Viva com ócio e por mais tempo
TOM HODGKINSON
DO "GUARDIAN"
Uma sensação de deleite acometeu os adeptos do ócio quando lemos que o homem mais velho do Reino Unido --Reg Dean, de 110 anos, morador de Derbyshire-- atribuiu sua longevidade ao fato de ser preguiçoso. Não sou biólogo, mas parece fazer muito sentido que as vidas vividas com mais calma, além de serem mais prazerosas, sejam longas. Basta pensar na tartaruga como um exemplo do mundo animal a comprovar essa teoria.
A ideia de que a preguiça pode fazer bem à saúde não é especialmente bem recebida numa era em que os britânicos ociosos são criticados por políticos que louvam a "família que trabalha arduamente", enquanto escolas e embalagens de cereais enaltecem "estilos de vida saudáveis". Enquanto isso, fomos obrigados a assistir ao desfile do ideal olímpico, com paradas de atletas de alta performance provocando sentimentos de culpa em nós, indolentes. A vida ativa é o modelo dominante no qual, supostamente, devemos todos nos enquadrar.
Andrew McCaren/Divulgação | ||
Reg Dean, o homem mais velho do Reino Unido, atribui sua longevidade ao fato de ser preguiçoso |
Mas a vida ativa é repleta de estresse. Ela impõe pressões enormes a nossos corpos. Muitas horas diárias de trabalho no escritório geram ansiedade, depressão e até mesmo colapsos nervosos. E um excesso de atividade física pode ser perigoso: quatro homens morreram em setembro enquanto participavam da meia-maratona Great North Run.
A ociosidade funciona. E a maneira mais fácil de incorporar os benefícios saudáveis dela em sua vida é simplesmente tirar uma soneca. Um estudo conduzido em 2007 com 23.681 adultos gregos concluiu que aqueles que faziam uma sesta diária viviam mais. Os adeptos sistemáticos da sesta tinham chance 37% menor de mortalidade coronariana.
Imagino, porém, que esse hábito grego benéfico à vida tenha virado alvo de críticas dos supostamente laboriosos alemães, que, tem-se a impressão, devem estar incentivando os gregos a trabalhar mais em troca dos empréstimos recebidos após o colapso financeiro recente.
A razão pela qual a ociosidade raramente é promovida como opção de vida é simples: o dinheiro. Há fortunas a serem feitas com estilos de vida ativos. Academias de ginástica cobram mensalidades. Mas ninguém ganha dinheiro com o sono. Não se paga para dormir. Quem pagaria por uma campanha de anúncios em outdoors dizendo: "Cansado? Tire um cochilo."
Contudo, acredite se quiser, há alguns sinais animadores visíveis no mundo corporativo. Ariana Huffington, do "Huffington Post", é proponente dos cochilos; ela teria comentado que "é melhor tirar um cochilo que devorar um donut". Eu acrescentaria que é melhor tirar uma soneca que tomar uma xícara de café. As sonecas corporativas são incentivadas por serem vistas como algo que promove a produtividade, de modo que talvez devêssemos hesitar em endossá-las, mas dormir mais é uma coisa positiva, mesmo quando beneficia o crescimento da economia capitalista.
Cuidar do jardim e exercitar o intelecto são formas de ociosidade que ganharam respeitabilidade com o passar do tempo. Afinal, foi Aristóteles quem dizia que a "vita contemplativa" --uma vida com tempo suficiente para refletir sobre as coisas essenciais-- tinha mais probabilidade de levar à realização que a vida do mercador agitado ou do político em busca de honra. E o sábio Epicuro aconselhava o afastamento da vida nas cidades e o cultivo do jardim como caminho para encontrar o que chamava de "estado de não perturbação".
Esses ideais gregos antigos estão presentes num folheto recente de um "think tank", a fundação New Economics, intitulado "National Gardening Leave" (Licença Nacional para Jardinagem), cujo subtítulo atraente é "por que a Grã-Bretanha estaria melhor se todos passássemos menos tempo no escritório".
Os autores do folheto defendem a adoção da semana de trabalho de quatro dias, que permitiria uma distribuição mais equitativa do trabalho disponível e proporcionaria às pessoas mais tempo para ficarem sem fazer nada em especial.
Ainda não está convencido? Vá dormir e veja o que você pensa amanhã.
Tradução de CLARA ALLAIN
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