SÃO PAULO - No pressuposto bastante razoável de que nem israelenses conseguirão eliminar os palestinos, nem palestinos serão capazes de empurrar os israelenses para o mar, os dois lados deveriam empenhar-se mais seriamente em buscar um "modus vivendi" menos letal.
As linhas gerais do acordo a que precisam chegar são conhecidas: dois Estados, um regime especial pelo qual Jerusalém possa ser a capital de ambos e uma solução negociada, provavelmente com base em indenizações, para a questão dos refugiados palestinos. Apesar da clareza do diagnóstico, faz seis décadas que tudo dá errado. Ninguém jamais perdeu dinheiro por ter apostado contra iniciativas de paz para a região.
Mesmo assim, a menos que imaginemos que o fim das hostilidades seja uma impossibilidade cósmica, é preciso explorar as alternativas que se abrem. E, hoje, a mais interessante delas é o novo governo egípcio, liderado pelo presidente Muhammad Mursi, da Irmandade Muçulmana.
O grupo tem fortes ligações com o Hamas. Ao mesmo tempo, Mursi não tem interesse em romper os acordos de paz com Israel. Depende disso para continuar recebendo os bilhões de dólares de ajuda que os EUA dão ao Egito e para manter o relativo equilíbrio com os militares, que ainda são a segunda força política no país.
No momento, a diplomacia egípcia está empenhada em negociar um cessar-fogo imediato. Se der certo, podemos imaginar a ampliação dos entendimentos para uma trégua permanente e daí quem sabe para uma situação em que o Hamas reconheceria claramente o direito de Israel à existência -a Irmandade, que é uma espécie de irmã mais velha já deu esse passo- obtendo em contrapartida o fim do embargo a Gaza. Não é a solução, mas seria um bom começo.
A novidade aqui é que a Irmandade, ao contrário do finado governo Mubarak, tem ascendência real sobre o Hamas e motivos para querer ver a disputa resolvida.
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