalidades.
A ideia é que as operadoras se pautem mais pela prevenção em vez do foco exclusivo no tratamento das doenças.
Vários países vêm adotando programas de saúde focados na prevenção, visando um envelhecimento mais saudável. Um do mais conceituados é o da seguradora PruHealth, no Reino Unido. Lá, os segurados recebem benefícios financeiros para deixarem seus carros parados e caminharem, usando o pedômetro com monitor cardíaco.
Os segurados também conseguem descontos na compra de frutas e legumes em uma rede de supermercados e recebem incentivo financeiro para a prática de exercícios físicos em academias. Por fim, adotando um estilo de vida mais saudável, podem ainda ter desconto no valor da apólice do seguro.
Apesar dos questionamentos sobre a real eficácia dos estímulos financeiros para cuidar da saúde (os resultados serão duradouros?), algo precisa ser feito no Brasil. E logo.
A começar pela forma com que alguns planos de saúde ainda tratam os idosos, dificultando a adesão deles em suas carteiras, impondo preços exorbitantes ou vetando procedimentos e tratamentos.
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E por falar em envelhecimento ativo, está em cartaz o filme francês "E se Vivêssemos Todos Juntos?", de Stéphane Robelin, que trata sobre o tema com muita delicadeza e propriedade. Eu e minha mãe, dona Regina, 76, uma idosa pra lá de ativa, recomendamos!
Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações". Escreve às quartas, no site.
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