ANÁLISE
MINXIN PEI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma transição de liderança representa uma oportunidade para mudanças em qualquer regime. A China não constitui exceção.
Mas dos sete homens escolhidos para integrar o Comitê Permanente do Politburo, o órgão mais poderoso da China, a maioria é formada por "apparatchiks" conservadores. Dois candidatos reformistas não conseguiram ser selecionados.
O único líder com histórico de gestão econômica, Wang Qishan, foi promovido. Mas, em razão de disputas políticas internas, Wang virou chefe da agência anticorrupção do partido, em vez de ser o vice-premiê executivo.
As implicações são enormes. A hegemonia no Comitê Permanente dos conservadores e "apparatchiks" avessos a correr riscos jogou por terra as esperanças dos liberais e empreendedores privados chineses de que a nova liderança adote medidas políticas e sociais progressistas.
Com isso, podemos prever a radicalização das forças moderadas e a intensificação adicional do conflito entre Estado e sociedade.
Ao mesmo tempo, a comunidade empresarial internacional vem rezando para que os novos líderes adotem medidas pró-mercado para reduzir a atuação do Estado, liberalizar mercados e descartar o capitalismo de Estado.
Muitas das reformas vistas como essenciais para manter o crescimento provavelmente não farão parte da agenda desta liderança conservadora. O que preocupa a comunidade empresarial, na China e fora dela, é que a nova liderança é muito fraca em termos de gestão econômica.
A única pessoa que poderia inspirar confiança, Wang Qishan, terá pouco controle sobre a política econômica.
Como está previsto que a China enfrente uma crise séria nos próximos dois a três anos, provocada pelo acúmulo de dívidas impagáveis no sistema bancário, uma bolha imobiliária, a ausência de novos motores de crescimento e a enorme capacidade excedente, a nova liderança, aparentemente, não conta com talentos para administrá-la.
O que o resultado da transição de liderança revela é que os governantes da China hoje estão muito mais interessados em proteger seus interesses particulares do que preocupados com o bem-estar coletivo do país.
Lealdades políticas e trocas de favores estão por trás dos nomes escolhidos.
A única boa notícia a sair da transição é que o presidente e chefe do partido anterior, Hu Jintao, deixou de controlar as Forças Armadas -um precedente histórico.
Isso vai possibilitar que o novo líder chinês, Xi Jinping, consolide seu poder mais fácil e rapidamente.
Mas, no panorama maior, esse talvez não passe de um detalhe de pouca importância. Se a orientação da liderança é conservadora, a China corre o risco de perder mais uma década de reformas.
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