Ailton Magioli
Estado de Minas: 20/11/2012
O “artista estrela” e o gênio incompreendido, definitivamente, perderam espaço na música brasileira. O aviso vem do compositor Romulo Froes, de 41 anos, um dos destaques da cena contemporânea. “A nova geração tem uma relação íntima com a gravação e a produção da própria obra”, detecta o paulistano, convidado de hoje do projeto Retratos de artista: Molduras do Pensamento, promovido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Esta tarde, no Câmpus Pampulha, Romulo vai falar sobre os novos caminhos da música popular brasileira. Além de revelar um pouco de sua experiência solo, com quatro discos lançados, ele abordará a trajetória do grupo Passo Torto, com o qual gravou um CD. Filho de mãe mineira e de pai baiano, Romulo Froes, primogênito de família formada na Zona Norte paulista, mora atualmente na Bairro Pompeia. “Sou um legítimo filho de migrantes”, diz, contando que um primo acabou o apelidando de “ser sem raça”, devido à formação mineiro-baiana.
Apresentador do programa Cada canto, no Canal Brasil, Romulo Froes não esconde o apreço por reunir pessoas para discutir MPB. Ele também escreve em blogs e revistas acadêmicas e se tornou uma espécie de porta-voz de sua geração na seara até então ocupada por José Miguel Wisnik, Arthur Nestrovski e Luiz Tatit, cujas aulas-shows são programa imperdível para quem quiser se inteirar a respeito do propalado “fim da canção”.
CAMINHOS Identificada por Romulo na virada dos anos 1990 para 2000, a chamada nova geração da música brasileira, segundo ele, não é detentora de nenhuma exclusividade. “Ela persegue caminhos comuns a qualquer outra geração. Mais importante é a relação íntima com a gravação e a produção de seu trabalho”, ressalta. O compositor chama a atenção para um novo comportamento: não há mais espaço para astros e gênios incompreendidos, pois é possível gravar discos em casa.
Em função dessa nova realidade, a obra dessa turma apresenta peculiaridades. “O tratamento sonoro que influencia a canção não tem cara muito determinada. Não dá para ouvir a música deles e dizer: isso é samba, isso é rock, isso é MPB, o que tem a ver com a intimidade com o meio”, afirma Romulo. Tal situação foi imposta a essa geração pela crise da indústria fonográfica. “Não ter um mercado regulador acabou contribuindo para gerar música diferente e misturada”, acredita o compositor.
Na opinião dele, atualmente é difícil identificar o estilo de um artista. “Que ligação têm, por exemplo, Criolo, Tulipa Ruiz, Rodrigo Campos, Tatá Aeroplano (líder das bandas Cérebro Eletrônico e Elektro) e Cidadão Instigado?”, questiona. Romulo identifica a aproximação de todos esses nomes, seja de ordem geracional, pela postura em relação ao som ou a forma como discos são produzidos. “Há um comportamento que os une”, justifica.
Esta tarde, no Câmpus Pampulha, Romulo vai falar sobre os novos caminhos da música popular brasileira. Além de revelar um pouco de sua experiência solo, com quatro discos lançados, ele abordará a trajetória do grupo Passo Torto, com o qual gravou um CD. Filho de mãe mineira e de pai baiano, Romulo Froes, primogênito de família formada na Zona Norte paulista, mora atualmente na Bairro Pompeia. “Sou um legítimo filho de migrantes”, diz, contando que um primo acabou o apelidando de “ser sem raça”, devido à formação mineiro-baiana.
Apresentador do programa Cada canto, no Canal Brasil, Romulo Froes não esconde o apreço por reunir pessoas para discutir MPB. Ele também escreve em blogs e revistas acadêmicas e se tornou uma espécie de porta-voz de sua geração na seara até então ocupada por José Miguel Wisnik, Arthur Nestrovski e Luiz Tatit, cujas aulas-shows são programa imperdível para quem quiser se inteirar a respeito do propalado “fim da canção”.
CAMINHOS Identificada por Romulo na virada dos anos 1990 para 2000, a chamada nova geração da música brasileira, segundo ele, não é detentora de nenhuma exclusividade. “Ela persegue caminhos comuns a qualquer outra geração. Mais importante é a relação íntima com a gravação e a produção de seu trabalho”, ressalta. O compositor chama a atenção para um novo comportamento: não há mais espaço para astros e gênios incompreendidos, pois é possível gravar discos em casa.
Em função dessa nova realidade, a obra dessa turma apresenta peculiaridades. “O tratamento sonoro que influencia a canção não tem cara muito determinada. Não dá para ouvir a música deles e dizer: isso é samba, isso é rock, isso é MPB, o que tem a ver com a intimidade com o meio”, afirma Romulo. Tal situação foi imposta a essa geração pela crise da indústria fonográfica. “Não ter um mercado regulador acabou contribuindo para gerar música diferente e misturada”, acredita o compositor.
Na opinião dele, atualmente é difícil identificar o estilo de um artista. “Que ligação têm, por exemplo, Criolo, Tulipa Ruiz, Rodrigo Campos, Tatá Aeroplano (líder das bandas Cérebro Eletrônico e Elektro) e Cidadão Instigado?”, questiona. Romulo identifica a aproximação de todos esses nomes, seja de ordem geracional, pela postura em relação ao som ou a forma como discos são produzidos. “Há um comportamento que os une”, justifica.
CAETANO Romulo Froes gosta de usar o exemplo de Caetano Veloso ao se referir à nova música brasileira. Para o paulistano, o cantor e compositor baiano mudou desde a criação da banda Cê, que o acompanha nos últimos discos e shows.
“O guitarrista Pedro Sá é responsável pela nova guinada na carreira de Caetano Veloso. Há algo nos novos discos dele que pertence à nova geração”, garante Romulo, para quem o baiano foi o único nome da nata da MPB que aderiu a esse novo som. “Esse sempre foi o comportamento dele”, diz o compositor, lembrando que a nova fase do tropicalista culminou em Recanto, o último CD de Gal Costa, que ele considera obra-prima.
“Recanto tem a ver com a relação de Caetano Veloso com Gal. Ele sempre puxou essa geração. É mais fácil identificar isso no trabalho dele que no de outras pessoas”, conclui Romulo Froes. Para o compositor paulistano, a nova música brasileira apresenta como característica marcante o forte processo de colaboração.
“Não se trata de movimentos. O Curumin, por exemplo, toca bateria comigo, que escrevi para o disco dele, e também toca trabalha o Rodrigo Campos”, exemplifica Romulo. Essas parcerias também se dão por uma questão de sobrevivência. “Não precisamos entrar naquele esquema de ter de tocar com grandes estrelas por causa dos grandes cachês”, resume.
Em São Paulo, as condições para a cena musical independente têm se mostrado cada vez mais promissoras. “Como o passar dos anos, tudo melhorou. Se antes eram poucos os lugares para tocar, eles aumentaram”, revela Romulo, atribuindo esse quadro à constante publicação de editais públicos e aos festivais. “Quem começa agora encontra um terreno mais brando que o de 15 anos atrás”, compara Romulo Froes.
Quando iniciou sua carreira, Froes se via diante de duas alternativas: ou o músico pertencia à indústria ou não sobrevivia. “Quem persistiu está começando a colher frutos”, comemora o compositor. E observa: ele próprio está de volta a Belo Horizonte para fazer palestra, este ano, depois de se apresentar na Funarte MG. “Nessa cena há casos de sucesso, como os de Tulipa Ruiz, Criolo e Marcelo Jeneci. Por causa deles, outros virão. Uns vão puxando o fio para os outros”, comemora.
RETRATOS DE ARTISTA: MOLDURAS DO PENSAMENTO
Palestra do compositor Romulo Froes. Hoje, às 14h. Auditório Sônia Viegas, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), no câmpus da UFMG. Avenida Antônio Carlos, 6.627, Pampulha. Entrada franca.
NA TV
No programa Cada canto (Canal Brasil), Romulo Froes apresenta os integrantes da nova cena musical paulistana. A atração vai ao ar aos domingos, às 20h30, com reprises às segundas-feiras (17h45) e aos sábados (10h30). A primeira temporada, exibida desde outubro, reúne 13 episódios, que abordam a relação dos músicos com a capital de São Paulo. “Tenho um pouco o sentimento de querer pensar a minha geração, de querer refutar a acusação de que a MPB hoje é pior”, explica Romulo.
TRÊS PERGUNTAS PARA
ROMULO FROES
Compositor
Qual é o seu disco preferido?
Clube da Esquina, que ouvi até furar. O outro é Transa, de Caetano Velos, que acabei de recriar na íntegra em show.
Que compositores você admira?
Nelson Cavaquinho está sempre na minha cabeça. Planejo um disco com a obra dele para o ano que vem, pois me agrada muito aquele universo escuro do Nelson. A história do pobre, preto e bêbado da favela que vira rei. Esse artista transcende. Não é por acaso que gosto do Clube da Esquina, daquela melancolia toda, da coisa sofrida.
De que intérpretes você gosta?
Caetano Veloso. Isso para não dizer do maior de todos: João Gilberto, o nosso guia, que fez o Brasil cantar. João Gilberto é o Pelé da música, mas Caetano é o farol – minha geração está presente nos três últimos discos dele, nos quais canta diferente.
DISCOGRAFIA
Solo:
>> Calado, 2004
>> Cão, 2006
>> No chão sem o chão (duplo), 2009
>> Um labirinto em cada pé, 2011
Em grupo:
>> Passo torto, 2011
“O guitarrista Pedro Sá é responsável pela nova guinada na carreira de Caetano Veloso. Há algo nos novos discos dele que pertence à nova geração”, garante Romulo, para quem o baiano foi o único nome da nata da MPB que aderiu a esse novo som. “Esse sempre foi o comportamento dele”, diz o compositor, lembrando que a nova fase do tropicalista culminou em Recanto, o último CD de Gal Costa, que ele considera obra-prima.
“Recanto tem a ver com a relação de Caetano Veloso com Gal. Ele sempre puxou essa geração. É mais fácil identificar isso no trabalho dele que no de outras pessoas”, conclui Romulo Froes. Para o compositor paulistano, a nova música brasileira apresenta como característica marcante o forte processo de colaboração.
“Não se trata de movimentos. O Curumin, por exemplo, toca bateria comigo, que escrevi para o disco dele, e também toca trabalha o Rodrigo Campos”, exemplifica Romulo. Essas parcerias também se dão por uma questão de sobrevivência. “Não precisamos entrar naquele esquema de ter de tocar com grandes estrelas por causa dos grandes cachês”, resume.
Em São Paulo, as condições para a cena musical independente têm se mostrado cada vez mais promissoras. “Como o passar dos anos, tudo melhorou. Se antes eram poucos os lugares para tocar, eles aumentaram”, revela Romulo, atribuindo esse quadro à constante publicação de editais públicos e aos festivais. “Quem começa agora encontra um terreno mais brando que o de 15 anos atrás”, compara Romulo Froes.
Quando iniciou sua carreira, Froes se via diante de duas alternativas: ou o músico pertencia à indústria ou não sobrevivia. “Quem persistiu está começando a colher frutos”, comemora o compositor. E observa: ele próprio está de volta a Belo Horizonte para fazer palestra, este ano, depois de se apresentar na Funarte MG. “Nessa cena há casos de sucesso, como os de Tulipa Ruiz, Criolo e Marcelo Jeneci. Por causa deles, outros virão. Uns vão puxando o fio para os outros”, comemora.
RETRATOS DE ARTISTA: MOLDURAS DO PENSAMENTO
Palestra do compositor Romulo Froes. Hoje, às 14h. Auditório Sônia Viegas, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), no câmpus da UFMG. Avenida Antônio Carlos, 6.627, Pampulha. Entrada franca.
NA TV
No programa Cada canto (Canal Brasil), Romulo Froes apresenta os integrantes da nova cena musical paulistana. A atração vai ao ar aos domingos, às 20h30, com reprises às segundas-feiras (17h45) e aos sábados (10h30). A primeira temporada, exibida desde outubro, reúne 13 episódios, que abordam a relação dos músicos com a capital de São Paulo. “Tenho um pouco o sentimento de querer pensar a minha geração, de querer refutar a acusação de que a MPB hoje é pior”, explica Romulo.
TRÊS PERGUNTAS PARA
ROMULO FROES
Compositor
Qual é o seu disco preferido?
Clube da Esquina, que ouvi até furar. O outro é Transa, de Caetano Velos, que acabei de recriar na íntegra em show.
Que compositores você admira?
Nelson Cavaquinho está sempre na minha cabeça. Planejo um disco com a obra dele para o ano que vem, pois me agrada muito aquele universo escuro do Nelson. A história do pobre, preto e bêbado da favela que vira rei. Esse artista transcende. Não é por acaso que gosto do Clube da Esquina, daquela melancolia toda, da coisa sofrida.
De que intérpretes você gosta?
Caetano Veloso. Isso para não dizer do maior de todos: João Gilberto, o nosso guia, que fez o Brasil cantar. João Gilberto é o Pelé da música, mas Caetano é o farol – minha geração está presente nos três últimos discos dele, nos quais canta diferente.
DISCOGRAFIA
Solo:
>> Calado, 2004
>> Cão, 2006
>> No chão sem o chão (duplo), 2009
>> Um labirinto em cada pé, 2011
Em grupo:
>> Passo torto, 2011
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