"Teve ainda uma atuação incisiva a favor das mulheres"
Maria Esther Maciel
Estado de Minas: 20/11/2012
Já escrevi, nesta coluna, sobre a santa alemã Hildegarda de Bingen, uma das mulheres mais impressionantes da Idade Média. Para quem não ainda não a conhece, explico que viveu no século 12 e que, além de monja e teóloga, foi também escritora, compositora, pintora, médica e profetisa respeitada. Suas visões a tornaram célebre não apenas no século em que viveu, mas também nos seguintes. Suas 77 sinfonias, de estilo semelhante ao gregoriano, são magníficas. E seus vários livros ganham, cada vez mais, traduções em diferentes países. Teve ainda uma atuação incisiva a favor das mulheres, e com suas ideias firmes e inovadoras, abalou as estruturas do poder clerical de seu tempo.
O que a traz de volta aqui não é apenas o meu vivo fascínio por sua figura, mas um fato ocorrido em outubro deste ano: oito séculos após sua morte, ela foi, finalmente, canonizada e reconhecida como Doutora da Igreja, título antes atribuído a apenas três mulheres: santas Teresa de Ávila, Catarina de Siena e Teresa de Lisieux. Confesso que quando li essa notícia fiquei bastante surpresa, pois não sabia que ela ainda não tinha sido oficialmente reconhecida como santa e doutora, apesar do culto a ela que já existe há muito tempo, sobretudo na Europa.
Quem me falou pela primeira vez em santa Hildegarda foi uma amiga portuguesa, Ana Marques Gastão, que me indicou alguns livros dela e sobre ela. Comecei pela leitura de uma ótima biografia escrita por Régine Pernoud, já traduzida no Brasil. Depois, li um romance baseado em sua vida, intitulado Música escarlate, de autoria da americana Joan Ohanneson. É uma obra interessante e envolvente, embora sem grande apuro literário. Foi publicado no Brasil em 1999, pela Editora Mandarim, e vale como iniciação à vida e ao trabalho da monja beneditina. Soube que saiu, por agora, um outro romance, Illuminations (Iluminações), também de uma escritora americana, Mary Sharratt. Para não falar nas dezenas de livros acadêmicos e teológicos sobre a santa, editados em diferentes países nos últimos anos. Como se vê, Hildegarda vem se tornando cada vez mais conhecida e amada, o que certamente contribuiu para seu reconhecimento oficial em 2012.
No mundo da literatura, os santos sempre despertaram o interesse dos escritores. As histórias de suas vidas são, em geral, um estímulo à imaginação e aos voos criativos de autores de diferentes linhagens. Gustave Flaubert, por exemplo, escreveu As tentações de Santo Antão e o conto “São Julião hospitaleiro”, além de incursionar na história de São João Batista. Já Eça de Queirós dedicou-se, no fim da vida, ao Dicionário de milagres e lendas de santos, editado postumamente. E Maria Gabriela Llansol, escritora portuguesa contemporânea, incluiu diversos santos e santas em seus escritos poético-ficcionais.
Creio que Hildegarda de Bingen ainda será personagem de muitos outros romances. Sua vida excepcional merece ser recontada e reinventada; e seus livros de medicina, teologia e literatura merecem ser traduzidos no Brasil. Que essa canonização tardia possa, pelo menos, torná-la mais conhecida por aqui.
Dedico esta crônica a Lúcia Helena Monteiro Machado, que é admiradora de santa Hildegarda e me emprestou um belo filme da BBC sobre ela.
O que a traz de volta aqui não é apenas o meu vivo fascínio por sua figura, mas um fato ocorrido em outubro deste ano: oito séculos após sua morte, ela foi, finalmente, canonizada e reconhecida como Doutora da Igreja, título antes atribuído a apenas três mulheres: santas Teresa de Ávila, Catarina de Siena e Teresa de Lisieux. Confesso que quando li essa notícia fiquei bastante surpresa, pois não sabia que ela ainda não tinha sido oficialmente reconhecida como santa e doutora, apesar do culto a ela que já existe há muito tempo, sobretudo na Europa.
Quem me falou pela primeira vez em santa Hildegarda foi uma amiga portuguesa, Ana Marques Gastão, que me indicou alguns livros dela e sobre ela. Comecei pela leitura de uma ótima biografia escrita por Régine Pernoud, já traduzida no Brasil. Depois, li um romance baseado em sua vida, intitulado Música escarlate, de autoria da americana Joan Ohanneson. É uma obra interessante e envolvente, embora sem grande apuro literário. Foi publicado no Brasil em 1999, pela Editora Mandarim, e vale como iniciação à vida e ao trabalho da monja beneditina. Soube que saiu, por agora, um outro romance, Illuminations (Iluminações), também de uma escritora americana, Mary Sharratt. Para não falar nas dezenas de livros acadêmicos e teológicos sobre a santa, editados em diferentes países nos últimos anos. Como se vê, Hildegarda vem se tornando cada vez mais conhecida e amada, o que certamente contribuiu para seu reconhecimento oficial em 2012.
No mundo da literatura, os santos sempre despertaram o interesse dos escritores. As histórias de suas vidas são, em geral, um estímulo à imaginação e aos voos criativos de autores de diferentes linhagens. Gustave Flaubert, por exemplo, escreveu As tentações de Santo Antão e o conto “São Julião hospitaleiro”, além de incursionar na história de São João Batista. Já Eça de Queirós dedicou-se, no fim da vida, ao Dicionário de milagres e lendas de santos, editado postumamente. E Maria Gabriela Llansol, escritora portuguesa contemporânea, incluiu diversos santos e santas em seus escritos poético-ficcionais.
Creio que Hildegarda de Bingen ainda será personagem de muitos outros romances. Sua vida excepcional merece ser recontada e reinventada; e seus livros de medicina, teologia e literatura merecem ser traduzidos no Brasil. Que essa canonização tardia possa, pelo menos, torná-la mais conhecida por aqui.
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Dedico esta crônica a Lúcia Helena Monteiro Machado, que é admiradora de santa Hildegarda e me emprestou um belo filme da BBC sobre ela.
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