HÉLIO SCHWARTSMAN
O futuro da China
SÃO PAULO - Minha sensação ao ler o noticiário sobre a sucessão chinesa e dar com termos como Politburo, Comitê Central e Congresso do Partido Comunista é a de ter entrado num túnel do tempo. Não obstante, não há nada mais moderno que a nova China e o papel crescente que desempenha na economia global. Quão grave é a contradição?Nos próximos anos e décadas, assistiremos de camarote a um interessante experimento natural. A China conseguirá consolidar-se como uma potência econômica mantendo estruturas políticas opacas e autoritárias? Uma tese de crescente popularidade na academia americana é a de que o crescimento sustentável no longo prazo só é possível quando as instituições políticas de um país são inclusivas e seus cidadãos gozam de liberdade suficiente para decidir onde alocarão seu tempo e recursos.
Isso não ocorreria por capricho da mão invisível, mas pelo fato de que a manutenção de uma prosperidade duradoura depende de um fluxo constante de inovações e ganhos de produtividade. Riqueza é, em última instância, novas ideias -e pessoas dispostas a pagar para utilizá-las.
Se essa teoria é correta, ou bem Pequim promoverá algum tipo de abertura, ou o milagre econômico chinês irá soçobrar. Os economistas Daron Acemoglu (MIT) e James Robinson (Harvard), autores de "Why Nations Fail" (por que nações fracassam), consideram a segunda hipótese mais provável. Para eles, oligarquias como a que dirige o país raramente abrem mão de poder e não ousam colocá-lo em risco. Tendem a fazê-lo apenas quando não há alternativa. Elas, afinal, são as beneficiárias das instituições excludentes, do que dá prova a fortuna calculada em US$ 2,7 bilhões amealhada pela família do premiê Wen Jiabao, segundo reportagem do "New York Times".
A análise da dupla faz sentido, mas há uma grande diferença entre fazer sentido e estar correta, e isso só o futuro dirá.
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